Viagem

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STEPHEN

Guilherme me olhava ainda perplexo.

— Me diz que isso é uma brincadeira de mal gosto, sua e da Sarah — Perguntou-me.

Eu tenho cara de quem tá brincando, caralho ?! — Passei as mãos na cabeça. — A Sarah não pode mais ficar aqui, entendeu ? Até o Eduardo já está com medo do Cortez.
Não tô brincando, Guilherme, tudo que eu te contei é a mais pura verdade. Tenho dinheiro pra viver mais duas vidas, o problema é que não vou chegar a viver nem essa vida completa, se eu não sair desse esquema maldito em que me meti. Então, você tem que levar elas embora ! —

Você está se ouvindo Stephen ? Cara, a Sarah te ama, você tá mandando um quase ex dela, a levar embora, pra longe de você. Porque não mata logo eles ? —

GUILHERME, caralho !! Eu não tenho que pensar em mim, eu sou um bandido miserável, entendeu ? — Suspirei. — O que importa é a Sarah e a Linda. Para de ter esses pensamentos egoístas, uma organização criminosa não é assim, não é matar apenas dois e fugir. Eu tenho que matar todos, mas pra isso, eu preciso de reforço. O Eduardo disse que está comigo, eu preciso contratar mais matadores e preciso encomendar a morte de cada um antes de ir pra qualquer lugar, ou comprar a minha liberdade. Isso não vai ser tão fácil e elas estão em perigo —

Olhei a rua através da janela.

— No dia em que você apareceu, um pouco mais cedo, logo pela manhã, chegou uma caixa. Tinha uma cabeça de boneca com olhos arrancados e pedaços de cornias, pelo tamanho...eram de um bebê. Tudo embalado num saco plástico, e tambem tinham dedos e uma língua humana. Tudo isso com muito sangue. Se não é ameaça, eu não sei oque é —

Tá bom, tá bom. Eu vou com elas, mas, oque eu faço ? Que explicação vou dar ? Oque eu vou fazer e pra onde eu vou ? —

Eu tenho uma casa, numa praia de San Andrés, no mar caribenho. Na Colômbia, pra ser mais específico.
Você vai pra lá...ninguém sabe dessa casa, eu vou te dar uma grande quantia em dinheiro. Sarah e Linda já estão no meu testamento, se eu morrer meus bens vão pra elas e pra Maria —

Quando você quer que a gente vá ? —
Respirou fundo se levantando, tinha muita informação de uma só vez para digerir.

Pegou um dos meus cigarros e o copo de Whisky que eu bebia.

Desaforado !

Isso não vai ser difícil, okay ? — Foi impossível não achar graça no desespero dele. — Vou dar dois celulares zerados, pra você levar, só eu vou saber o número de vocês. Já providenciei passaportes novos e vou comprar as passagens pra semana que vem. Vão e eu espero já ter matado todos eles, mesmo assim, vou no dia seguinte, entendeu ? —

Entendi...você está bem com isso tudo ? Tá frio demais com tudo oque diz, parece que estava se livrando de algo e não se afastando de quem ama —

A Sarah não pode saber desse plano, me entendeu ? — O olhei seriamente. — Ela vai saber apenas que nós iremos viajar, pra dar um tempo disso aqui.
Você como pai da Linda, vai junto, mas se você vacilar com elas...eu juro que te mato, tem que estar presente, entendeu ? — Cocei minha barba por fazer. — Lá vão ter seguranças e muitas armas, mas você tem uma filha, tem que ser presente na vida dela ! —

Eu já entendi, mas se você vai no dia seguinte, porque a preocupação ?Porque dar tantas coordenadas ? E sobre esse passaporte, a Sarah mão é burra ! —

Precaução. Nem ela, nem ninguém, podem saber disso, ninguém mesmo !
Quanto aos passaportes falsos. Eu me resolvo com a Sarah. Mas, nem se ela ameaçar cortar o seu pau, você pode contar, me ouviu ? —

O homem a minha frente virou a garrafa na boca

— Não tô nem processando isso, quem dirá abrir a minha boca. Eu sei aonde eu me meto, pode ficar tranquilo —

Além do dinheiro pra elas, eu vou te dar um bom pagamento, não se preocupa — Abri a gaveta pegando uma arma e me levantei desmontando ela. — Sabe usar uma ? —

Segurei o riso vendo a cara dele, parecia que iria apagar a qualquer momento.

Não ! Eu nunca nem peguei em uma. Como vou passar com isso no aeroporto ? Esqueceu do detector de metais ? —

Esqueceu que eu sou um mafioso ? — Revirei os olhos. — Para de reclamar e presta atenção.  Mira e atira, cuidado com os coices, não atire segurando a arma perto do olho —

Tirei um quadro da parede e mirei nela mostrando como fazia, ele copiou algumas vezes e nem foi de todo ruim.
Mostrei também a montar e desmontar aquilo.

— Vai ter um "policial" no detector e outro na revista. O da revista, vai colocar as partes das armas desmontadas nos seus bolsos. Presta atenção e cuidado ! —

Semana que vem ? — Ele perguntou outra vez e eu apenas assenti. — Olha, pode confiar, vai dar tudo certo. Só não demora pra ir, ela te ama —

Não se preocupa, eu sei oque faço. Você já pode ir — Ele balançou a cabeça e foi saindo, abri a gaveta rápidamente e peguei um punhal. —Guilherme, espera...—

Dei uma chave de braço nele rápidamente e encostei o corte do punhal em sua garganta.

— Que merda é essa ??!! — Seu tom era assustado.

— Se por acaso eu for preso por alguma armadilha sua, ou do seu pai, sei muito bem onde sua mãezinha vive, toma cuidado ! — Apertei o braço. — E se por acaso eu sonhar que forçou a barra com Sarah...você é um homem morto...—

— Confia em mim, não vou fazer isso ! — O soltei e o mesmo saiu em passos apressados.

Me sentei jogando o punhal na parede e virei a garrafa de bebida na boca, sentindo minha garganta arder.

Não queria deixar Sarah ir, mas era necessário, eu não podia deixá-la morrer.

Depois de uns seis cigarros, meu celular tocou, era o Eduardo pra saber sobre o último carregamento. Disse pra ele terminar e ficar com a grana. A ficha dele não era suja, poderia abrir o negócio de carros que tanto desejava, sem ninguém desconfiar. Ele me agradeceu com contentamento, dizendo a seguir que ficaria comigo até o fim de tudo. Agradeci e desliguei pra poder pensar um pouco no que faria daqui pra semana que vem, até a hora da viagem.

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