20 - Perdido

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          A voz de Diego saiu mais rouca do que o normal, e mesmo tendo certeza do que queria, não sabia exatamente como dizer. Apesar de todos os altos e baixos, ela foi sua companheira por um bom tempo e não era nada fácil ter que acabar com tudo mais uma vez. Sua maior certeza era de que se terminasse mais uma vez, não teria mais volta.

          Nicole bloqueou a tela do celular e cruzou os braços, esperando que o marido começasse a falar, mas o nervosismo não o deixava formar uma frase completa. Durante a madrugada ele criou todo um roteiro em sua cabeça, mas as coisas nunca saem como o planejado e de repente ele já não sabia mais como começar. Tem coisas que não seguem uma linha, e essa era uma delas. Respirou fundo e decidiu tentar.


– Eu andei pensando... A gente... – bufou – Ai Ni, você merece alguém que pode te dar mais do que eu.


          Diego parecia estar vendo tudo em câmera lenta, Nicole se levantou e parou frente-a-frente com ele. Um sorriso indignado estampava seu rosto.


– Essa é a desculpa mais patética que eu já ouvi – balançou a cabeça em negação, ainda desacreditada – Vai, me diz com todas as letras o que você pretende.

– Eu quero me separar de você.


          Diego engoliu seco, aquilo foi mais difícil do que ele imaginou e enquanto suas mãos suavam frio, Nicole não expressava nenhuma reação.


– Você tem noção que você tá me pedindo o divórcio a menos de cinco dias do nosso aniversário de casamento?! – aumenta a voz.


          "Droga, seu burro!", ele pensou. Sequer se lembrava que o aniversário de casamento se aproximava.


– Me desculpa, eu me...

– Não, Diego... quer saber... – o interrompeu e caminhou em direção à cozinha, dando as costas para ele – Você deve estar cansado, chegou tarde, vai dormir, depois a gente conversa.


          Não, não podia deixar para depois.


– Nicole, eu não tô cansado ou com sono, pela primeira vez nos últimos tempos eu tenho certeza do que eu quero e não tô agindo por impulso. Eu quero me separar de você.


          Antes que pudesse desviar, um copo atingiu o seu rosto e se estilhaçou no chão. Apesar da dor latejante, não o cortou.


– Você tá louca?! Você podia ter me machucado! – gritou.

– Foda-se, Diego! Como você quer que eu fique?! – gritou ainda mais alto.

– Eu tô fazendo isso por nós dois, cacete! Você nunca gostou de mim, assim como eu nunca te amei!


          Nicole chegou a pegar um prato para jogar nele, mas Diego foi mais rápido e agarrou seu punho, tirando a louça de sua mão.


– Nicole, olha há quanto tempo a gente não é feliz – acalmou a voz – Olha pra gente! Nós nunca fomos totalmente felizes! Se não fosse pelo Pedro, a gente nunca teria voltado e você sabe disso!

– Você disse que a gente ia tentar! – soltou seu punho da mão dele e deu um tapa em seu peito.

– E a gente tentou... mas não deu certo.

– Mas estava dando certo, até que ela reapareceu! É tudo culpa dela, não é? – alterou a voz mais uma vez – Desde que ela voltou você mudou!

– Não é culpa de ninguém, Nicole.

– Realmente, não é culpa dela, ela seguiu a vida. É culpa sua. Você que não conseguiu esquecer e vive até hoje do passado. Ou você acha que eu nunca soube que você gostava dela?! Quando ela reapareceu você voltou a ser só metade de novo. Eu nunca te tive por inteiro. O jeito que você olha pra ela... você nunca me olhou assim! Eu nunca tive o que você tem com ela, Diego. Desde que a Maria Eduarda voltou, eu sinto como se dividisse minha cama com ela toda noite. Você se tornou um estranho pra mim. E foi tudo culpa sua – batia o dedo contra o peito dele enquanto aumentava o tom de voz.

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