7 - A Morte Espreita

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Meu pai não melhorou e decidi que não o deixaria mais. Ficaria por perto.

- Não vai à escola hoje? - ele me perguntou quando me viu em casa na segunda-feira pela manhã.

- Hoje não, quero ficar com o senhor! Quer que eu leia algo?

Pelo seu olhar, percebi que ele entendeu meus motivos. Porém não comentou nada, como eu já disse, John Blythe não era de se lamentar.

- É bom ter você aqui filho! Pode ler o meu poema favorito, por favor?

- A pé e de coração leve. - comecei a ler o poema de Walt Whitman - Enveredo pela estrada aberta. Saudável, livre... o mundo a minha frente... O longo atalho pardo a minha frente para levar-me a onde eu queira... daqui em diante, não peço boa sorte... Boa sorte sou eu!

Ele sempre me pedia para ler esse poema. Talvez porque falava de como ele se sentia antes, quando era saudável, livre e podia viajar por onde quisesse. Naquele momento não sei se podíamos dizer que tínhamos sorte de algum tipo. Nossa única sorte é que ainda tínhamos um ao outro.

E assim passamos os próximos dias. Nós conversávamos, eu lia para ele, ou simplesmente ficávamos lá, em silêncio, o que importava é que estávamos juntos...

Dois dias depois de eu me afastar da escola, saí alguns minutos para cortar lenha. E ao voltar escutei a voz de meu pai. Mal teve forças para se sentar nos últimos dias. Mas o teimoso provavelmente tinha se levantado para atender à porta, e agora falava com alguém.

Ao me aproximar consegui distingui a conversa, eles ainda não podiam me ver, pois eu vinha dos fundos.

- Que lindo cabelo ruivo! Você é a afilhada dos Cuthberts, não é? - disse meu pai.

- Sou eu...

Era Anne, com certeza era ela, reconheci sua voz.

- Ouvi coisas boas sobre você! - essa conversa estava ficando comprometedora, apertei o passo - Como está Marilla? Continua irascível? - ele continuou.

- Pai, o que está fazendo? Não devia estar de pé! - eu o interrompi.

- Meu filho se preocupa demais comigo. - ele disse já sem fôlego - Essa dama tem um assunto urgente, com você. Eu... eu vou entrar agora.

- Eu pego sua cadeira! - me ofereci.

- Não... não eu vou sozinho. Obrigado filho! - então olhou para Anne - Prazer em lhe conhecer! Mande minhas lembranças à Marilla.

- Eu mando! É claro, Sr Blythe!

Meu pai entrou. Anne não falou por um instante, acho que estava assimilando a situação toda. Agora ela sabia o porquê de eu não estar indo à escola.

Vi que trazia alguns livros. O Sr Phillips havia dito que me mandaria lições quando eu me ausentasse, talvez fosse esse o motivo da visita.

- São para mim? - perguntei a tirando de seus devaneios.

Ela me entregou os livros.

- Bondade sua trazê-los aqui!

- O Sr Phillips não quer que perca matéria!

- Nem eu quero... Se você me vencer na aula, eu quero que seja justo!

- Exato.

Por um instante ela me lançou um de seus olhares enigmáticos. Mas hoje seus olhos não tinham desafio, havia outra coisa. Compreensão, não sei... talvez pena. E então, ela foi embora!

Entrei no quarto de meu pai para ver como ele estava.

- Tem razão filho, ela é bonita! Sei que você vai negar, mas ela mexe com você e eu entendo. Tem alguma coisa nela que intriga a gente não é?

My Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora