SARAH
Acordei fixando o branco do teto e um lustre maravilhoso. Me sentei na cama e passei as mãos em meu cabelo caindo na real, sobre tudo que me aconteceu nas últimas vinte e quatro horas.
— Meu Deus, e agora ? — Perguntei num sussurro pra mim mesma e logo ouvi batidas e a voz da Maria na porta.
Levantei rapidamente e destranquei a fechadura.
— Bom dia, Maria — Dei um sorriso e ela me olhou com amor.
— Bom dia — Sorriu. — A mesa já está posta, vamos ? Stephen me pediu para te buscar —
— Eu acabei de acordar. Vou usar o banheiro antes, pode ser ? — Perguntei simples e arrumei meu cabelo em um coque.
— Claro meu bem, te espero ok ? Tem escovas novas na segunda gaveta —
Quando voltei vi que a cama já estava arrumada e ela me esperava ao lado da porta.Pegou minha mão e foi me levando até onde o café estava sendo servido. Me entupiu com tudo que tinha na mesa e logo se retirou.
Eu mal tinha olhado para aquele homem, estava morrendo de vergonha.
— Bom dia, Sarah —
— B-bom dia —
— Então, Sarah. Eu estive pensando sobre oque te aconteceu, e também tenho uma coisa a te propor para poder ajudar —
Tomei um pouco de suco e o olhei pela primeira vez naquela manhã.
— Pode falar...— Parei oque estava fazendo e me arrumei na cadeira pra poder prestar melhor a atenção.
Por um momento fiquei receosa com a tal proposta e coloquei a mão na faca de pão discretamente ao lado do meu prato.
— Então...Eu seria um monstro se te deixasse voltar pra lá. Eu não vou acionar a polícia, quero dizer, não agora, mas aquele orfanato é bem conhecido, tenho certeza que nem a Madre superiora, muito menos os diretores gostariam que os nomes deles fossem expostos —Cruzou as mãos em cima da mesa de vidro e continuou me olhando.
— Eu tenho um casal de amigos que estão dispostos a adotarem em nome deles para depois vir pra mim, entendeu ?. Eles resolveram me ajudar, pois é difícil uma pessoa solteira adotar uma criança. Vamos ser sinceros, é estranho, mas eu não sou nenhum maldito maníaco, só quero poder ajudar alguém —
Parecia ser tudo verdade, mas mesmo assim, eu sentia medo do que viria.
— Normalmente, isso costuma demorar muito, mas, com esse ocorrido, eu consigo fazer junto com meus advogados que você vá para a casa do Rogério e da Marina. Melhor dizendo, vir pra cá, hoje mesmo, entendeu ?
Isso é muito grave, muito mesmo, ele não chegou a consumar nada, mas mesmo assim, é grave. Sabe Deus há quanto tempo ele faz isso sem você ver, e também quem sabe se você é a única ? Podem ter meninas ali sofrendo coisa pior —— Okay, minha cabeça rodou por uns instantes, mas entendi. Só que depois que eu vir pra cá. Oque eu vou fazer ? Vou ficar como sua filha ? Isso tá esquisito, não acha não ? — Soltei a última parte ríspida.
Ele arqueou uma das sobrancelhas e eu cruzei os braços sentindo meus músculos tencionarem.
— Sim, realmente é um pouco estranho como eu já disse. Mas eu sempre quis adotar uma criança de colo, como a Lia, a menininha que estava com você ontem.
Então, como você vai ficar como filha desse casal no papel...eu te ofereço um trabalho. Você continua seus estudos sem problema algum e trabalha aqui. Estou precisando de outra doméstica, não vai fazer nada pesado, é só arrumar as camas, lavar uma louça, essas coisas —Bebeu um pouco do café em sua xícara.
