Vamos conversar 1/2.

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STEPHEN

Abri meus olhos e a sala ainda estava escura por causa das janelas fechadas.

Me levantei sentindo minha cabeça doer e rodar, coçei os olhos e fui andando até o banheiro, fiz minha higiênie e como não tinha escova minha ali, joguei anti-séptico bucal com pasta na minha boca e fiz gargarejo. Enxáguei com água e me virei vendo minha calça jeans.

Olhei pro cesto de roupas e em cima estavam minhas chaves, carteira e celular, me lembrei automaticamente que sai de casa com uma arma na cintura.

— Merda, ela viu...— Sussurrei e sai do banheiro com o celular na mão, abri meu Whatsapp e tinham algumas mensagens da Maria.

Algumas eram de ameaças a outras de preocupação, ela havia mandado no começo e no meia da madrugada. Respondi me desculpando primeiramente e disse que logo estaria em casa.

Bloqueei o celular e fui pra cozinha.

Abri a geladeira vendo bolo de chocolate, peguei ele, o leite, uns ovos e bacon.

Liguei a torradeira e coloquei os pães de forma, fuçei o armário e peguei uma frigideira. Fritei o bacon e os ovos, coloquei nos pratos junto com as torradas e deixei na mesa. Peguei o leite e botei pra ferver.

Estava distraido com tudo e quando me virei novamente, vi Sarah escorada no batente da porta, me olhando.

— Bom dia... —





SARAH

Acordei com um cheiro de bacon incensando o apartamento. Levantei e fui pro banheiro, sai e me direcionei a cozinha.

Vi Stephen apenas com um calça de moletom fazendo o café e respirei fundo.

Fiquei parada só observando e lembrando de algumas coisas, ele se virou meio perdido.

— Bom dia. Oque sujar, vai limpar — Falei séria e andei até o armário, abri a gaveta pegando dois lugares americanos e coloquei embaixo dos pratos.

Me sentei e ele terminou de fazer o chocolate quente.

— Sarah...— Colocou as xícaras na mesa e sentou a minha frente. Respirou fundo  parecendo criar coragem pra alguma coisa e eu o encarei. — Vamos conversar ? —

Dei de membros.

— Vamos...vamos deixar tudo as claras e bem explicado —

— Tem sido difícil sem você...eu só sei beber e fumar, eu não durmo direito e toda noite entro no quarto que era seu e fico lembrando da gente.
Quero te pedir desculpas, eu notei sua indiferença...isso me doeu muito, mas, estou pedindo perdão por ter sido um idiota, desculpa por tudo que fiz e falei pra você aquele dia, o jeito que te mandei embora...só me desculpa — Suspirou.

— Sabe, aquelas palavras doeram muito. Ontem, quando te vi, lembrei de tudo, desde o dia que te vi a primeira vez, até o momento que bateu a porta.
Stephen, você me humilhou, me disse aquilo tudo e pouco tempo depois aparece onde eu trabalho e justo quando eu tava disposta a te esquecer —

Suspirei.

— Eu acho...acho não, tenho certeza, que você também estava comigo por um tipo de interesse. Mas eu nunca tive nada além de amor e sexo pra te oferecer. Então obviamente você estava atrás de sexo —

— Sarah...claro que não, você sabia que...— O interrompi, ele precisava ouvir.

— Eu não terminei Stephen.
Você me chamou de VAGABUNDA. Eu, por acaso te dei motivos pra isso ? Mesmo que tivesse dado, quem tem que achar algo sobre meu carácter sou eu mesma —

Engoli seco e continuei.

— Você insultou um bebê, que ainda estava minúsculo e sem defesa alguma, cara. Você me decepcionou, me humilhou, e ontem apareceu lá...tomou um porre e depois fez o show.
Eu te trouxe pra cá e oque vi ? Uma arma na sua cintura —

Ri sem humor.

