Tudo perdido

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SARAH






Abri a porta do meu apartamento com Stephen logo atrás e dei de cara com folhas espalhadas e os vidros da janela estilhaçados pela sala.

Respirei fundo e fui olhar como a cozinha havia ficado depois do vendaval. Mais uma janela detonada e até a cortina estava jogada no meio da cozinha.

Continuei vendo os estragos, entrei no quarto e vi as coisas da neném todas molhadas e sujas.

— Não acredito, como não pensei que poderia acontecer isso ? — Passei a mão nas madeiras do bercinho e da cômoda.

Estavam todas molhadas e inchadas, senti meu rosto queimar e tirei alguns cacos de vidro de dentro do berço. Vidro esse da janela do quarto que também quebrou.

— Isso não pode ter acontecido — Caminhei para perto da porta de novo acompanhando a água que molhava o chão. Vi a caixa do que iria ser o guarda roupas, molhada e preferi nem abrir porque com certeza estava estragado e inchado como as outras coisas. Mordi a boca sentindo meus olhos se encherem.

Stephen havia entrado no apartamento também e foi olhando o estrago que o vendaval fez. O chão estava completamente molhado e tinha bastante vidro espalhado por ali.

Quando me ouviu murmurando veio pro quarto. Passou o olho pelas coisas da bebê e pode até ser coisa da minha cabeça, mas ele pareceu ficar chateado.

— Ei, não fica assim — Me puxou pra um abraço. — Nós vamos comprar tudo de novo, okay ?? —

— Nós ?? Stephen, não existe um NÓS, quando se trata da minha filha, esqueceu ? Eu sou a mãe e infelizmente você não é o pai...— Me afastei voltando a olhar o berço.

— É...realmente. E quando está prestes a existir esse nós, você fala isso...novamente — Saiu do quarto calmamente e foi até a área de serviço, pegou um pano velho e começou a colocar os cacos grandes que não seriam varridos com facilidade.

Me ajudou durante toda a tarde com a casa. Tiramos vidros, cortinas rasgadas e tudo mais que não dava pra ser reutilizado.

Durante a arrumação do apartamento, fiquei pensando no que ele disse e me senti meio culpada, mas procurei não pensar muito nisso.

Horas depois o síndico veio ver algumas coisas pra serem arrumadas, Stephen combinou algo com ele sobre as janelas e o levou até as escadas, já até sei o que ele fez. Isso às vezes me irritava, mas sei que só queria ajudar.

Me sentei no sofá tomando ar e Stephen entrou novamente no apartamento fechando a porta.

— Vai dormir aqui ? — Ele afirmou balançando a cabeça e foi pro banheiro.
Respirei fundo e caminhei pra cozinha, estou morta de fome, aliás, quando não estou é a grande questão.

Fiz o jantar e Stephen tampou o restante das janelas com saco de lixo preto, até que viessem arrumar.

Tomei banho também e após jantarmos mais calados que morto no próprio velório, me cansei de tanto gelo e fui até o quarto onde ele assistia algo, que nem prestei atenção.

— Podemos conversar ? —

— Claro...— Respirou fundo se sentando na cama, logo me deu espaço pra sentar também.

— Me desculpa por mais cedo, eu estava tão brava e triste que nem percebi o que disse — Prendi os cabelos e puxei um travesseiro pro meu colo.

— Sarah, não mente. Você percebeu sim, só que você não vê que isso me incomoda. Na verdade até vê...mas acha que eu não ligo — Me encarou.

— Eu só estou dizendo a verdade...eu não quero que se sinta obrigado a fazer com que ela seja sua filha.
Por isso, eu sempre falo, pra parecer clara —

— Sarah, ela pode não ser de sangue, mas, não sei se você percebeu. Eu gosto de falar com sua barriga, adoro envolver essa menininha que nem veio ao mundo, nos nossos planos para o futuro. Eu amo sentir ela chutar…—

O interrompi.

— Eu sei que você gosta, mas e se lá no futuro, num futuro bem próximo, você não aceitar mais ela e também fazer aquilo de novo ? —

— Porra, Sarah, tá difícil de me entender ? Pai é quem cria ! E eu tô afim, sabe ? Afim de te ajudar, a fim de cuidar, a fim de ser um pai, a fim de colocar meu nome lá na certidão de nascimento dela. Eu quero participar dessa reta final da sua gravidez, mas eu quero participar como o pai dela, tá entendendo ?
Eu quero fazer isso, mas parece que você não me entende, não tem como nós termos uma relação estável sem que eu aceite ela, entendeu ?
Mesmo sem ser minha filha de sangue, ela é uma parte minha, uma parte que envolve você, uma parte da nossa história, Sarah.
Poxa você tem que me ajudar com isso, é novo pro meu raciocínio, então não fala mais isso, por favor…—
Peguei minhas mãos enquanto eu já me afogava com tantas lágrimas.

Sorri com tudo aquilo e decidi tirar completamente a dúvida, mesmo já sabendo da resposta.

— Você, tem CERTEZA ABSOLUTA E CONSCIÊNCIA DO QUE QUER ?? —

— Claro que tenho. Eu sei que por minha vontade e se também da sua. Um dia vou ter um de sangue com você, mas porque não tratar ela como tal ??? — Abraçou-me e depois secou as próprias lágrimas que insistiam em rolar. — Como eu falei, não se preocupe, NÓS, vamos comprar tudo de novo pra ela, pode ser ? —

Sorri e concordei passando as mangas do pijama nos olhos os secando de vez.

— Okay, okay. NÓS !! — Dei ênfase ao final como ele fez e rimos juntos. — Eu te amo —

— EU TE AMO MUITO MAAAAAAIIISSS — Gritou e eu lhe dei um tapa. — DOEU MAS NÃO TO NEM AII ! — Riu me segurando dessa vez e selou meus lábios.

Ouvimos seu celular tocar e ele o pegou, me mostrou o remetente e era seu amigo Eduardo. Deduzi que seria para informar sobre as drogas, e Stephen por sua vez se levantou da cama para sair do quarto.

Respirei fundo e segurei ele pelo braço, balancei a cabeça de forma negativa.

— Atende aqui...nós dois temos que nos acostumar com as mudanças — Ele me olhou apreensivo mas acabou por ceder e atender ali mesmo o celular.

Caminhos Cruzados.Onde histórias criam vida. Descubra agora