30 - Precisando ser Forte

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Enquanto caminhava até Green Gables fiquei pensando em como algumas vezes a medicina era completamente inútil. De que adiantava estudar tanto? Apenas para dar sentenças de morte? E que tipo de médico eu seria se nem isso eu conseguia fazer direito? Eu deveria confortar Mary, mas ela que parecia querer me confortar.

Cheguei à Green Gables, mas hesitei. Eles iriam me questionar sobre Mary e eu teria que dar a notícia a eles. Parei em frente à porta e tentei criar coragem para bater. Vi Anne através do vidro, ela estava com algo na mão que colocou na mesa. Que direito eu tinha de perturbá-la quando ela parecia tão tranquila em sua casa? Por um instante desejei protegê-la da dor que eu estava sentindo.

Então ela se virou e me viu na porta. Nossos olhos se cruzaram e pelo seu olhar eu vi que ela percebeu que havia algo de muito errado.

- Gilbert! - ela disse vindo abrir a porta.

- Bom dia! - eu disse quando entrei - Vim para buscar Delphine.

- O médico veio? - Marilla perguntou, eu apenas confirmei com a cabeça - Oh! Meu Deus! O que está acontecendo com Mary?

- Ela está muito doente! - eu disse de uma vez - Uma infecção muito grave. Não há nada que a medicina possa fazer.

Foi tudo o que eu consegui falar. Mas foi o suficiente para deixar todos chocados. Após um instante, no qual todos ficaram em silêncio Marilla, que era uma pessoa prática, começou a arrumar rapidamente as coisas de Delphine.

- Matthew! Vá buscar a carroça. Precisamos levar Delphine até a mãe! Vou levar um pouco de pão para eles. - se virou para Anne que ainda estava me olhando com expressão de espanto e os olhos cheios de lágrimas - Anne! Pegue a bebê, vamos!

Em um instante todos estavam ocupados organizando tudo para levar Delphine até Mary. Ninguém mais tocou no assunto que afligia a todos.

Quando tudo estava pronto Matthew e Marilla subiram na carroça. Anne deu a bebê para Marilla e se sentou atrás da carroça, abrindo espaço para eu me sentar ao seu lado.

- Acho que vou andando. - eu disse, precisava de mais um tempo antes de voltar para aquela casa.

- Posso te acompanhar? - Anne perguntou.

- Se quiser...

Saí na frente e ela me acompanhou.

- Não consigo entender... - ela disse inconformada depois de alguns minutos andando em silêncio.

- Acho que não vou poder ser médico. - eu desabafei o que vinha remoendo desde que dei a notícia a Mary - Médicos deveriam... eu estava... tive que contar para ela, mas...

Eu estava andando rápido, tinha raiva de mim mesmo pela forma como falei com Mary. Anne tentava acompanhar meus passos.

- Gilbert...

- Não, não sou eu que estou morrendo. Não sou eu quem está perdendo tudo... sou só...

- Um amigo! Que teve que dar uma péssima notícia a alguém que ama.

- A Mary precisava que eu fosse forte... eu só piorei as coisas. Não consegui encontrar as palavras certas e piorei tudo.

- Acha que dizer as palavras certas traria algum consolo? - ela correu para me alcançar e segurou meu braço, me virei para olhá-la - Espero que nunca precise fazer isso de novo, mas não acho que poderá evitar. As pessoas vão te procurar, Gilbert. Levarão seus filhos e entes queridos para ver um médico que se importa tanto quanto eles... Você será um médico maravilhoso... Se importar sempre será a coisa certa.

My Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora