24. Luto

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Oito horas de voo depois e um fuso horário muito confuso, finalmente eu estou em solo londrino. Não esperava ter que voltar nessas circunstâncias, e definitivamente não esperava me arrepender tanto de ter partido.

Saio do aeroporto em modo automático e entro em um táxi rapidamente. Não consigo mais chorar, não tenho reação, é como se todo meu corpo estivesse em transe e fora do meu controle.

" Seja forte. Você vai precisar"


▪️▪️▪️

Assim que chego ao meu destino, eu pago o taxista e desço do carro. Ando até o portão branco e antes de entrar compro um buquê de flores.

Passo pelo portão e ando por um caminho de pedras lavadas sem me importar com as outras pessoas que ali estão, presas em seu próprio sofrimento. Eu sei a onde ir.

Anos atrás quando meus pais compraram esse lugar, eu achei meio mórbido da parte deles. Se preocupar com a morte enquanto ainda vendiam saúde, não parecia racional para mim, mas agora vejo que eles estavam certos e olhando essa vista para o por do sol sei que a escolha não poderia ser melhor.

Ando até a lápide de mármore branco com os dizeres:


Henry Smith
1965-2019
Bom pai, marido amoroso, e tubarão nos tribunais.

E um sorriso surge em meu rosto ao saber que ele teria aprovado isso.

Coloco as flores ao lado das outras, em sua lápide e me sento no chão vendo o sol se por no horizonte. Eu não digo nada, não à o que dizer, ele não pode me ouvir. Eu não choro, não tenho mais lágrimas. Tudo que consigo fazer e ficar ali, olhando para os últimos raios de sol se apagando e pensando no quanto ele amaria aquela vista, em como ele teria algo reconfortante pra me dizer agora.

Meu pai sempre foi um homem sábio, ele sempre tinha um bom conselho, uma palavra amiga, um colo para que eu chorasse nos momentos de desespero. Ele sempre foi o pilar de sustentação na tempestade e agora ele se foi. Nunca mais o verei, não poderei abraça-lo, ou chorar em seu ombro.

Eu só queria ter estado aqui quando ele precisou, só queria ter segurado sua mão e dito que tudo ficaria bem. Agora tudo que posso fazer é deixa-lo descansar em paz.


▪️▪️▪️

As ruas de Londres nunca me pareceram tão frias, as pessoas nunca me parecem tão distantes umas das outras, o som do big bang nunca me pareceu tão triste, mas a cada canto em que olho através do vidro do táxi, eu só vejo menos vida.

Estou a caminho do meu apartamento, e não consigo tirar dá minha mente a palavra covarde. Uso a desculpa de que tenho que pegar meu carro para fugir o máximo possível do encontro com minha mãe e principalmente uso a desculpa de pensar sozinha para não ver a dor dela jogando em minha cara a culpa.

Chego em meu prédio e aquela sensação de lar que eu tinha a alguns meses não me vem. Entro e vou direto para meu apartamento sem nem me dar ao trabalho de cumprimentar o porteiro. Destranco a porta e o que vejo me tira do transe completamente.

_EDGAR, QUE BAGUNÇAS TODA É ESSA. - tenho que desviar das garrafas que estão no chão. Meus móveis estão cobertos por roupas sujas e caixa de comida.

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