Capítulo 3

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XX: Boa tarde Senhora Pugliese.

Eu: Boa tarde senhorita Smith – me virei falando com ela e nos chocamos quando nossos olhos se encontraram. – Natalie? – falei assustada.

Nat: Priscilla – ficamos em silêncio acho que por um minuto e nesse 1 minuto nossa juventude inteira passou diante dos meus olhos. – Meu Deus... É você mesmo? – Falava ainda assustada.

Eu: Não acredito... – um sorriso leve, porem aberto saiu do meu rosto – Eu não te vejo há 14 anos.

Nat: Isso mesmo meu Deus – riu e veio me abraçar. A muito tempo eu não abraçava ninguém além da minha filhinha.

Eu: Senta por favor... Nossa não acredito que seja você – sorri de leve.

Nat: Nem eu... – retribuiu o sorriso. – Vamos focar primeiro né? Quero falar sobre a Clara.

Eu: Sim e como foi com ela?

Nat: Ela é uma graça de menina. Ela é muito apaixonada por você, por desenhos, e pela cor rosa, lilás e azul – rimos – E ela falou que quer ter amiguinhos para brincar – eu suspirei – Ela falou que tinha irmãos e agora não tem com quem brincar e tinha outra mamãe também. – ela me falou várias coisas – A cabecinha dela é bem boa para uma criança de 3 anos que passou por grandes traumas embora eu não saiba exatamente o que aconteceu. E minha intervenção a principio seria colocá-la numa escolinha. Acho que vai ser de extrema importância pra ela.

Eu: A Rafaela falou o mesmo. Ela até já viu um colégio pra ela, parece mesmo excelente o lugar, mas eu não sei se é boa ideia. Desde que tudo aconteceu, não saímos de casa mais. Foram raras as vezes. Eu não dirijo mais eu tenho muito medo da Clara sofrer alguma retaliação ou preconceito na escola por ser cadeirante.

Nat: Priscilla, você está sendo preconceituosa com a sua filha. Ela entende mesmo com 3 anos que a condição dela é temporária e que pode demorar a passar e mesmo assim ela está bem com isso e ela quer muito fazer amigos. Olha o tamanho dessa casa desse jardim. Ela não explora tudo isso e nem tem amiguinhos para brincar. É solitário pra ela. É muito diferente ela brincar com você e com a babá e brincar com outras crianças. O começo pode ser difícil para ambas, mas é natural ser difícil. – eu nem percebi que já estava chorando e a minha sessão já tinha começado. – Soube pela Rafaela que você não sai de casa desde o fato trágico que passou.

Eu: Sim... Eu sai pouquíssimas vezes, só para exames médicos e mesmo assim eu não dirigi, eu não consigo mais dirigir, eu não me sinto segura pra isso.

Nat: E quem cuida da empresa, quem cuida das despesas da casa, quem faz supermercado?

Eu: Ester faz supermercado, e quando precisei sair ir ao médico e levar a Clara ao médico o Tony que é segurança da casa dirigiu. E as contas ficam em débito automático ou pago online. A empresa eu tenho trabalhado de casa e a Rafa cuida de tudo por lá.

Nat: Você não acha que voltar aos poucos não vá ajudar você a quebrar essas barreiras da insegurança?

Eu: Não é insegurança – levantei e comecei a andar pelo escritório.

Nat: O que é?

Eu: Ela é... Muito pequena... Não quero que outras crianças sejam hostis com ela.

Nat: Não estamos falando da Clara. Estamos falando da Luíza, estamos falando de você. – eu fiquei em silêncio. – O que aconteceu Luíza? Como foi esse fato trágico familiar?

Eu: Eu nunca falo sobre isso – abri a garrafa de uísque e me servi. Peguei um comprimido para dor de cabeça coloquei na boca e bebi o uísque.

Nat: Não pode misturar álcool com remédios. A quanto tempo faz isso?

Eu: Isso o que?

Nat: Bebe álcool com remédios. – me encarava.

Eu: Eu...Não sei. Mas não se preocupe, nunca passei mal ou fiz mal a minha filha por isso... Acho que essa sessão acabou.

Nat: Não. Ainda temos 30 minutos.

Eu: Eu disse que acabou... – ela não resistiu.

Nat: Ok... Até a próxima. – levantou e saiu da minha sala. A vi falar com a Ester e entrar no carro dela.

NATALIE NARRANDO...

Fui para minha consulta a domicilio hoje. Confesso que não me sinto a vontade fazendo isso, mas a mulher que me contratou me explicou que era um caso extremamente importante. Ela não entrou em detalhes e eu acabei topando. A pequena Clara Pugliese é um docinho de criança, linda demais, falante, espirituosa e um tanto solitária. Ela precisava de amigos da idade dela de interação com crianças da idade dela. Conversei um pouco com a babá e a governanta da casa e elas me disseram que a mãe é extremamente carinhosa com ela, mas isso não supre a falta de amizades com crianças da idade dela. Logo fui até a mãe. Quando entrei no escritório ela estava em pé de frente para uma grande porta de vidro com uma vista linda para o jardim e a piscina. Muito bem vestida, cabelo levemente ondulados soltos pelas costas. A cumprimentei e quando ela virou para me olhar o choque foi tremendo. Priscilla Alvares, minha ex namorada do colégio. Eu não a via há 14 anos e ela estava deslumbrante, porém com um olhar bastante carregado de dor e trauma. O primeiro impacto do reencontro ela sorriu pra mim e foi um sorriso que claramente demostrou não aparecer naquele rosto a bastante tempo. Logo comecei a falar sobre a Clara e o desconforto dela com a ideia de colocar a menina numa escolinha foi extremo. Tocar no passado, no que aconteceu a ela, causou ainda mais aflição a ela e um comportamento incomum com tremores, uma feição carregada e uma medicação um pouco mais forte para dor de cabeça, com um grande copo de uísque. Isso era preocupante. A sessão durou pouco quando a pedi que falasse sobre a tragédia que ela e sua família haviam passado. Deixaria para abordar o assunto novamente na próxima sessão. Fui para o consultório ainda tinha dois pacientes e logo fui para casa. A Anna foi pra lá, fizemos uma massa abrimos um vinho.

Anna: Está com o pensamento longe o que foi?

Eu: Lembra da minha exceção em atender a domicilio?

Anna: Lembro o que tem?

Eu: É a Priscilla, minha ex namorada do colégio lembra dela?

Anna: Sim lembro de você falando dela. Nossa... E ai?

Eu: Não posso falar da consulta. Mas foi surpreendente reencontrá-la depois de 14 anos sem qualquer noticia sobre ela.

Anna: Talvez possam resgatar o que tiveram há 14 anos. – riu.

Eu: Ai nada a ver. Agora ela e a filha são minhas pacientes. – olhei para a praia – Ela está linda. Mais do que costumava ser.

Anna: Hum – riu.

Eu: Ai Anna deixa de ser ridícula... 

NATIESE: AMOR E SUPERAÇÃO (TRAUMAS, REENCONTROS E RECOMEÇO)Onde histórias criam vida. Descubra agora