— Agora, juntando as peças, você disse lá no bar que não para de mexer com coisas erradas. Você acha que tinha alguma moral pra me tratar do jeito que me tratou ? Você me expulsou de maneira grotesca em plena madrugada, e não teve a compaixão de pedir ao motorista pra me trazer aqui, ou pra qualquer outro lugar seguro.
Você só olhou para sua dor...sabe, eu fiquei tão arrasada com aquilo tudo —

Os olhos de Stephen estavam caidos, mas nao paparam de me encarar um minuto se quer.

— Mas, eu me levantei, fui cuidar da minha gravidez e arrumar um sustento, porque até o pai dela resolveu desaparecer. A minha única esperança naquele momento, quando leu a notícia, sumiu.
Não se preocupe, já te desculpei, eu não guardo rancor de ninguém, por mais que a vida me incentive a ser assim, eu não consigo — Sorri. — Porém, não posso mais me desrespeitar, e vou fazer de tudo pra que minha filha sinta orgulho da mãe que ela vai ter —

A essa altura nós dois já choravamos.

— Filha ? É uma menina ? — Ele sussurrei em meio as lágrimas e olhou minha barriga.

— Sim —

— Parabéns...e novamente...me perdoa, Sarah. Eu não posso viver sem você, a cada dia que passa, eu me sinto mais infeliz sem você do meu lado. Todos os  dias, a minha consciência me martiriza e me cobra oque fiz, Sarah. Eu não aguento mais viver sem você — Passou as mãos na cabeça. — Volta...por favor, volta comigo, Sarah, eu faço oque você quiser —

Funguei e joguei meu cabelo pra trás.

— Oque eu quiser ? — Ele balançou a cabeça e se aproximou.

— Oque você quiser Sarah, oque você quiser...— Segurou minha mão e se ajoelhou espera do por uma resposta.

— Começa me explicando oque é isso, de mexer com coisas erradas e eu vou pensando no seu caso — Suspirei olhando a mão dele, ainda usava a aliança de compromisso que me deu.

Pareceu repensar.

— A faculdade de medicina dura sete anos e meio, fora o estágio, e a formatura, que aconteceu depois. Resultando em oito anos — Limpou o rosto. — Eu começei a mexer com isso depois que experimentei a maconha de um colega, o Edu. Ele disse que era de um primo dele, eu pedi o contato e ele passou —

Permanei em silêncio.

— O cara estava produzindo um pouco, pra ver se gerava algum ganho, e era da boa, ele ficou devendo pra um homem da pesada e me perguntou se eu queria comprar o negócio dele. Achei arriscado, mas eu não pensava direito na época, e simplesmente comprei.
Ele me ensinou tudo e depois, aquele homem o matou.
Edu estava precisando de trabalho pra pagar a faculdade, eu contratei e ele me ensinou muita coisa também —

Aquilo do podi ser brincadeira.

— Já estou há seis anos, só que não é apenas maconha, tem metanfetamina, cocaina, e mais um monte de coisas.
Eu já tinha dinheiro quando começei, oque fiz foi triplicar tudo. E nesses seis anos, eu vi que quem mexe com isso, não fica só nisso. Não dá, aparece um monte de coisas no caminho e você tem que eliminar essas coisas —

Seus olhos estavam vidrados nos meus.

— Eu sempre me senti só, meus pais viviam fora de casa. Porém, meu pai sempre foi mais presente que minha mãe, ela só pariu e jogou pra coitada da Maria, que sempre me amou.
Sim, eu sempre fui filhinho de papai, sempre tive tudo mais facil, mas eu decidi que isso iria mudar e conquistaria meu dinheiro apartir dali, por conta própria. Medicina... —

Riu balançando a cabeça.

— Eu sempre me esforcei muito, eu amo bebês e a forma inexplicável como ossos se criam dentro de um outro corpo. Por isso, escolhi obstetria, na verdade sempre amei medicina, e agora eu digo que conquistei minhas coisas. Sem a minha mãe ficar fora vinte quatro horas e chegar me dizendo que era pro meu bem, pra eu ter tudo que queria —

Apertou meus dedos.

— Quando você apareceu, Sarah...eu tive a mágoa que sentia dela, amenizada do meu peito, essa solidão você arrancou com um beijo só —

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