11 - A Mansão

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Chegamos a um lugar totalmente diferente. Uma mansão. Com um jardim bem cuidado e um longo caminho de palmeiras na entrada. Bash parecia apreensivo, me empurrou para nos escondermos quando viu dois homens bem vestidos passando a cavalo.

Demos a volta na casa e chegamos aos fundos. Onde havia uma mulher negra estendendo roupas.

- Oi mãe!

A mulher se assustou e olhou para ele.

- Sebastian! Menino, está tentando me matar? - olhou em volta - Alguém viu você?

Bash, visivelmente triste, balançou a cabeça negando.

- Venha, venha... Venha cá. - ela pediu estendo os braços.

Bash a abraçou por um momento. Eu fiquei tentando entender a situação. Aquela era a mãe de Bash, ela provavelmente trabalhava naquela mansão. Parecia que ele não era bem vindo ali, já que tivemos de nos esconder. E... seu nome era Sebastian?

- Quem é o menino com você, parecendo um passarinho molhado? - a mulher disse, finalmente me notando - Qual é o seu nome de batismo?

- Gilbert Blythe, madame! - tirei o chapéu e me aproximei para cumprimentá-la.

- Bem, isso jamais aconteceu! - ela disse surpresa - Deve ser o primeiro a ter me chamado de madame! De onde é?

- Ilha do Principe Eduardo, Canadá. - respondi.

- Não te dão comida naquele navio, Gilbert Blythe?

- Sebastian me prometeu o melhor da medicina natural de Trinidade.

Ela olhou para Bash com por um momento, sorriu e entrou na casa.

- Sebastian é tão mais elegante do que Bash! - eu zombei assim que estávamos sozinhos.

- Segura essa língua!

A mãe de Bash voltou com dois pratos do que parecia ser uma sopa, mas muito mais apetitosa que qualquer sopa que eu tivesse visto ou comido. Me sentei e comecei a comer.

- Eu acabei de preparar. Algo me dizia que em breve veria meu único filho. - ela disse animada.

- Hazel! - uma criança de uma criança com cerca de 4 anos saiu pela porta, ela o pegou no colo - Ele está roubando?

- Não, meu amor. Lembre que Jesus disse que precisamos ajudar as pessoas! Eles só têm fome! - se voltando para Bash - Ok, podem comer.

- Podemos voltar amanhã? - ele perguntou com tristeza.

- Não. Isto é caridade suficiente. Se voltarem, haverá problemas. Vamos meu amor. - entrou com a criança.

Percebi que não era bem vindo ali e me levantei sem jeito. Bash pegou seu prato em silêncio e saiu, eu fui atrás.

Depois daquilo, passei a compreender a tristeza que via em Bash desde que desembarcamos em Trinidade. Eu nunca tive mãe, não tenho muitos parâmetros para avaliar as relações entre mães e filhos, mas era nítido que aquela relação era problemática.

Bash estava ainda mais abatido quando nos sentamos em meio às palmeiras para comer. Ele continuava em silêncio e praticamente não comeu. Para distraí-lo comecei a questionar sobre cada ingrediente daquela sopa. Que por sinal era muito saborosa.

- O que é isso?

- Um ramo de tomilho, tempero. - ele respondeu sem muita atenção.

- E... isto?

- Uma massa de fubá.

- Incrível! Se isto é remédio, eu iria querer ficar doente todo dia.

- Que bom que está gostando do fruto do trabalho escravo! - ele falou com amargura.

- Achei que a escravidão tivesse sido abolida há mais de 50 anos. - respondi assustado.

- Minha família nunca deixou aquela fazenda... minha avó, minha mãe... ela criou os filhos deles. Eu mal a conheço.

Agora eu entendia. A liberdade daquelas pessoas não era real. Libertos da escravidão, mas presos a ela pela pobreza. A mãe de Bash continuava presa aos seus senhores. Ela negligenciou a relação com o filho para agradar seus patrões, sob a pena de passar fome. Enquanto isso Bash a via criando os filhos deles com carinho.

Também perdi o apetite.

My Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora