40 - Te escrevi cartas

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          O coração de Duda parecia que pularia para fora do peito a qualquer momento enquanto ela caminhava até o namorado com o papel em mãos, que já estava até meio amassado devido à força que ela o segurava. Diego sequer olhava para trás, apenas dividia sua concentração entre o fogão e em cantar as músicas infantis junto com o filho, que batia com uma colher em uma panela.

          "Amor...", a voz dela saiu num sussurro falho. A ansiedade pela resposta a corroía por dentro. Por um lado, acreditava piamente que ele aceitaria e já se mudaria no mesmo instante. Por outro, sua insegurança a fazia acreditar que ele arrumaria alguma desculpa para continuar na casa de sua mãe, já que ele foi casado e talvez não quisesse voltar a morar com outra companheira tão cedo.

          Diego se virou com um sorriso no rosto enquanto entoava alguns versos da música, mas sua expressão mudou ao ver o rosto tenso da namorada. Duda até disfarçou um sorriso, mas ele a conhecia bem o suficiente para saber que ela estava nervosa com algo. Antes mesmo de poder perguntar se estava tudo bem, ela o estendeu o papel dobrado e levemente amassado.


– Você sabe que eu te escrevi cartas. Essa foi a última que escrevi, mas quero que seja a primeira a ser entregue – o papel tremia em sua mão.

– Du, por favor, você não vai terminar comigo por uma carta, vai? – sentiu a respiração pesar.

– Claro que não! Leia, por favor.


          Diego encostou na bancada e desdobrou o papel. O sorriso sutil que abriu quando começou a ler foi se intensificando conforme os parágrafos. Quando leu sobre Arthur e Pedro, seus olhos umedeceram. Duda o observava ansiosa, não sabia qual seria a sua reação. Ela percebeu que ele chegou ao final da carta quando seus olhos deram uma leve arregalada. Sentiu um frio na barriga.


– Du, isso é sério? – ele voltou o olhar para ela e seus olhos estavam ainda mais azuis.

– Se você disser que sim, então é – abriu um sorriso claramente nervoso – Se você disser que não, a gente finge que esse papel nunca existiu.

– É claro que eu quero morar com você. Eu odeio ter que me despedir todas as noites, só faço isso porque não quero atrapalhar a sua independência, sua privacidade. Mas cada vez que eu vou, eu sinto que deixei dois pedaços meus aqui – sorriu e olhou para Arthur, que ainda estava brincando com os utensílios da cozinha.

– Então isso é um "sim"? – sentiu seu coração acelerar.

– Eu é que te pergunto. Mesmo sabendo que meu café é horrível, que eu demoro no banho, que eu faço bagunça pra cozinhar, que eu sou aqueles tiozões que dormem no sofá assistindo filme e que acorda cedo pra varrer a calçada... mesmo sabendo de tudo isso, você realmente quer que eu venha morar com você? – sorriu e a puxou pela cintura.

– Nós estamos no quinto andar, não temos calçada pra você varrer – sorriu – E eu não sou perfeita. Você vai encontrar a toalha molhada em cima da cama, fios de cabelo no pente, a garrafa de água vazia na geladeira... Ainda assim você quer morar comigo? – abraçou seu pescoço.

– Du, eu te amo com todas as suas manias, com todos os seus defeitos... Eu só quero dormir sabendo que todos os dias vou acordar do seu lado.


          "Eu vou entender isso como um sim", Duda sussurrou ao ficar nas pontas dos pés para beijá-lo. Diego entrelaçou os dedos nos fios de sua nuca e a trouxe para mais perto. Não importava há quanto tempo estavam juntos, a sensação sempre era a do primeiro beijo. As borboletas no estômago, o arrepio, seus lábios que se encaixavam feito quebra-cabeça. Terminaram o beijo ao sentirem o cheiro de comida queimada. "Espero que você continue querendo que eu more com você mesmo depois de eu ter queimado o arroz", ele sussurrou antes de um último selinho.

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