Cicatriz

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SARAH

Me sentei na cama assustada e meio sem ar, respirei fundo puxando fôlego e tentei enxergar algo, mas ainda estava tudo escuro.

Estiquei o braço até o interruptor que ficava pertinho da cama e adivinha ? Sem energia ainda. Bufei e passei a mão na cama, Stephen estava ao meu lado, provavelmente dormindo.

Liguei a lanterna do meu celular me certificando se ele realmente dormia e levantei calmamente. Fui ao banheiro guiada pela lanterna e logo entrei no closet dele, peguei uma de suas camisas e tirei minha roupa e inclusive meu sutiã que já estava me matando.

Vesti a camisa de Stephen e peguei meu celular em cima da prateleira, me abaixei pra pegar um chinelo também e assim que iluminei aquela parte do closet, vi a sua bolsa de academia, achei estranho ela estar cheia pois ele já havia parado de malhar faziam quatro semanas.

Peguei a bolsa e me levantei, apoiei na prateleira e abri o zíper ficando boquiaberta. Vi algumas armas e vários tabletes do que com certeza eram drogas, também algumas facas e pra piorar, duas camisas contendo sangue seco.

Respirei fundo sentindo náuseas e um calafrio percorrer meu corpo inteiro, fechei a bolsa novamente.

Calcei os chinelos e voltei para o quarto levando a bolsa, me sentei na cama deixando aquilo perto dos meus pés.

Desliguei a lanterna e desbloqueei o celular, eu ainda tremia.
Apronveitei e dei gracas a Deus que meus dados funcionavam. Apesar do sinal fraquissimo.

Mandei mensagem pra Rana. Ela e eu, nos tornamos muito amigas em pouco tempo, eu já sabia de coisas da vida dela que acho que nem a própria mãe sabia.

Perguntei primeiro como estavam todos e depois de saber que tudo estava bem, desabafei com cautela. Não disse o que havia achado especificamente, contei que estava nervosa, tensa e com medo.
Os conselhos que recebi foram para me acalmar e acima de tudo pensar na minha gravidez. Depois, conversar com meu namorado e pedir esclarecimento do que quer que estivesse acontecendo. Eu agradeci e não tive mais sinal.

Respirei fundo e liguei a lanterna outra vez, me virei pra saber se ele estava acordado e claro que não. Com certeza, minha angústia ainda iria demorar pra acabar.

As luzes graças a Deus se acenderam e eu respirei aliviada, desliguei a lanterna e continuei sentada olhando aquela bolsa. Abri novamente o zíper e várias coisas começaram a passar por minha cabeça.

Senti Stephen se mexer na cama e continuei como estava.


— Ei ? Tudo bem ? — Passou a mão em minhas costas e eu permaneci em silêncio. — Sarah ? — Se aproximou e pode ver para onde eu olhava. — Onde achou isso ? —

Sentou-se o mais depressa possível.


— Fui procurar um chinelo seu, ainda estava escuro. Liguei a lanterna do celular e achei não só o chinelo — Respirei fundo. — Por isso você vem agindo estranho.
Chega com um machucadinho aqui, um roxo ali, mancando...
Por isso, você mentiu quando foi me buscar, disse que passou aqui, mas é mentira, não é ? —

Me levantei e peguei a bolsa, joguei na cama tirando as duas blusas ensanguentadas lá de dentro e joguei nele.

— Esse sangue...com certeza não é seu...vo-você matou alguém ? — Engoli seco esperando a resposta. — FALAA !!! — Gritei.

— Sim, matei, eu voltei a fazer tudo novamente, aliás. Eu nunca parei, vinha adiando tudo, tentando me afastar. Mas quanto mais longe eu ficava, mais precisavam da minha presença — Passou as mãos na cabeça. — Sarah, se acalma —

— Me acalmar ?? ME ACALMAR ?? — Dei risada. — Você me fala que matou alguém com uma naturalidade incrível e me manda ter CALMA ? Sinto muito, Doutor Stephen, não será possível realizar seu desejo — Ironizei sentindo minha garganta queimar.


— Sarah, não é fácil sair disso. Eu estava tentando, mas, não é fácil, por favor tenta entender.
Todos concordam que se alguém sai do crime e vai tentar viver uma vida honesta. Esse alguém vai soltar os podres da Máfia por aí, não é tão simples como você pensa —

— Por que ao invés de voltar com tudo normalmente, não falou comigo ? Eu muito puta com você, por ter escondido isso, eu achei que enfim daríamos certo, não tinha mais passado pra ser relembrado e resolveriamos nossos problemas as claras — Me aproximei pegando o rosto dele. — Olha o tanto de armas que tem ali. A bolsa pesa com tanta droga —

Stephen virou o rosto se livrando das minhas mãos.

— Eu fiz por medo, medo de perder você, medo de quando soubesse que eu não sairia, você talvez desistisse de nós —

— Como você acha que eu fico agora ? Em saber que continua matando pessoas, continua destruindo vidas direta e indiretamente com sua ENORMEE PRODUÇÃO de drogas —

Senti as lágrimas molharem meu rosto.

— Não vai dar, não vai dar mesmo. Eu confiei em você, eu te dei outra chance — Funguei.

— Sarah, não faz isso...por favor. Você sabe que eu te amo mais que tudo nessa vida, estou começando a gostar da ideia de ter uma criança entre nós, mesmo não sendo o pai. Estou começando a não ligar pra isso, me dá outra chance, vou tentar sair. Ou melhor, eu vou sair ! —
Parecia perdido.

— Acabou, entendeu ? — Sequei meu rosto e peguei minha bolsa em cima do criado mudo e tirei um short jeans de lá. O vesti rápidamente e abri a porta. — Eu vou pra casa e você me esquece —

Sai do quarto e não demorou pra ele vir correndo atrás. Eu já estava na metade da escada quando Stephen me chamou, não dei ouvidos e ele fez isso novamente, mas agora, me pedindo pra olhá-lo pela última vez.

— Não piora as coisas...— Me virei e ele levantou a camisa.

Vi uma enorme cicatriz e ele se virou por alguns segundos mostrando sua verdadeira extensão. Ia da barriga até o meio das costas.

— Eu tentei sair, faz pouco tempo —
Abri a boca em forma de "O". — Por isso, não fiquei mais sem camisa na sua casa, evitei ir lá muitas vezes, evitei dormir lá, parei de tomar banho com você, evitei seus abraços...—

Subi alguns degraus enquanto ele falava. Deixei minha bolsa cair e passei a mão naquela cicatriz ainda vermelha.

— Esse era o motivo de estar mancando ? Era dor ? — Senti meus olhos se encherem novamente.

Ele assentiu.

— Sim, estava evitando que você visse isso. Me perdoa, por não ter falado nada, por não ter aberto o jogo —

— Se eu te abraçar ? Você vai sentir dor ? — Senti o choro invadir a conversa e assim que ele disse não, o abracei com força e ele retribuiu apertado. — Se sair eles vão te matar ? —

— Vão...— Sussurrou com o queixo apoiado em minha cabeça e também acabou chorando junto.

Fechei os olhos sentindo o lugar marcado.

— Não pode sair — Terminei de tirar a camisa dele e o mesmo estranhou. Sorri de lado.

— Mas, vou perder você, Sarah. Eu vou dar um jeito de sair, não posso ficar sem você —

— Não vai !...— Sussurrei e me aproximei jogando no chão a camisa que eu antes segurava.

Passei os braços em volta do pescoço tatuado de Stephen e deixei um beijo ali, sorri e fui trilhando beijos até a boca que pertência aquele corpo gostoso.

— Eu te amo e agora sabendo das reais circunstâncias não vou te deixar. Jamais —









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