9 - Despedida

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(T1E7)

Alguns dias depois da minha chegada à Charlottetown, passando em frente à casa de penhores vi alguém conhecido através da vitrine. Era Anne...

Fiquei feliz em vê-la. Havia simplesmente ido embora de Avonlea, sem avisar ou me despedir de ninguém. Não que eu devesse explicações a alguém, mas fiquei chateado de ir embora sem falar com Anne. Nossa última conversa de verdade havia sido no funeral de meu pai e eu fui rude com ela. Não queria ir embora deixando mais essa impressão ruim. Eu não sabia se algum dia voltaria a Avonlea e... apesar de ela não ser exatamente minha amiga, fiquei feliz porque não iria embora sem vê-la mais uma vez.

Havia refletido bastante sobre nossa última conversa. Ainda estava ofendido com o fato de ela achar que eu tinha sorte, mas eu a entendia. Aquela menina ficou sozinha no mundo quando era apenas um bebê, trabalhou para se sustentar desde muito pequena e em casas onde era tratada como empregada, nunca fez parte de uma família até encontrar os Cuthberts. Ela tinha razão, minha situação era melhor do que a dela quando ficou órfã. Mas ainda não conseguia acreditar que tive sorte de alguma maneira.

Esperei por ela do lado de fora da loja.

- Gilbert! - ela falou, surpresa quando me viu.

- Olá!

Ah! Aqueles olhos, eu realmente havia sentido falta deles!

- Gilbert... - ela parecia sem fôlego - Acho que eu tenho que sentar... eu...

- É claro!

Ela estava visivelmente abalada. Parecia que poderia cair a qualquer momento. Perguntei se havia se alimentado e ela me disse que não teve muito apetite naquele dia. Então a acompanhei até um pequeno café, onde pedi algo para comermos.

Enquanto comia ela me contou que Matthew Cuthbert havia sofrido um enfarte e estava acamado. Agora ela e Marilla precisavam pagar um empréstimo no banco, sob a pena de perderem Green Gabes. E que estavam vendendo qualquer coisa de valor que tinham para conseguir algum dinheiro.

- Está trabalhando no cais? - ela me perguntou.

- Eu tenho um objetivo. Quero ser contratado para trabalhar num navio.

- Posso perguntar sobre a sua fazenda?

- Eu não preciso decidir agora. Primeiro quero conhecer o mundo... se eu voltar a Avonlea, quero que seja por escolha, não por obrigação. É o que meu pai ia querer... sinto muito pela doença do Sr. Cuthbert e os problemas todos.

- Ainda não consigo acreditar... embora eu tenha acabado de vender tudo o que temos! Mas obrigada!

- Ele é um bom homem! Se ofereceu para me ajudar na minha plantação na primavera.

- Eu o amo de todo o coração. Não sei o que faria se... - ela parou, pensou um pouco, então continuou - Eu te devo desculpas!

- Não, não deve!

- Sim, eu devo!

Pronto, estávamos em uma de nossas disputas. Será que conseguiríamos brigar até quando estávamos tentando nos desculpar? Que relação mais estranha era aquela que tínhamos?

- Não, eu devia pedir desculpas! - eu disse.

- Não devia não!

- Eu fui grosseiro.

- Mas foi culpa minha!

- Nós podemos não brigar uma vez só?

- Você pode parar de me contradizer?

My Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora