Incompletos

25 - Se Essa Rua Fosse Minha

          O dia vinte e cinco de dezembro ainda amanheceu festivo no sítio e todos pareciam se divertir juntos – menos Duda e Diego, que se evitavam enquanto tentavam digerir tudo o que aconteceu na noite anterior. As duas crianças brincavam pelo quintal com os presentes que ganharam, alguns aproveitavam o sol dentro da piscina, os mais velhos estavam beliscando a carne requentada pela churrasqueira.

          Gabi e Steve jogavam sinuca com as mesmas apostas galanteadoras de sempre quando ouviram um carro estacionando no quintal. "Alerta de Samuel", Diego falou enquanto se ajeitava na rede. Sua irmã bufou e colocou o taco de lado. Logo o rapaz apareceu com um sorriso no rosto, cumprimentando a todos. O gringo continuou sua jogada, fingindo não se importar com a presença do outro. Matou mais uma bola e deu um sorriso triunfante.

          "Você está perdendo", falou para Gabriela, mas a loira estava abraçada a Samuel e apenas sorriu, lembrando do que aconteceria caso perdesse. Steve estava incomodado, mas preferiu focar no jogo. A bola seis estava na boca da caçapa, era impossível errar. O gringo estreitou os olhos e mirou o taco na bola. Era uma tacada certeira. Ergueu os olhos até Gabi e a viu dando um selinho em Samuel. Perdeu sua concentração. A bola branca bateu na tabela, sem nem ao menos encostar na seis.

          "Sua vez", Steve a chamou. Ela desfez do abraço do outro rapaz e se dirigiu até a mesa. O gringo a observava e achava sexy a forma como ela analisava suas possibilidades. Não sabia bem o que era aquela sensação, mas poderia vê-la fazendo aquilo por horas sem se cansar. Foi desperto de sua distração quando ela encaçapou a bola de número nove. "Só falta a bola um pra mim", ela pegou seu queixo e saiu saltitante até a bola amarela.

          Como já era de se esperar, Gabriela venceu o jogo. Steve estava mais focado na simpatia de Samuel ao lado da moça do que na partida em si. Enquanto ela comemorava, ele terminava de encaçapar com as mãos as bolas que restavam na mesa.

– Você não quer outra partida? – ela perguntou sorridente.

– Joga com o Samuel, ele já está aqui.

– E quanto à nossa aposta – passou a mão pela camisa dele – Quando você pode pagar?

– Pede para o Samuel pagar.

          Gabriela ficou boquiaberta com a resposta atravessada de Steve, que a deixou sozinha e foi até o quarto para trocar sua calça por uma bermuda de piscina. Ela o seguiu e não bateu na porta, apenas entrou. "Oh shit, você não pode ir entrando assim!", ele falou, se cobrindo com um lençol.

– Ah, Steve, eu já vi o que tinha que ver – se sentou na cama – Por que você saiu todo irritado lá de fora?

– Eu não saí irritado – falou terminando de vestir a bermuda.

– Eu não sou estúpida, Steve. Você está com ciúmes de mim – sorriu.

– Eu não sinto ciúmes de ninguém – deu de ombros.

– Qual é! Fala a verdade... O Samuel te incomoda – se levantou e foi até ele.

– Ele não me incomoda... Ele só é playboy demais. Não combina com você.

– E quem combina comigo? – abraça o tronco do rapaz e levanta o rosto até conseguir olhá-lo nos olhos.

          Steve queria responder que era ele, mas também não queria dar esse gostinho de vitória para Gabriela. Os olhos azuis brilhantes da moça eram hipnotizantes e seus lábios sempre com um sorriso travesso pediam por um beijo. Não era fácil resistir, mas ele queria se sentir vitorioso ao menos uma vez quando o assunto era aquela loira maravilhosa. O gringo se abaixou até ela, deixando suas bocas bem próximas.