NATIESE: AMOR E SUPERAÇÃO (TRAUMAS, REENCONTROS E RECOMEÇO)

Capítulo 26

PRISCILLA NARRANDO...

Natalie está gravida e eu chorei horrores. Era a realização de um sonho estar casada com ela e ser mãe de um bebê dela. Os dias se passaram, seria um natal diferente do último. A casa estaria enfeitada, os pais e os irmãos da Natalie viriam, minha mãe e meu irmão também. Poucos dias antes do natal, saímos para comprar os presentes da Clara. Andamos o dia todo e conseguimos comprar tudo. Fomos no petshop comprar os presentes do André também, porque o André também tinha uma cartinha para o papai noel. A noite de natal foi mágica pra Clarinha, ela tava super feliz. Eu me afastei um pouco, chorei, pensei muito nos meus filhos. A saudade que eu sentia deles era gigantesca e não diminuía. A Nat veio atrás de mim.

Nat: Tá tudo bem?

Eu: Sim... Só estou com saudade.

Nat: Das crianças né?

Eu: Sim. Nossa, e uma saudade gigantesca viu. Eles amavam o natal. Era muito mágico, como está sendo pra Clarinha agora – sorri em meio as lágrimas – Eu queria entender o porquê, disso tudo ter acontecido com eles. Eu não consigo compreender, não consigo aceitar. Eles eram apenas duas crianças inocentes.

Nat: Eu me perguntava a mesma coisa quando me lembrava da minha primeira filha. Ela que foi morta dentro de mim por ser uma menina. Ela não sabia de nada, ela nem tinha nascido ainda, eu me pergunto ainda o porquê disso ter acontecido. Eu conversei com um senhor uma vez, na praia. Foi uns 5 meses depois que eu perdi minha filha, eu estava muito triste, andando pela praia em Miami. Ele me viu sentada na praia e chorando sozinha então se aproximou e perguntou se eu precisava de ajuda se estava tudo bem e começamos a conversar. Acabei desabafando com ele. Então eu fiz esse questionamento, porque minha filha que tinha vindo ao mundo ainda teve que morrer por causa da estupidez de uma pessoa. Ai ele me surpreendeu com a resposta. Ele perguntou se eu tinha agradecido a Deus, por ela estar ao lado d'Ele naquele momento.

Eu: Agradecer a Deus por ter a filha morta? – achei estranho.

Nat: Sim, eu fiz a mesma pergunta. E ele falou assim... Minha filha, as vezes o tempo dela na terra foi só uma expiação que ela deveria passar aqui, o restante que ela deveria passar aqui. Eu sei que dói, minha esposa já perdeu dois bebês quando eramos jovens e foi doloroso. Mas já pensou se ela tivesse caído do seu colo, batido a cabeça e morrido? Já pensou se ela se soltasse da sua mão e fosse atropelada ou se afogasse agora nesse mar enquanto seus pensamentos estão longe? Agora pensa, se a sua dor não infinitamente maior. E além da dor de perde-la, você sentiria a culpa e essa culpa você carregaria até o último dia da sua vida. E então desse dia em diante eu entendi que Deus faz as coisas de maneira muito certa. Por mais que no momento a gente deixe de acreditar nele, a gente se afaste d'Ele por raiva. O que eu quero te dizer amor, é que você foi uma excelente mãe para eles, eu tenho certeza disso, assim como você é uma mãe incrível pra Clara e vai ser uma mãe maravilhosa para o nosso bebê. Mas a sua dor seria muito maior, se isso tivesse acontecido com você na direção, se num momento de desespero você tivesse atropelado as crianças como a Luíza atropelou a Clara e tivesse sido fatal. Metaforicamente, não foi do seu colo que eles caíram, foi do colo dela e ela vai amargar essa culpa pra sempre. Sua saudade é gigante, mas a culpa dela é muito maior e ela vai amargar para sempre isso, além de pagar na cadeia. – me beijou.

Eu: Eu te amo... Muito...

Nat: Eu também te amo, mais que tudo... – nos beijamos. Me recompus e voltei pra dentro. A Clara tinha dormido, a coloquei na cama e voltamos pra sala, ficamos ali até tarde, logo todos foram dormir. Minha mãe e minha sogra me ajudaram a guardar as comidas e colocar as louças na lava louça, logo fui deitar também. Natalie já tinha dormido, tava exausta. No réveillon fomos pra minha casa de Angra dos Reis, a família toda. Foi bem gostoso e divertido. Eu não me sentia feliz assim a muito tempo. Eu dei um carro pra Natalie de aniversario e ela vendeu o dela. O carro chegou na semana do natal então ficou sendo um presente de aniversário e de natal. Ficamos 10 dias em Angra e voltamos para o Rio, a Nat tinha que trabalhar. Eu resolvi ficar mais em casa porque a Clara tava de férias.