1 - Quase civilizada

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          As palavras de Duda pareceram preencher o ambiente, como se aquele local estivesse abarrotado de pessoas. Chegava a faltar o ar. Mas ali estavam apenas duas pessoas em um silêncio ensurdecedor e um cão escondido debaixo da cama. Ela não tinha a mínima ideia de qual seria a reação do rapaz. Encostada na porta de frente para ele, o olhava insistentemente suplicando por algum vestígio de... qualquer coisa. Ela queria decifrar qualquer expressão no rosto dele, mas Steve apoiou os cotovelos nos joelhos e abaixou a cabeça, impossibilitando toda e qualquer tentativa de contato visual. As lágrimas de Duda se tornaram mais frequentes.


– Steve...


          O rapaz continuou encarando o chão, sem respondê-la.


– Eu sabia... Eu sabia que era cedo demais pra contar!


          Duda se virou para ir embora, mas Steve a chamou. Agora, mesmo olhando seu rosto, era incapaz de decifrar qualquer coisa que se passasse em sua mente. Ele abriu um sorriso melancólico, mas seus olhos continuavam sem expressão, encarando o vazio.


– Esse filho não é meu – afirmou olhando em seus olhos


         Inconformada com o que acabara de ouvir, Duda sentiu um frio na espinha. Steve parecia ser tão bom, como poderia dizer algo deste tipo?! Ele sabia que ela não conheceu mais ninguém desde que chegou em Boston, que ele foi o último que ela ficou... como podia fazer isso com ela?! Seu sangue subiu, pegou a primeira coisa que viu – um tênis largado ao lado da porta – e jogou em direção ao rapaz.


– Eu não esperava isso de você! – gritou.


          Steve desviou do calçado e se levantou. Christmas Eve começou a latir e se esconder ainda mais debaixo da cama, vez ou outra se lançando para fora a fim de assustar a moça que atacava seu dono. Duda continuava jogando as coisas no amigo. Roupas, a tigela de ração do cão, almofadas, tudo. Ele continuou calmo, juntando tudo o que ela espalhava.


– Eu não acredito, Steve! Eu jamais pensei que você achava isso de mim! Você é um lixo!

– Duda, se controle...

– Como que eu vou me controlar, Steve?! Olha o que você está dizendo! – atirou mais uma almofada.

– Quem mais pode ser o pai? – perguntou enquanto juntava com o pé a ração espalhada pelo carpete.

– Como assim, quem mais?! Você! Só pode ser você! Eu sabia... Eu sabia que não deveria confiar em você!

– Duda, calma! Assim também não dá! Tente conversar como a pessoa quase civilizada que eu sei que você é.


          Steve não conseguiu desviar a tempo do tênis que veio a atingir seu rosto. Duda gritava palavras em português que ele tinha certeza que eram palavrões, tamanha a raiva na qual ela gritava.


– Chega! – Steve gritou – Pelo amor de Deus, Duda, você está parecendo louca! Olha a zona que você está fazendo! Será que a gente pode sentar e conversar igual dois adultos que somos?!


          Duda se assustou com o grito irritado do rapaz e se calou por um momento. De fato, isso não era de seu feitio. Mas ele estava duvidando dela! Ele deveria agradecer que todos os objetos arremessados eram leves e não se quebrariam com facilidade. Steve caminhou até ela, que se esquivou e se sentou no sofá.


– Eu não acredito que você está duvidando de mim... – jogou a cabeça para trás, procurando fôlego.

– Se você parasse de agir feito doida eu poderia te dizer...

– Me dizer o quê?

– O porquê eu me separei.

– E o que isso tem a ver?! – exclamou.


          "Meu Deus, você está difícil hoje", Steve murmurou esperando que ela não ouvisse. Ela até pensou em respondê-lo, mas estava exausta, aquele dia parecia mais um pesadelo e ela não queria gritar novamente. O rapaz se sentou no chão e deu um grande suspiro antes de iniciar sua história.


– Eu e a Sharon éramos muito felizes. Ninguém tinha dúvidas do nosso amor, nem mesmo a gente... Quer dizer, nem mesmo eu. A gente se casou com uma cerimônia linda, foi um mini wedding, mas foi exatamente como a gente queria. Os primeiros meses foram incríveis... Aliás, o primeiro ano todo foi. Só que com o casamento, vem as cobranças...

– Não entendi onde você quer chegar – o interrompe.

– Por Deus, me deixe falar! – impôs – Continuando... Nossos pais nos cobravam o óbvio. Acho que todo relacionamento é isso. Você namora, te cobram o noivado, aí você fica noivo, cobram o casamento, você se casa e... bom... cobram os filhos. Eu achava cedo, a gente mal tinha curtido aquele primeiro ano, mas a Sharon desejava tanto um bebê que eu passei a me animar com a ideia. A gente achou que seria fácil, mas... mais um ano se passou e nada. Ela acreditava que fosse por conta da ansiedade, mas eu sentia que tinha algo a mais. Procuramos ajuda, fizemos uma sequência de exames e, bom...

– Ela te pediu o divórcio porque os últimos meses ela estava ansiosa, vocês passaram a discutir com frequência sobre coisas pequenas e desgastou a relação?

– Também. Mas o motivo principal do divórcio foi que ela desejava um bebê mais do que tudo na vida, e... bom... Eu sou estéril. Eu não posso ter filhos, Duda.

– Não... – levou as mãos ao rosto e em seguida espalmou as próprias pernas – Você está brincando comigo, certo? Você faz piadas o tempo todo, quem me garante que essa não é mais uma?!


          Duda se levantou do sofá e voltou a caminhar em círculos. Steve se levantou do chão e a segurou de frente para ele. Os olhos dele umedeceram ao encará-la.


– Duda, eu juro que eu queria muito que essa criança fosse minha. Por Deus, como eu queria! Eu esfregaria na cara de todos os médicos que eles estavam errados, mas, infelizmente, eu sei que isso é só um sonho impossível.


          Algumas lágrimas escaparam dos olhos de Steve ao acreditar nessa possibilidade mesmo que por alguns míseros segundos. Duda não conseguia encará-lo. Ai Deus! Como foi capaz de acusá-lo de tantas coisas?! Desde o início ele só estava tentando dizer o óbvio: aquele filho não era dele. Não era dele porque ele não podia engravidá-la.

          Mas... espera... se o bebê não era dele... não, não faz sentido. Não pode ser. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. O pânico tomou conta de seu corpo, suas pernas bambearam, o enjoo súbito surgiu, a vista embaralhou. Steve conseguiu segurá-la antes que desmaiasse. O apagão em suas vistas só voltou quando já estava com metade do corpo deitado na cama.


– Duda, pelo amor de Deus, fala comigo! – Steve dava leves batidinhas em seu rosto.

– Eu... eu já sei quem é o pai... – sussurrou, ainda voltando a si.

– Não vai me dizer que...

– É o Diego.

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Olá meus amores!

Só tenho uma coisa pra dizer pra vocês: eita!
Alguém já desconfiava que o filho era do Diego?!

Eu não ia postar o primeiro capítulo antes de terminar, mas estava ansiosa demais.
Ainda não sei quando postarei o próximo, mas queria muito postar esse rs
Espero terminar logo o livro, porque eu tô ansiosíssima pra começar a postar regularmente!
É isso, deixem muitos comentários e aquele voto maroto ♥

Beijinhos e até breve, eu espero! ♥

IncompletosOnde histórias criam vida. Descubra agora