Capítulo 2

1K 77 10
                                    


NATALIE NARRANDO...

Voltei a morar no Rio há 2 anos. Consegui me divorciar do Leonardo depois de inúmeras agressões, violência sexual, abusos psicológicos e torturas. Tenho varias marcas no corpo de queimadas de cigarro, de pontas de garfo que ele fazia quando estava nervoso ou bêbado. Tudo que acontecia de errado na vida dele, ele dizia que era minha culpa e me batia. Ele dizia que me amava e que me batia pra eu aprender a ser melhor, ele estava apenas me ajudando a ser uma boa esposa. Aconteceram coisas gravíssimas comigo até que eu pedi o divorcio e ele foi obrigado a assinar quando foi preso, então vim para o Rio de Janeiro para a casa da Anna Julia minha melhor amiga. Ela é gerente num banco e me ajudou muito. Dois meses depois descobri que estava gravida, mas não quis tirar o bebê e a Anna me deu total apoio. Esperava outra menina, mas ela nasceu com uma doença grave no coração e faleceu dias depois do seu nascimento. O nome que escolhi para ela foi Maria Victoria. Me sentia amaldiçoada com tudo isso, culpava o Leonardo de todas as maneiras. Acordava no meio da noite tendo pesadelos horríveis com tudo isso e com uma dor imensa de não ter minha filha comigo. Ela era linda e se parecia muito comigo. Morava em Copacabana e comprei um apartamento no mesmo andar que a Anna. Eu amava aquele lugar, a vista para a praia, e aos poucos consegui retomar minha vida, voltei a atender num consultório e me relacionar dessa vez com mulheres. Havia me relacionado uma única vez com mulher, e ela era linda. A conheci no colégio, ficamos amigas, se chamava Priscilla Alvares. Ficamos juntas por um ano e meio e ela se mudou para Londres, nunca mais tive contato com ela e pouco depois entrei na faculdade e quando formei encontrei o Leonardo, me casei e tudo aconteceu até eu voltar para o Rio. 

PRISCILLA NARRANDO...

Rafaela nunca me decepciona. Arrumou uma babá muito boa para a minha filha. Lia era gentil, carinhosa e a Clara gostou dela de cara. Coisa que não aconteceu com as outras babás. Ela já estava com a gente há duas semanas e estávamos com grandes progressos. Meu médico me examinou e eu teria que fazer mais uma cirurgia na mão, para melhorar o meu desempenho, e eu só sabia sentir raiva de tudo isso. Logo a Rafa chegou tinha alguns papéis para assinar e um assunto que eu tentava evitar a algum tempo.

Rafa: Bom dia.

Eu: Bom dia Rafaela. – sorri de leve.

Rafa: Eu vi um sorriso?

Eu: Aff. O que tem hoje?

Rafa: Esses papeis e o contrato do resort finalmente. Mudaram tudo que queríamos e eu já conferi o advogado também agora só falta sua assinatura.

Eu: Ótimo. – assinei.

Rafa: E temos isso também... – colocou o panfleto na minha frente.

Eu: E o que é isso?

Rafa: A escolinha da Clara que eu escolhi.

Eu: Já conversamos sobre isso Rafaela.

Rafa: Sim Priscilla já conversamos sobre isso e ela vai sim para escolinha. Ela precisa socializar. Você fica escondida debaixo da pedra pra sempre se você quiser, mas você não vai fazer isso com a Clara.

Eu: Rafaela, a escola vai ser um inferno pra ela. Ela está numa cadeira de rodas, ela não é uma criança comum – falava tremendo.

Rafa: Ela é sim. E ela vai voltar a andar logo. Escuta sobre a escola e pensa pelo menos?

Eu: Fala Rafaela... Fala... – cruzei os braços.

Rafa: A Maple Bear é uma escola canadense super segura e bilíngue e totalmente inclusiva que está apta a receber a Clarinha que é cadeirante e poderá ajudar muito na transição dela para quando ela voltar a andar. Ela tem 3 aninhos então a turminha dela é a Nursery e depois ela vai para a Junior Kindergarten quando fizer 4 anos. Eu conversei pessoalmente com as professoras, coordenadoras e a diretora da escola. Eles tem um sistema educacional incrível lá e tem também apoio psicológico caso precise. A mensalidade é 3 mil reais e ela entra as 13 horas e sai as 17:30. No período de adaptação você pode ficar lá caso ela se sinta insegura, até ela se adaptar e não precisar mais da sua presença. – meu coração estava disparado. Eu não achava aquilo uma boa ideia. – Aqui está o contrato muito bem explicado, o folheto da escola, ainda está no inicio do ano ela pode entrar até o meio de março sem problemas. Pensa bem, pode ser bom pra ela socializar com outras crianças.

Eu: Ok.

Rafa: Vai matricular? – sorriu.

Eu: Não disse isso. Eu vou pensar...

Rafa: Vai pensar mesmo?

Eu: Sim...

Rafa: Ok... E a nova terapeuta já está marcada para você e para ela. Ela deve chegar as 15 horas. Ela não atende fora do consultório, mas pedi que abrisse uma exceção expliquei o caso por cima e ela entendeu.

Eu: E quem disse que eu quero uma terapeuta?

Rafa: Já que você cancela todas que eu marco, você não sai dessa casa, a terapeuta virá até você e até a Clara.

Eu: Você está muito abusada Rafaela... – falei nervosa.

Rafa: Me demite... – falou me encarando. Ela sabe que eu não fico sem ela. Eu bufei e dei as costas pra ela – Foi o que eu pensei... Boa tarde e espero que seja incrível sua sessão... – ela foi embora. Estava fazendo fisioterapia quando a Ester veio falar comigo.

Ester: Dona Priscilla?

Eu: Fala Ester – respondi sem olhar pra ela.

Ester: A senhorita Smith psicóloga já chegou.

Eu: Ok. Pode começar com a Clarinha precisa da minha presença com ela?

Ester: Não... Em 1 hora é a senhora.

Eu: Não sei pra que isso – suspirei – Ok Ester obrigada. Ofereça algo pra ela, um café um suco, algo para comer e beber ok?

Ester: Sim senhora – saiu.

Débora: Quando vai ser sua cirurgia?

Eu: Na semana que vem... – suspirei. – Eu não queria fazer eu não acho isso boa ideia.

Débora: Priscilla olha pra mim – eu a olhei. – Essa cirurgia pode mudar muito tudo isso aqui... Seu progresso é muito lento e essa cirurgia pode trazer de volta a sua mobilidade em 100% e é isso que você mais deseja. Você quer voltar a projetar como antes, no papel e não só no computador. Então, pensa positivo. Eu sei que tudo que aconteceu foi horrível, mas essa cirurgia pode mudar tudo pra você. Acredite nisso... – eu deixei as lagrimas caírem e sequei rapidamente. – Sei que resiste a terapia, mas isso pode ajudar muito você a passar por isso, a quebrar barreiras. Eu tive o prazer de conhecer a Priscilla antiga, e eu sei que ela ainda está ai dentro. Então se abra pra isso. Tenta... – eu não falei nada. Voltamos a fazer os exercícios. Depois de 40 minutos acabamos, ela já estava saindo.

Eu: Débora?

Débora: Sim?

Eu: Obrigada – sorri de leve.

Débora: Por nada. – correspondeu e saiu. Fui para o meu quarto tomei um banho coloquei a munhequeira e fui até a cozinha.

Maria: Deseja alguma coisa dona Priscilla?

Eu: Só um suco Maria, obrigada – abri a geladeira e me servi. – Onde a Clara e a terapeuta estão?

Maria: Na brinquedoteca.

Eu: Ok. – eu fui até lá e elas estavam conversando e desenhando. Eu não interrompi. A Mulher estava de costas para a porta. Eu fui para o meu escritório e vi algumas coisas e logo a Ester bateu. – Entra...

Ester: Dona Priscilla?

Eu: Sim?

Ester: Ela já terminou é a sua vez.

Eu: Pode pedir a ela pra vir até aqui, por favor Ester – me levantei e me virei para o jardim. Era lindo, a muito tempo eu não andava por ali, não entrava naquela piscina. Logo uma voz me despertou dos pensamentos.

NATIESE: AMOR E SUPERAÇÃO (TRAUMAS, REENCONTROS E RECOMEÇO)Onde histórias criam vida. Descubra agora