Depois do dia no qual Anne pediu para eu me declarar para Ruby eu decidi me afastar um pouco dela. Como não podia evitar vê-la na escola, pensei em evitar estar em casa nos horários que ela poderia estar com Mary. Ficar mais tempo no trabalho da fazenda, ou levar meus livros e me sentar embaixo de alguma árvore para estudar.
Me afastar fisicamente talvez me ajudasse a compreender melhor meus sentimentos. Eu estava muito envolvido com a presença constante dela. Desde que a conheci eu havia me encantado com ela. Sua beleza incomum, sua força, sua coragem, sua paixão por tudo o que fazia, sua inteligência, sua visão de mundo... enfim tudo nela me chamava a atenção.
Mas eu não tinha muita certeza se esse encantamento era o sentimento que as pessoas chamam de amor. Por mais que eu desejasse estar com ela e às vezes sonhasse com a possibilidade de tê-la em meus braços ou beijar seus lábios. Eu jamais arriscaria a amizade que tinha com ela, ou com os Cuthberts por um encantamento.
E mesmo que esse sentimento fosse mais que simples amizade, Anne havia deixado claro que não estava destinado a crescer e se tornar um romance. Não, ela não me via dessa forma e eu precisava encontrar uma maneira de me afastar desses pensamentos. Talvez se eu me aproximasse de outra garota, para ver como me sentiria com a proximidade de alguém diferente do nosso núcleo de amigos e família.
Porém, meus planos de me manter afastado de Anne foram frustrados logo no segundo dia que cheguei mais tarde.
- Você demorou! - Mary disse quando entrei.
- Estava estudando, no campo. O dia está bonito hoje! - respondi.
- Anne esteve aqui. Ela queria falar com você.
- O que ela poderia querer comigo que não pudesse esperar até amanhã na escola?
- Bem. Ela estava ansiosa para saber se você a acompanharia no trem até Charlottetown no próximo sábado. Ela vai até o orfanato em que viveu. Quer saber se eles têm alguma informação sobre seus pais.
Claro, o orfanato devia ter algum tipo de registro. Seria uma boa forma de saber algo mais sobre os pais dela. Eu entendia sua necessidade de saber sobre eles e mesmo que estivesse tentando me afastar um pouco da presença dela, nunca me negaria a ajudá-la nisso.
- Entendo... Mas o orfanato não fica na Nova Escócia?
- Sim. Mas tem um amigo que vai acompanhá-la até lá a partir de Charlottetown. Cole, se não me engano! - Mary falou.
- Claro! Cole, eu o conheço... mas Anne já viajou muitas vezes de trem sem acompanhante, até com a carga ela já viajou.
- Eu sei. Mas, se você não percebeu, Anne é uma bela moça agora. - antes não tivesse percebido, pensei comigo - Ela já tem 16 anos. Não pode viajar desacompanhada sem arriscar ser mal vista. Marilla parece bem preocupada com isso.
- Será um prazer ajudar. - eu disse simplesmente - Amanhã eu falo com ela.
Na manhã seguinte Anne estava me esperando na porta da escola e veio ao meu encontro com um sorriso.
- Gilbert! Preciso falar com você...
- Bom dia! A Mary já me explicou tudo. É claro que eu a acompanharei! - eu disse antes que ela começasse a falar daquele jeito rápido, como sempre fazia quando estava empolgada.
- Obrigada! - ela falou e abriu um grande sorriso.
Eu não pude evitar sorrir também, era bom receber um sorriso dela. Mas não fiquei ali por muito tempo. Fui para minha mesa e abri um livro. Por mais que eu tentasse parecer indiferente, era difícil me sentir indiferente à possibilidade de viajar sozinho com Anne.
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My Anne with an E
FanfictionUma versão da série Anne with an E pela visão de Gilbert Blythe. Essa versão é da série, apesar de eu conhecer os livros. Senti o desejo de descrever um pouco as minhas impressões sobre os pensamentos e sentimentos de Gilbert na série. Como os sent...