(T1E7)
Alguns dias depois da minha chegada à Charlottetown, passando em frente à casa de penhores vi alguém conhecido através da vitrine. Era Anne...
Fiquei feliz em vê-la. Havia simplesmente ido embora de Avonlea, sem avisar ou me despedir de ninguém. Não que eu devesse explicações a alguém, mas fiquei chateado de ir embora sem falar com Anne. Nossa última conversa de verdade havia sido no funeral de meu pai e eu fui rude com ela. Não queria ir embora deixando mais essa impressão ruim. Eu não sabia se algum dia voltaria a Avonlea e... apesar de ela não ser exatamente minha amiga, fiquei feliz porque não iria embora sem vê-la mais uma vez.
Havia refletido bastante sobre nossa última conversa. Ainda estava ofendido com o fato de ela achar que eu tinha sorte, mas eu a entendia. Aquela menina ficou sozinha no mundo quando era apenas um bebê, trabalhou para se sustentar desde muito pequena e em casas onde era tratada como empregada, nunca fez parte de uma família até encontrar os Cuthberts. Ela tinha razão, minha situação era melhor do que a dela quando ficou órfã. Mas ainda não conseguia acreditar que tive sorte de alguma maneira.
Esperei por ela do lado de fora da loja.
- Gilbert! - ela falou, surpresa quando me viu.
- Olá!
Ah! Aqueles olhos, eu realmente havia sentido falta deles!
- Gilbert... - ela parecia sem fôlego - Acho que eu tenho que sentar... eu...
- É claro!
Ela estava visivelmente abalada. Parecia que poderia cair a qualquer momento. Perguntei se havia se alimentado e ela me disse que não teve muito apetite naquele dia. Então a acompanhei até um pequeno café, onde pedi algo para comermos.
Enquanto comia ela me contou que Matthew Cuthbert havia sofrido um enfarte e estava acamado. Agora ela e Marilla precisavam pagar um empréstimo no banco, sob a pena de perderem Green Gabes. E que estavam vendendo qualquer coisa de valor que tinham para conseguir algum dinheiro.
- Está trabalhando no cais? - ela me perguntou.
- Eu tenho um objetivo. Quero ser contratado para trabalhar num navio.
- Posso perguntar sobre a sua fazenda?
- Eu não preciso decidir agora. Primeiro quero conhecer o mundo... se eu voltar a Avonlea, quero que seja por escolha, não por obrigação. É o que meu pai ia querer... sinto muito pela doença do Sr. Cuthbert e os problemas todos.
- Ainda não consigo acreditar... embora eu tenha acabado de vender tudo o que temos! Mas obrigada!
- Ele é um bom homem! Se ofereceu para me ajudar na minha plantação na primavera.
- Eu o amo de todo o coração. Não sei o que faria se... - ela parou, pensou um pouco, então continuou - Eu te devo desculpas!
- Não, não deve!
- Sim, eu devo!
Pronto, estávamos em uma de nossas disputas. Será que conseguiríamos brigar até quando estávamos tentando nos desculpar? Que relação mais estranha era aquela que tínhamos?
- Não, eu devia pedir desculpas! - eu disse.
- Não devia não!
- Eu fui grosseiro.
- Mas foi culpa minha!
- Nós podemos não brigar uma vez só?
- Você pode parar de me contradizer?
VOCÊ ESTÁ LENDO
My Anne with an E
FanfictionUma versão da série Anne with an E pela visão de Gilbert Blythe. Essa versão é da série, apesar de eu conhecer os livros. Senti o desejo de descrever um pouco as minhas impressões sobre os pensamentos e sentimentos de Gilbert na série. Como os sent...