Bernardo e Abner

25: Reencontro

Já fazia pouco mais de cinco anos e meio que Abner se fora e seis anos desde a primeira vez em que se viram. Por um tempo, acreditava que a casa em que morou com sua mãe por um tempo fora a única ligação que restara com o seu jovem lobo-guará, mas a ligação estava em seu coração também.

Reencontrou George, seu antigo amigo, e percebeu que George poderia despertar essas lembranças novamente, ao mesmo tempo em que poderia seguir em frente com outra pessoa. Quem sabe até parasse de sentir a falta que Abner lhe causava.

Com o decorrer das semanas, trabalhou no carregamento dos materiais da empresa e, ao final da semana, os amigos do trabalho se juntavam para jogar bola. Lucas estava lá e o grande lobo branco também. Quando conseguiu um tempo para se aproximar, o lobo branco estava ao lado dele, com o braço ao redor dos ombros do guaxinim como se fossem melhores amigos.

― Ei ― Bernardo o chamou. ― Há quanto tempo?!

Fez um carinho na cabeça de Lucas e o lobo ficou de olho nesse gesto, mesmo que estivesse sorrindo.

― O que tem feito da vida? ― quis saber.

Lucas contou o que aconteceu, mas de forma bem resumida e rápida para que ninguém ali escutasse que ele e o lobo tinham alguma coisa. Bernardo notava, pela aliança na mão, que o guaxinim era casado com o lobo. Lucas falou que o lobo gostava de ser chamado de Lobão. Depois, falou do trabalho, o que fazia e onde fazia.

― Então você trabalha no lugar que antes só visitava ― resumiu Bernardo. ― Que dias fica aberto mesmo?

― De quarta a domingo ― informou. ― Recomendo quarta e domingo, pois são os dias que passa jogo na TV e vai muito macho para assistir.

― Todos...? ― Bernardo não completou a frase e deixou uma palavra em aberto que Lucas conseguiu captar qual era: gay.

Antes que Lucas pudesse responder, Lobão, que estava escutando a conversa e olhando para a TV, virou-se e respondeu para a surpresa dos dois. ― Sim! ― ele respondeu calmamente, com elegância e sorrindo. Ele era um lobo belo e maior que Lucas. O guaxinim parecia um adolescente alto perto de Lobão, que parecia um paizão cuidando de seu filho.

― A entrada é cara? ― questionou curioso, pois ficou interessado em ir, mas preocupava-se de ser muito caro, como uma festa de balada.

― É bem barato ― disparou o guaxinim, respondendo antes de Lobão. ― Trinta e cinco reais ― revelou. ― Parece salgado, mas pelas vantagens que você encontra lá dentro, sai barato ― Lucas estava falando como um negociante. ― Tem as saunas secas, a vapor, duas piscinas de água quente, um bar... além de outros serviços que você pode adicionar à entrada.

― Mas esses serviços não envolvem a entrada, não é?

― Não! ― confirmou o guaxinim. ― A entrada te permite as salas e as piscinas ― explicou. ― O restante é adicional e acrescentado à entrada.

― Pretendo ir lá ― revelou. ― Mas eu tinha essa dúvida.

Lobão mexeu no bolso da calça, tirou um cartão e o entregou a Bernardo. Era o cartão com o contato do estabelecimento e o endereço. O lobo branco sorriu para o urso e deu uma rápida farejada na cabeça do guaxinim. Depois os dois tornaram a olhar para a TV, assistindo às notícias do fim da tarde.

― Vejo você lá um dia desses ― falou o guaxinim, indo embora com o lobo ao lado e o braço enorme dele ao redor dos ombros de seu baixinho.

Isso o fez se lembrar de seu baixinho, seu lobo-guará. Abner era pouco mais baixo que ele e essa diferença de tamanho fazia com que seus corpos conseguissem se encaixar de formas diferentes. O beijo, o abraço, o sono... a foda. Mas ele era uma lembrança, não era? Já era um passado distante. Contudo, havia momentos que podiam desencadear essas memórias em sua mente, como o braço de um cara grande ao redor dos ombros de outro menor. Claro que a diferença de tamanho entre Bernardo e Abner existia, mas era mínima. Se Abner ficasse na ponta dos pés, por exemplo, já ficaria maior que Bernardo e, por alguma razão, quando o urso ficava na ponta dos pés para competir com o lobo-guará, ambos ficavam do mesmo tamanho.