3: Procurando emprego, junto

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Logo na manhã seguinte, ambos estavam sentados à mesa da cozinha da casa de Dona Benta, a mãe de Bernardo, comendo pão com manteiga e tomando café. A cozinha, apesar de pequena, acomodava os dois rapazes perfeitamente e ainda permitia que mais um urso transitasse, mas desde que fosse só um e o resto estivesse sentado.

Dona Benta tinha um capacete guardado em um cômodo onde guardava várias coisas e o emprestou a Abner para que ele mostrasse a Bernardo alguns lugares onde poderia entregar currículos para conseguir um emprego.

― Eu ainda estou vendo com meus contatos também ― informou a mãe. ― Eles vão vir à tarde. Ah, se você precisar também, Abner, é só deixar com eles.

Bernardo estava todo arrumado e Abner também. Estavam com roupas apresentáveis para o caso de entrarem em uma entrevista inesperada ao entregar o currículo. Apesar de raro, não era impossível.

O urso levantou-se e foi para o pátio interno da casa, o lobo-guará levantou-se da cadeira e o acompanhou. Dona Benta foi logo atrás, abrindo o portão enquanto Bernardo pegava a moto e a encaminhava para a saída. Abner ficou surpreso por estar de carona hoje. Dona Benta retornou para dentro da casa e foi buscar os capacetes, entregando-os a Abner, que seguiu Bernardo ao redor da casa até chegarem à frente dela. Dona Benta fechou o portão assim que saíram.

― Precisamos imprimir uns currículos antes ― lembrou Abner. ― Eu preciso imprimir alguns de novo, refazê-los e...

― Sem problema ― falou Bernardo, pegando o capacete na mão de Abner e colocando na cabeça. ― Vamos imprimir alguns e vamos atrás de algum emprego.

Eles foram a uma lan house, onde o atendente era uma lontra e montou o currículo de cada um conforme as especificações. Bernardo tinha muitas referências para colocar, muitas experiências pelo tempo de serviço que teve em sua vida. Abner, ao contrário, não tinha nenhum sequer.

Nada? ― assustou-se Bernardo. ― Vai ser muito difícil pra você, não vai?

Abner divagava em pensamentos de admiração por Bernardo. O quanto de experiência ele não teria, tanto profissional quanto pessoal? Ele era experiente em tudo basicamente. Ou quase.

― O que você sabe fazer? ― questionou o urso na tentativa de ajudar seu novo amigo.

Abner disse que sabia fazer uma coisa aqui, outra ali. Isso fazia com que o urso coçasse a cabeça e tivesse que usar a imaginação para preencher algumas lacunas ― no caso lacunas enormes. Bernardo pegou uma folha em branco e uma caneta que estavam no balcão e começou a escrever algumas coisas para acrescentar ao currículo de Abner.

― Vai mentir no meu currículo? ― o lobo-guará estava pasmo.

― Não vejo uma solução melhor ― falou o urso. ― Não são mentiras muito grandes, mas tudo isso aqui você sabe fazer com toda a certeza do mundo.

O urso lhe mostrou o papel com suas anotações. Mesmo que fossem marcados à caneta e não estivessem na estrutura exigida, já tinha qualificações melhores do que as que ele mesmo colocou no seu currículo e entregou no dia anterior. O lobo-guará sentiu-se envergonhado e deixou que o urso fizesse um para ele também.

Após imprimirem os papéis, voltaram à moto, onde Abner segurou os papéis enquanto Bernardo pilotava a moto. Não havia um ferro de apoio ao qual o lobo-guará pudesse se segurar, então, ele se segurava com um abraço de um braço em Bernardo.

Ao pararem na primeira empresa, o guardinha do portão de entrada reconheceu Abner. Bernardo ficou conversando por um tempo com o guardinha, onde ambos riram de alguma piada que o urso contou e depois ele e o lobo-guará voltaram à moto para continuarem a missão de conseguir um emprego. Em quase todas as empresas em que foram, os guardas dos portões de entrada reconheceram Abner, afinal, ele tinha entregado alguns currículos no dia anterior. O dia de hoje foi mais demorado que o de ontem pelo fato de Bernardo sempre puxar conversa com os guardas falando de futebol ou de alguma notícia que ouviu em algum lugar.

Bernardo e AbnerOnde histórias criam vida. Descubra agora