43 - Permissão

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O dia das provas finalmente havia chegado e foi com ansiedade que eu cheguei à cozinha naquela manhã. A Sra Lacroix me recebeu ao lado da mesa com um prato na mão. Estranhei um pouco a cena, não por ela estar lá, eu sabia que estaria.

No dia anterior não chegamos a nos encontrar. Nós ficamos até tarde organizando a igreja para que as provas pudessem ser aplicadas, uma vez que não tínhamos mais uma escola. Quando cheguei em casa a Sra Lacroix já havia se recolhido com Deli e eu encontrei apenas Bash, que não quis conversar sobre o assunto.

O que me surpreendeu na cena foi sua postura formal. Parecia que esperava para servir seus patrões em Trinidade. Imaginei que ela precisaria de um tempo para se acostumar com sua nova realidade.

- Bom dia. - eu a cumprimentei

- Bom dia, senhor.

- Que cheiro maravilhoso!

- Obrigada, senhor. Não sabia onde se sentava. - ela disse quando me sentei e colocou o prato na minha frente, eram um prato com salsichas e o que me pareceu ovos mexidos - Tudo bem? Gostaria de mais alguma coisa, Sr Blythe?

Tentei ignorar sua atitude servil pensando em conversar com Bash sobre isso, ele a conhecia melhor que eu e saberia a melhor forma de abordar o assunto.

- Ah! Não! - ela o disse pegando o bule rapidamente quando tentei me servir de chá.

- Obrigado! É Gilbert, por favor... e está perfeito.

- O tio Gilby parece bem esperto para a prova de hoje, coelhinha? - Bash chegou com Delphine e pensei que ele me salvaria daquele constrangimento.

- Bom dia, Deli! - cumprimentei nossa coelhinha quando Bash a abaixou e ela agarrou meu rosto.

- Ai! - Bash disse ao se levantar rápido e imaginei que sua mãe o tivesse beliscado discretamente.

- Sente-se. - ela o repreendeu, aproveitei para finalmente começar a comer - O Sr Blythe não a quer na cara dele enquanto está comendo. Está bom, Sr Blythe?

- Me chame de Gilbert. E está delicioso. - eu nunca mais me sentiria satisfeito com mingau de aveia pela manhã.

- Tem certeza de que aguenta comer tudo isso, Sr Blythe? - Bash disse com ironia - Não ficará magricelo com minha mãe aqui.

- Sebastian! - novamente sua mãe o repreendeu - Ele não quis dizer isso. Você parece um jovem muito forte. - me falou achando que eu teria me ofendido.

- Tente construir uma cerca com ele. - Bash continuou zombando - Braços tão finos que podem quebrar segurando um lápis.

Nós dois rimos. Eu jamais me sentiria ofendido com as brincadeiras de Bash. O jeito brincalhão dele tornou minha vida mais leve e me ajudou a superar a morte de meu pai e a enfrentar todas as dificuldades desde então. Mary não teve dificuldade em perceber a profundidade de nossa amizade, mas a Sra Lacroix precisaria de mais tempo para isso.

Ela fez sinal para Bash e os dois saíram da cozinha. Provavelmente queria dar uma bronca nele sem que eu escutasse. Eu sabia que seria difícil para ele lidar com essas atitudes dela.

Queria ajudá-lo, mas Bash tendia a se fechar quando algo mexia com ele mais profundamente. Foi assim quando visitamos sua mãe em Trinidade, foi assim quando Mary adoeceu e depois de sua morte. Tudo o que eu poderia fazer era lhe dar espaço e estar disponível quando ele tivesse pronto para conversar sobre isso.

Cheguei a Charlottetown a tempo para as provas e confesso que estava bem ansioso quando entrei na faculdade de Queens. O tamanho daquele lugar em comparação com a nossa pequena escola mostrava a dimensão das mudanças que estavam para acontecer.

My Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora