23 - Fingir nunca foi o nosso forte

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          Duda se abaixou até Diego e seus lábios secos tocaram os dele, úmidos e com gosto de soro. Sua língua sentiu o sabor metálico do sangue, mas isso não a incomodou. Ele já havia se esquecido das dores e dos cortes em seu rosto. Ambos queriam mergulhar naqueles lábios que tanto sentiam saudade. Não se incomodaram com as vozes no quarto ao lado, não se lembraram de mais nada a não ser deles mesmos. Aquele beijo estava guardado há tanto tempo, esperando apenas por eles. O tempo parecia ter parado apenas para apreciá-los.

          As mãos de Diego passeavam pelas costas de Duda, que tentava se aproximar cada vez mais. Ela o empurrou contra cama, o fazendo resmungar de dor quando suas costas se encontraram com o colchão. Seu corpo caiu lentamente sobre o dele, e eles estavam prestes a se perderem totalmente um no outro quando Diego interrompeu o beijo.


– Duda, não... – falou retomando o ar – Não podemos...

– Você... Você tem razão! – se levantou, saindo de cima dele – Meu Deus, você é casado! O que eu estou fazendo?! – colocou a mão na boca, indignada.

– Eu não sou mais casado – voltou a se sentar – Achei que seu irmão tivesse contado pra você.


          Mas como assim?! Desde quando?! Por que o Jonathan não disse nada?! Duda tentou apagar a pequena fagulha de felicidade que surgiu em seu peito, mas não conseguiu. Mas se ele e Nicole não estavam mais juntos, por que ele disse que não podiam continuar? O desejo dele era palpável, era nítido que ele queria tanto quanto ela. Antes que pudesse questioná-lo, Diego continuou.


– Você namora, Du. Por mais que eu queira, e eu quero muito... Não posso fazer isso com você e nem com o seu namorado.


          Mais uma vez o olhar exasperado surgiu no rosto dela. Como se esqueceu de Bernardo?! Era só o primeiro dia de namoro dos dois ela já o tinha traído. Nunca havia feito isso com ninguém, nem mesmo com Lucas – por mais que ele merecesse – e estava sentindo a culpa chegar, mesmo com a vontade de continuar saboreando aqueles lábios. Droga! Por que aceitou namorar Bernardo?! Mas não, não terminaria com ele por causa de Diego, por mais tentador que isso fosse.


– Você tá certo – ajeitou sua roupa e se afastou dele – Me desculpa, eu só agi por impulso.

– Você não agiu sozinha – se levantou e foi até ela – E eu não me arrependo de ter te beijado – passou o indicador por sua bochecha – Mas seria egoísmo da minha parte querer que você ainda esperasse por mim depois de tanto tempo.


          Mais uma vez eles estavam próximos demais. Mais uma vez ela sentiu vontade de esquecer de tudo e se afundar em seus braços. Mas agora ela namorava e não faria com Bernardo o que não gostaria que ele fizesse com ela.


– Eu vou... Eu vou arrumar o sofá pra você – se desviou mais uma vez de Diego.

– Não precisa, eu vou voltar para o hotel.

– Já está tarde, pode ficar. A gente segue fingindo que nada aconteceu.

– Você sabe bem que fingir nunca foi o nosso forte – sorriu – Fica tranquila, eu me viro.


          Diego não se despediu de ninguém, apenas pegou seu celular e chamou um Uber. Duda o acompanhou até o portão e os dois aguardaram o carro em silêncio. Antes de embarcar, um beijo rápido na bochecha. Ele se limitou a responder as perguntas do simpático motorista, mas sua vontade era ficar em pleno silêncio até chegar no hotel. Duda voltou para dentro de casa e encontrou seu irmão revirando o armário à procura de algo para comer.


– Você não tem nada gostoso pra comer? – ele perguntou com a cabeça praticamente dentro do armário.

– Com o Steve em casa? Impossível.

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