— O dia que Maria estiver de folga, você fica sob direção. Vai ter um quarto e também alimento, assim que fizer seus dezoito anos e se quiser, eu assino sua carteira de trabalho e você pode alugar uma casa ou um kitnet, ou continuar aqui sem problema algum, oque acha ? —
— Tem total certeza do que está me propondo ? Tem total certeza que posso acreditar em tudo que me disse ? —Respirei fundo e passei as mãos em meu rosto. Era um tiro no escuto, só que ou eu aceitava ou ia pra rua. Essa era uma boa oportunidade e também conseguiria dinheiro pra minha faculdade.
— Tá, tá bom, eu topo. Eu estou confiando inteiramente em você, não tenho outra alternativa eu sei. Mas espero estar fazendo o correto —
— Tenho consciência que é tudo muito estranho, mas sei que logo vai se acostumar —
Abriu uma garrafa de vidro do que parecia ser Whisky, pegou um copo limpo, o encheu e virou de uma vez. Apenas balançou a cabeça e mexeu nos bolsos tirando um celular.Digitou pra alguém e levou os olhos aos meus, ainda espantados por seu ato.
— Bom, já avisei eles. Assim que você terminar seu café da manhã, nós vamos com você, tá bom ? Poderá pegar todas as suas coisas, e vou pedir a Maria para que arrume o quarto onde vai ficar —
Concordei e logo o casal chegou, fui até o carro deles acompanhada por Stephen e fomos ao orfanato.
Assim que pararam o carro nós saímos e outro automóvel parou atrás. Dois homens de terno preto saíram e nos cumprimentaram.O casal era bem legal e falaram bastante sobre Stephen, mas oque me importava mesmo era oque aconteria lá dentro.
Entramos no orfanato e a Madre me olhou com desespero e raiva.
— MENINA !! A onde você estava ? — Me abraçou e eu me acuei. Ela olhou aquelas pessoas todas, inclusive Stephen. — Ele te levou ? Oque aconteceu ? Vamos todos para a minha sala agora mesmo ! —
Assim que entramos na sala dela tudo foi exposto, menos é claro, que eu fui parar na casa dele.O mesmo disse que estava voltando da casa de seus pais e eu estava na chuva, então me levou até o casal.
A Madre chamou o monitor, que assim que me viu e tudo foi dito na cara dele. O filho de uma puta teve coragem de mentir.
— Isso é uma mentira descarada. Sarah, eu sempre te respeitei ! — Passou a mão em meu rosto.
Não pensei muito, me escondi mais que depressa atrás de Stephen e segurei seu terno.Ele se aproximou do Samuel e o segurou pela gola da camisa.
— Ela vai embora daqui agora, se tocar nela ou em outra pessoa desse orfanato, eu juro que te mato — O soltou num empurrão e a Madre nos encarou.
— Bom, vá buscar suas coisas, querida — Marina me olhou sorrindo e passou as mãos em meu ombro. — E você ! Não vai sair daqui até a policia e a imprensa chegarem — Apontou o dedo na cara do Samuel e a Madre arregalou os olhos.Naquele momento, Mariana soube que teria sucesso no que veio fazer.
Sai daquela sala e fui caminhando rapidamente até meu quarto. Abri a porta e procurei minha mochila.Arrumei minhas poucas coisas enquanto meus olhos transbordavam. Eu me sentia impotente, insegura, não sabia se aquilo daria certo. Estava indo morar com uma pessoa poderosa que eu mal conhecia, já não me bastavam os traumas passados ? Por que tinham que acontecer mais coisas desse tipo ?
Me despedi de algumas meninas, principalmente da Lia e voltei pra sala da Madre após secar meu rosto.
Senti os olhos ternos de Stephen sobre mim, naquele momento me foi passado um pouco de calma, apesar do medo. Algo em mim, disse que poderia não ser fácil, mas eu teria um "lar" seguro.
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Caminhos Cruzados.
RomanceSarah foi abandonada na porta de um orfanato poucas horas após o nascimento. Cresceu vendo seus amigos sendo adotados e ela sempre sendo devolvida. Traumas foram criados e tristezas enraizadas, sentimentos persistentes de abandono a cercam. Pouquís...