27 - Mudando de Foco

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Depois do dia no qual Anne pediu para eu me declarar para Ruby eu decidi me afastar um pouco dela. Como não podia evitar vê-la na escola, pensei em evitar estar em casa nos horários que ela poderia estar com Mary. Ficar mais tempo no trabalho da fazenda, ou levar meus livros e me sentar embaixo de alguma árvore para estudar.

Me afastar fisicamente talvez me ajudasse a compreender melhor meus sentimentos. Eu estava muito envolvido com a presença constante dela. Desde que a conheci eu havia me encantado com ela. Sua beleza incomum, sua força, sua coragem, sua paixão por tudo o que fazia, sua inteligência, sua visão de mundo... enfim tudo nela me chamava a atenção.

Mas eu não tinha muita certeza se esse encantamento era o sentimento que as pessoas chamam de amor. Por mais que eu desejasse estar com ela e às vezes sonhasse com a possibilidade de tê-la em meus braços ou beijar seus lábios. Eu jamais arriscaria a amizade que tinha com ela, ou com os Cuthberts por um encantamento.

E mesmo que esse sentimento fosse mais que simples amizade, Anne havia deixado claro que não estava destinado a crescer e se tornar um romance. Não, ela não me via dessa forma e eu precisava encontrar uma maneira de me afastar desses pensamentos. Talvez se eu me aproximasse de outra garota, para ver como me sentiria com a proximidade de alguém diferente do nosso núcleo de amigos e família.

Porém, meus planos de me manter afastado de Anne foram frustrados logo no segundo dia que cheguei mais tarde.

- Você demorou! - Mary disse quando entrei.

- Estava estudando, no campo. O dia está bonito hoje! - respondi.

- Anne esteve aqui. Ela queria falar com você.

- O que ela poderia querer comigo que não pudesse esperar até amanhã na escola?

- Bem. Ela estava ansiosa para saber se você a acompanharia no trem até Charlottetown no próximo sábado. Ela vai até o orfanato em que viveu. Quer saber se eles têm alguma informação sobre seus pais.

Claro, o orfanato devia ter algum tipo de registro. Seria uma boa forma de saber algo mais sobre os pais dela. Eu entendia sua necessidade de saber sobre eles e mesmo que estivesse tentando me afastar um pouco da presença dela, nunca me negaria a ajudá-la nisso.

- Entendo... Mas o orfanato não fica na Nova Escócia?

- Sim. Mas tem um amigo que vai acompanhá-la até lá a partir de Charlottetown. Cole, se não me engano! - Mary falou.

- Claro! Cole, eu o conheço... mas Anne já viajou muitas vezes de trem sem acompanhante, até com a carga ela já viajou.

- Eu sei. Mas, se você não percebeu, Anne é uma bela moça agora. - antes não tivesse percebido, pensei comigo - Ela já tem 16 anos. Não pode viajar desacompanhada sem arriscar ser mal vista. Marilla parece bem preocupada com isso.

- Será um prazer ajudar. - eu disse simplesmente - Amanhã eu falo com ela.

Na manhã seguinte Anne estava me esperando na porta da escola e veio ao meu encontro com um sorriso.

- Gilbert! Preciso falar com você...

- Bom dia! A Mary já me explicou tudo. É claro que eu a acompanharei! - eu disse antes que ela começasse a falar daquele jeito rápido, como sempre fazia quando estava empolgada.

- Obrigada! - ela falou e abriu um grande sorriso.

Eu não pude evitar sorrir também, era bom receber um sorriso dela. Mas não fiquei ali por muito tempo. Fui para minha mesa e abri um livro. Por mais que eu tentasse parecer indiferente, era difícil me sentir indiferente à possibilidade de viajar sozinho com Anne.

My Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora