Eu poderia dizer que tudo aconteceu tão rápido que não consigo me lembrar, poderia dizer que o sedativo me impediu de sentir, poderia dizer que eu apaguei naquele momento, ou ainda que o motorista da limusine voltou e me salvou, mas nada disso aconteceu. Eu fui brutalmente violentada e agredida por aqueles seis animais desprezíveis.
Durante longas horas, fui violada de todas as formas possíveis, enquanto uma câmera em um tripé me filmava.
Senti toda a dor, senti cada toque, cada tapa, cada chute e quando meu corpo e minha dignidade não podiam mais suportar tanta vergonha, minha mente cansada e ferida se permitiu ser levada pela escuridão.
▪️▪️▪️Não sei dizer quanto tempo durou, não sei dizer se eles pensaram que eu estava morta ou apenas perceberam que foram longe de mais. Tudo que sei é que quando finalmente meus olhos se abriram, eu não estava mais naquele galpão no meio do nada e isso em si, já era um grande alívio.
Eu estava machucada. Meus dentes da frente foram quebrados, assim como minhas costelas e uma das minhas pernas, mas isso não me parecia a pior das situações. Eu estava viva e segura longe daqueles monstros e isso era motivo de felicidade, certo?
Hoje percebo que a vida é superestimada. Eu respirava. Com o tempo podia andar e falar, mas meus demônios não me permitiam realmente viver. Os pesadelos me acompanhavam dia e noite apenas como um lembrete de tudo que aconteceu e isso não é viver, é apenas se negar a aceitar o inevitável. Eu estava morta, mas minha alma rejeitava a idéia de me deixar partir. Ela clamava por justiça e esse era meu único motivo para continuar de pé.
▪️▪️▪️
Meus pais chamaram a polícia e depois que passei pela humilhação de fazer um teste de estupro, os detetives disseram que investigariam e voltariam quando eu pudesse falar, o que levou quase duas semanas.
Após esse tempo eu fui a delegacia e contei o que houve. Falei cada mínimo detalhe do que me aconteceu e como aconteceu, mas depois de quase um mês esperando que meus algozes fossem presos, o medo de que a injustiça prevalecesse começou a bater em minha porta gritando para sair.
Depois de mais umas três semanas meus pais e eu fomos chamados até a delegacia e assim que chegamos fomos levados até a sala do delegado para que ele nos esclarecesse o motivo dos monstros que me estupraram ainda estarem soltos por aí. Me pergunto agora se saber a verdade foi realmente o que eu precisava, ou se foi apenas mas um motivo para que tudo desandasse e desmoronasse em minha cabeça.
_ Não podemos fazer nada a respeito. -Exclama o delegado olhando em meus olhos e aquele medo tão conhecido me paralisa no lugar.
_ COMO É QUE É? Vocês não podem fazer nada? Minha filha foi violentada e jogada em uma vala fétida e você diz que não pode fazer NADA a respeito. Que tipo de lei é essa que deixa tipos como aqueles livres por aí.
Eu era apenas uma telespectadora enquanto minha mãe gritava e esbravejava, andando de um lado para o outro na pequena sala.
_ Se acalme senhora, ou terei que prendê-la por desacato a autoridade. -Ele diz após se recuperar do choque inicial de ver uma senhora tão pequena e de aparência frágil quase o agredir.
_ Quer dizer delegado que você está considerando prender minha esposa por ter se alterado com a notícia, mas se recusa a fazer o seu trabalho e prender os energúmenos que estupraram nossa filha. É isso mesmo? - Pergunta meu pai indignado.
_ Não é uma questão de querer senhor Smith. O que aconteceu foi trágico, mas não à prova alguma que incrimine esses rapazes. Qualquer vestígio de D.N.A que estivesse em sua filha foi lavado pela chuva e a mesma não pode nos dizer onde foi o local do crime. Ela diz ter sido em um galpão, mas não havia nenhum em milhas de distância e todos os possíveis suspeitos tem álibis confirmados. Em outras palavras, sem nada que confirme a palavra de sua filha, minhas mãos estão atadas.
_ Você está dizendo que minha filha está MENTINDO? - Grita mamãe ainda alterada.
_ Mentindo não. É óbvio que ela foi violentada. O que eu estou dizendo é que foi encontrada uma quantidade considerável de sedativos no organismo dela e por conta dos mesmos, ela pode ter ficado um pouco confusa com tudo.
_ Eu sei exatamente o que vi e senti. Eu não estava confusa e não estou agora. Foram eles, eu sei que foram. - Digo quase em um sussurro enquanto lágrimas de indignação desciam livremente pelo meu rosto.
_ Sinto muito.- é tudo que ele diz antes de nos dispensar e se antes meus pesadelos pareciam insuportáveis, essas duas palavras os tornaram ainda piores.
Eu só queria um pouco de paz para essa dor que me consome.....
▪️▪️▪️
Presente...
Eu não encontrei a paz.... Ao menos não onde eu pensei que a encontraria.
_ Pelo visto eu me enganei mesmo com você.- Ele fala decepcionado, me trazendo de volta dos meus devaneios. Mas nem a tristeza em seu olhar foi o suficiente para me fazer falar, o que apenas o incentivou a ir embora me deixando novamente só.
Agora perdida em minha mente, estou tentando me lembrar quando foi que eu comecei a me denominar Samanta ao em vez de Angel. Depois de um longo tempo me recordo que foi logo após minha terceira tentativa de suicídio. Porque acreditem ou não eu tentei tirar minha vida três vezes, mas não fui bem-sucedida.
Vocês podem dizer que foi o destino, o universo, ou talvez algo maior que me impediu de fazer o que meu coração queria. Eu apenas sei que depois disso eu tinha um propósito muito maior do que a minha dor e isso era o suficiente.....
▪️▪️▪️Passado...
Depois de tudo, eu não me sentia viva. Já fazia quase um ano e eu ainda tinha pesadelos todas as noites. Era como se tudo se repetisse várias e várias vezes.
Na minha última tentativa de me matar eu tomei todos os meus remédios para depressão e uma garrafa de gin que meu pai havia escondido no escritório, mas meus pais chegaram a tempo de me salvar de mim mesma.
Ver o sofrimento nos olhos de meus pais naquele dia foi como um choque que me fez perceber que apesar de tudo, eles ainda se importavam comigo e não se perdoariam se eu me matasse. Eu sei o que a culpa pode causar e eles não merecem essa dor, não depois de fazerem o possível e o impossível para me salvar da escuridão que se tornou minha vida.
Eu precisava mudar.... Precisava de um novo motivo para viver, e mesmo que jamais voltasse a ser aquela menina de coração puro e alma gentil, eu precisava recomeçar. Mudei meu nome, meu corte de cabelo, coloquei dentes novos e passei por várias cirurgias plásticas de reconstrução.
Minha família também mudou. Deixamos Indiana para trás e fomos para Inglaterra. Minha mãe começou a trabalhar como voluntária em um abrigo para vítimas de estupro, meu pai parou de beber gin e dedicava seus dias a ser o melhor advogado que os ingleses já viram e eu entrei para Universidade, cursando engenharia da computação. Fiz alguns amigos e aprendi muito com eles, mas se você pensa que tudo ficou bem depois das mudanças, se pensa que eu superei meu passado e virei uma pessoa melhor, sinto dizer que está enganado.... Eu só precisava de tempo.
Tempo para que o passado fosse substituído por novos objetivos e os pesadelos fossem trocados por noites em claro planejando o que seria.... Uma vingança tão amarga quanto o fel.

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Revenge
RomanceApos ser brutalmente violentada e ver que a polícia nada fez para prender seus agressores Angel Smit decide fazer justiça com suas própria mãos. Após onze anos ela volta a onde tudo começou, com um novo nome e um único objetivo..... Vingança, mas...