Os dias foram passando e eu não parava de pensar em como seria minha vida, agora que eu estava sozinho. Será que eu devia continuar simplesmente? Ir para a escola até me formar e me tornar um fazendeiro como tantos a minha volta? Era isso que eu devia fazer? Ou melhor. Era isso que eu queria fazer?
Meu pai se sentia preso aqui, eu sei disso. Após a morte da minha mãe ele acabou voltando para Avonlea e assumindo a fazenda de seus pais. Queria me criar onde cresceu, mas eu sei que seu espírito aventureiro o fazia se sentir preso.
Muitas vezes eu pensei que se ele não tivesse preso às obrigações com a minha criação, talvez ainda estivesse vivendo suas aventuras. Ele sempre dizia que não se arrependia de ter sossegado e fincado raízes, mas estava sempre revivendo suas aventuras em sua imaginação. Talvez a lembrança das aventuras que teve fizesse seu espírito de viajante sossegar. Mas eu não tinha aventuras para me confortar agora que as obrigações pareciam querer me sufocar.
Eu sempre gostei de estudar, ler. Algo que eu herdei da minha mãe, segundo meu pai dizia. Ela era uma leitora ávida. Tenho uma pequena coleção dos livros que ela amava. Alguns romances, alguns livros de poesias. Eu já havia lido todos, e meu pai também os amava, principalmente as poesias. Lê-los era uma forma de manter um elo com minha mãe.
Na verdade, eu nunca me imaginei como fazendeiro. Sempre pensei em estudar muito, fazer faculdade e ter outro tipo de profissão. Não que eu não gostasse do campo, não era isso. Eu amava o campo, a fazenda, a natureza e tudo. Só sentia que poderia ter algo mais, ser algo mais...
As pessoas ficavam me perguntando se eu assumiria a fazenda, se eu a venderia, se eu deixaria a escola... isso estava me sufocando. Eu precisava decidir, mas não conseguia e não tinha ninguém para me ajudar a tomar essa decisão.
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Encontrei Matthew Cuthbert na venda um dia. Ele me perguntou sobre a fazenda, sobre eu não ter cultivado nada ainda.
Com a doença de meu pai nós deixamos realmente parte da terra sem cultivo, já que tivemos que contratar pessoas para cultivá-la. Respondi logo que se eu fosse vender a fazenda eu avisaria. Era a pergunta que todos os fazendeiros vinham me fazendo desde que meu pai havia falecido.
Matthew, porém não queria comprar minha fazenda, ele queria se oferecer para me ajudar a plantar. Isso me fez admirar aquele homem, ele mal tinha saúde para cultivar sua terra e ainda assim, se oferecia para me ajudar com a minha. Isso me consolou, saber que eu poderia contar com alguém. Aquela mão estendida me consolou mais que todas as frases prontas de condolências que eu havia ouvido até então. O Sr Cuthbert era um homem bom.
Billy Andrews, no entanto continuava sendo um idiota... o encontrei na saída da venda nesse mesmo dia.
- Ei, Gilbert!
- Oi!
Respondi, mas continuei andando, eu não andava muito amigável nos últimos dias e com certeza não estava com paciência para as conversas de Billy. Ele estava com dois de seus amigos, provavelmente Paul Moore e Paul Elliot, que o seguiam para todo lado. Não cheguei a prestar atenção neles, portanto não tenho certeza.
- Como está, Blythe? - ele me seguiu.
- Bem!
- Você precisa voltar pra escola, amigo! Aquela órfã feia esta fora de controle.
Ah! Não! Ele queria mesmo falar de Anne? Apesar de termos discutido no dia do funeral de meu pai, e eu admito que fui rude, eu não conseguia ficar indiferente àquele comentário. Senti meu sangue ferver e estava prevendo que essa conversa não acabaria bem. Mas tentei ignorar, seguir meu caminho.
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My Anne with an E
FanfictionUma versão da série Anne with an E pela visão de Gilbert Blythe. Essa versão é da série, apesar de eu conhecer os livros. Senti o desejo de descrever um pouco as minhas impressões sobre os pensamentos e sentimentos de Gilbert na série. Como os sent...