Eu não suportava as ideias e as atitudes de Billy Andrews, mas o que mais me irritou naquele dia foi perceber que, de repente eu poderia estar tendo uma atitude parecida com a dele. Ele disse que estava avaliando algumas garotas, como se uma esposa fosse algo a ser escolhido de forma fria e desrespeitosa. E isso era horrível! Mas será que eu não estava fazendo o mesmo?
Eu respeitava Winnie, e gostava muito dela e quando aceitei me casar com ela decidi que faria de tudo para fazê-la feliz. Mas não pude deixar de fazer a comparação.
Eu estava apaixonado por outra pessoa e, por mais que ainda acreditasse que poderíamos ter uma vida boa juntos, só havia tomado aquela decisão naquele momento, por conveniência. Para abrir as portas para o sonho de estudar na Sorbonne. Me casaria porque todos esperavam por isso. E senti que ela não merecia isso.
Andei pelo bosque sem saber para onde ir. Quando vi, eu estava no lugar de onde havíamos tirado as placas de madeira. O antigo Clube de Histórias de Anne.
Havia uma placa, ou melhor, um memorial. Tinha à sua volta um cordão de pequenas conchas. Anne gostava de colecionar essas pequenas coisas, conseguia ver a beleza delas. A beleza do simples, do natural.
A inscrição na placa dizia: "Clube de Histórias. 1896-1898. Mandamento. Nós Descansamos na Verdade" (WRIT. We Rest In Truth). Passei algum tempo olhando aquela placa.
Verdade. Essa era uma palavra que eu parecia ter esquecido nos últimos dias. A realidade é que eu estava em guerra com a verdade. Lutava comigo mesmo para me convencer que a atitude correta seria me casar com Winnie enquanto a verdade queria me sufocar. E a verdade era que eu amava Anne.
Acho que nunca até aquele momento eu tive coragem de dar nome àquele sentimento. Amor, era isso que eu sentia. Não era atração, não era amizade, era amor. E um amor tão grande que tirava todo o ar dos pulmões só de pensar na sua intensidade.
Era amor, claro que era. Desde a primeira vez que seus olhos cruzaram com os meus eu a amei. Desde o primeiro momento sua beleza havia me cativado e eu fiquei louco por ela. Eu era pouco mais que uma criança e não conseguia entender. Mas não pude deixar de pensar nela nem mesmo um dia desde então.
Com o tempo fui descobrindo sua força, sua coragem, sua mente superior, sua capacidade de amar seus amigos com todas as forças e de acolher a todos sem preconceitos. Anne era única, em todos os sentidos. Eu era completamente apaixonado por ela. Essa era a verdade.
Em meio às tábuas que ainda estavam ali, vi uma pequena concha. Provavelmente exposta quando viemos pegar as tábuas que usamos no manifesto. Guardei aquela pequena concha como lembrança daquela verdade.
Voltei a caminhar sem ter para onde ir. Não queria voltar para a escola e escutar a conversa de Billy. Nem desejava ir para casa e me sentir um divisor entre Bash e sua mãe.
Cheguei até a costa, de onde eu podia ver o mar. Estava entardecendo e o azul do mar ao se misturar com o tom vermelho do por do sol me fazia pensar em Anne. Seus olhos azuis e profundos como o mar, seus cabelos vermelhos e bonitos como o por do sol. Eu amava cada detalhe daquele rosto.
Quando voltei para casa já estava escurecendo. Bash discutia com sua mãe, pelo que ouvi ela brigava com ele por tê-lo visto conversando com uma mulher branca. Pela fala dela, me pareceu que temia a reação das pessoas se soubessem e Bash tentava convencê-la que não haveria nenhum problema.
Me escondi, a última coisa que eu queria era a Sra Lacroix me paparicando enquanto criticava o filho.
Eles saíram da cozinha e vi pelo vidro da porta que ela havia deixado um prato para mim em cima da mesa. Peguei o prato e voltei a sair pelos fundos, dei a volta e entrei pela porta da frente. Eles ainda discutiam, mas não estavam à vista. Subi para o meu quarto sem ser visto e jantei sozinho e escondido naquela noite.
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My Anne with an E
FanfictionUma versão da série Anne with an E pela visão de Gilbert Blythe. Essa versão é da série, apesar de eu conhecer os livros. Senti o desejo de descrever um pouco as minhas impressões sobre os pensamentos e sentimentos de Gilbert na série. Como os sent...