08 DE MAIO... SEXTA FEIRA – FESTA DO DIA DAS MÃES NA ESCOLA...
Eu a Natalie estamos juntas. Não rotulamos nosso relacionamento ainda, mas ela passa mais tempo lá em casa, dormindo comigo cuidando da Clara que parece a cada dia mais apaixonada por ela. A Clara está na escola a dois meses e cada dia mais inteligente e com perguntas que até nos assustam. O aniversário dela é em agosto e ela quer uma festa da LOL. Eu estava organizando pessoalmente, era uma maneira de ocupar meu tempo. Voltei a projetar com a mão, dói um pouco, mas está a cada dia melhor. As vezes passo na empresa estou pensando em voltar pra lá pelo menos na parte da tarde enquanto a Clara ta na escola. Minha vida mudou bastante com a presença da Natalie e a cada dia que passava eu a amava mais. Fui surpreendida pela manhã com um oficial de justiça na minha porta. Tinha uma audiência na próxima sexta feira. Fiquei extremamente nervosa e ansiosa por isso. A tarde levei a Clara pra escola, tinha apresentação do dia das mães. A Lia foi junto pra filmar pra mim. A Nat não poderia ir por causa do trabalho. As crianças do Nursery apresentaram uma música linda para as mães e eu chorei demais. Senti uma saudade dos meus filhos, me lembrei de quando eles apresentaram pela primeira vez. Tiramos fotos depois e ela tava super feliz. Tinham várias comidinhas gostosas na escola depois e foi bem divertido. Não me via assim a um bom tempo. No domingo acordei com um bom dia mamãe super gostoso, uma bandeja de café da manhã e um presente. A dona da obra? Natalie. O presente era uma pulseira em ouro branco com duas asinhas de anjo e um C de Clara, era perfeito. Me emocionei muito. Era meu primeiro dia das mães sem meus filhos. Notei que a Natalie estava bem triste também, acho que mais que nunca, precisávamos conversar. Fomos almoçar numa churrascaria, depois fomos para o apartamento dela, vimos desenhos e a Clara dormiu. A coloquei na cama da Nat e ficamos sentadas na varanda olhando a praia movimentada aquela a tarde.
Eu: Está distante amor tudo bem? – resolvi quebrar o silêncio.
Nat: Sim tudo bem. Dia das mães pra mim é bem pesado.
Eu: Porque? – ela ficou de frente pra mim me beijou e disse.
Nat: Vem, vamos conversar – nos sentamos no sofá. – Acho que precisamos conversar sobre muitas coisas e precisamos nos curar se quisermos ser um casal novamente – eu suspirei.
Eu: Tudo bem.
Nat: Como você sabe eu me casei e me mudei pra Miami por causa do trabalho dele. Abri meu consultório e estava indo bem no trabalho porque depois que nos casamos, ele virou outra pessoa. A princípio achei que era problema no trabalho por isso ele andava tão nervoso, mas não era. Ele era assim. Eu apanhava por qualquer motivo – eu senti um arrepio – Ele estava nervoso ele me batia, se a comida não ficasse do jeito que ele quisesse ele me batia e dizia que era pra eu aprender a ser melhor que eu o obrigava a ser violento comigo, mas ele me batia por amor – riu sem humor. – Logo eu engravidei e ele ficou louco de alegria, mas começou a fazer um enxoval todo masculino mesmo sem saber o sexo. Quando descobrimos que era uma menina ele me bateu muito – começou a chorar – Ele me bateu tanto que eu desmaiei. Ele dizia que ele não queria uma menina nunca que eu não sabia nem fazer filho direito, por isso eu estava apanhando. Meus vizinhos me socorreram depois de 2 dias toda quebrada e machucada em casa. Minha filha morreu dentro de mim e eu não pude fazer nada – eu sentei ao lado dela e peguei sua mão. Como alguém poderia ser tão horrível a esse ponto. – Ele sumiu. Ficou desaparecido por 1 ano. Eu já tinha continuado com a minha vida, mesmo com aquela dor de não ter a filhinha que eu tanto sonhei comigo. Ele apareceu do nada depois de um ano e me agrediu violentamente e depois me estuprou. Eu fui encontrada pelo meu vizinho de novo, eu estava muito machucada, queimada de cigarro, ele sempre me queimava, quando brigávamos. Ele foi preso tentando fugir. Foi condenado por homicídio, tentativa de homicídio, agressão, estupro e tortura. Ele foi deportado e está preso em Curitiba, pegou 22 anos. Ele tentou alegar distúrbio mental, mas o psiquiatra não deu o atestado a ele então ele foi pra um presidio sem chances de semi aberto e de recorrer. Eu voltei para o Brasil e descobri que estava grávida. Foi um susto tremendo pra mim, eu não esperava por isso, eu tinha tomado medicações no hospital para evitar a gestação, mas parece que por algum motivo não funcionou. Eu morava com a Anna minha amiga e ela me incentivou a ter o bebê. Eu já tinha sofrido uma perda e foi muito ruim pra mim e eu não teria coragem de tirar. E eu levei a gravidez até o fim, comprei esse apartamento fiz um quartinho lindo pra ela, mas a Maria Victoria nasceu com um problema muito grave no coração e uma semana depois ela faleceu. Foi uma dor horrível que é difícil de explicar. Eu enterrei minha filha, desfiz todo o quartinho dela, doei tudo que tinha comprado pra ela. Entrei em depressão fiquei afastada do trabalho por um tempo, mas era hora de seguir em frente. – secava as lágrimas – Essa é a minha historia. Eu tenho pesadelos até hoje, mesmo fazendo tratamentos, e como psicóloga sei o quanto é difícil superar um trauma.
Eu: Amor... Que horrível... Eu sei bem o que é perder um filho. Aliás, dois né – fiquei pensativa.
Nat: Ta pensativa e tensa amor, o que tá acontecendo com você? Não acha que deveria se abrir um pouco, aliviar um pouco esse fardo? – me beijou.
Eu: Melhor eu ir pra casa... Não tem mais fralda pra Clara se sujar não vai ter como trocar – me levantei e fui pegar a Clara.
Nat: Pri, tudo bem se não quiser falar.
Eu: Depois a gente conversa sobre isso tá. – a beijei.
Nat: Dorme aqui vocês duas.
Eu:Não amor eu vou pra casa – abeijei novamente, ela deu um beijo na Clara e fomos embora. Cheguei em casa aClara acordou dei banho nela, coloquei as órteses que ela já usava peguei oandador e a coloquei pra andar um pouco. Ela se divertia tava amando. No diaseguinte ela foi pra escola de órtese e andador pela primeira vez. Eu fiqueiapreensiva, mas ela tava super feliz. As professoras se emocionaram, a diretorada escola... Minha filha tá perto de voltar a andar... Eu passei a semana todapraticamente fugindo da Natalie. Eu não sabia como abordar esse assunto comela, eu tinha medo de perde-la, por ela achar que estou sendo cruel. Estavacompletamente insegura.
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NATIESE: AMOR E SUPERAÇÃO (TRAUMAS, REENCONTROS E RECOMEÇO)
FanfictionQuando sua vida toma rumos que você jamais imaginou e você sente que nunca mais será feliz, o destino vem e muda TUDO...