52 - Querido Gilbert

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Querido Gilbert!

Eu me pareço com minha mãe! É inacreditável que finalmente eu possa dizer isso. Sei que dentre todas as pessoas, você é quem mais pode entender minha necessidade de conhecer meus pais. Eu poderia ter compartilhado minha busca com você, mas fui burra demais para isso e te repeli quando quis me ajudar! Saiba que me arrependi assim que as palavras saíram da minha boca.

Aliás, não foi a única vez que fui rude. Sempre me senti tão confusa perto de você. Nunca sabia o que dizer a acabava falando bobagem ou brigando pelos motivos mais injustos. Peço que me perdoe por todas as vezes que fui rude ou injusta. Prometo que compensarei cada ofensa com muito amor e carinho doravante!

Bem, mas antes das declarações, deixe-me explicar como soube a aparência de minha mãe. Hoje mesmo, assim que você saiu, Matthew e Marilla chegaram à pensão. Eles haviam visitado a Sra Thomas, vizinha de meus pais e a primeira pessoa que me acolheu quando faleceram.

Ela acreditava que houvesse algum pertence deles em sua casa. Depois de alguma busca encontraram um livro dentro de uma cristaleira. Aliás, em outra oportunidade vou te contar sobre minha amizade com essa mesma cristaleira que continha a única relíquia existente de meus pais. É uma história triste, engraçada e linda agora que sabemos o que havia dentro dela.

Enfim, esse livro se chama A Linguagem das Flores e contém uma dedicatória escrita por meu pai Walter Shirley para minha mãe Bertha Shirley. Essa dedicatória revela que minha mãe era professora, não é esplêndido?! Esse livro também contém várias anotações de minha mãe sobre seu amor pelas flores, sobre seu amor por meu pai e sobre mim. Meus pais me amavam Gilbert! Sinto-me tão feliz tendo essa certeza...

E ainda, na contracapa desse mesmo livro havia um desenho. Um retrato de minha mãe, feito por meu pai. Ela tinha o queixo fino, o nariz empinado e lindos cabelos vermelhos! Imagine só, meus cabelos vermelhos que foram fonte de tristeza para mim por muito tempo são justamente o que me une à minha mãe. E agora nem posso colocar em palavras o quanto eu amo ser ruiva.

Sempre me disseram que eu era feia, isso me entristeceu muito na infância. Com a maturidade aceitei que sou incomum e gostei disso. Mas agora me sinto bonita, e completamente feliz. Eu tenho tudo o que eu sonhei.

Tenho a certeza do amor de meus pais. Tenho Matthew e Marilla que são a realização de meu sonho de ter uma família. Eu tenho amigos maravilhosos. E tenho você, que é a realização de um sonho que por muito tempo eu nem ousava sonhar, o sonho de amar, de viver um amor verdadeiro. Ah! Gilbert, teremos que encontrar novos sonhos para realizar. Hoje, sou perfeitamente feliz!

Sei que você tem perguntas e espero poder responder algumas. Mas primeiro preciso dizer. Eu te amo Gilbert Blythe, sou apaixonada por você!

Como é bom dizer isso para você finalmente. Ainda que eu já houvesse lhe dito em meu bilhete. Aliás, o que aconteceu com ele? Pois se você disse à Winifred que seu amor não era correspondido é porque não o leu.

Winifred... como eu a odiei Gilbert! Sinto que sou uma pessoa horrível por isso, já que foi ela quem me contou tudo. Mas tive tanto ciúmes dela!

Bem, deixe eu lhe explicar. Depois daquele dia do ensaio eu percebi que gostava de você. Ainda não podia dizer que era amor, mas havia um sentimento e eu não podia mais negar. A forma como você me olhou naquele dia, a sensação do seu toque... foi como se um véu que cobria minha consciência fosse retirado e eu pudesse ver com clareza pela primeira vez!

Naquela hora senti que era correspondido. Mas depois tive dúvidas e mal podia esperar para te ver na feira. Queria ficar perto de você e tentar entender o que eu sentia, tentar decifrar se você sentia o mesmo. Mas, você estava acompanhado... fiquei arrasada. Todos pensaram que minha tristeza foi causada pelo desastre no concurso de bolos, mas não foi por isso. Estava de coração partido.

My Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora