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▪︎ MARIA LUIZA ▪︎

2 dias depois...

Olhei nos armários e bati as portinhas quase quebrando. Comer vento não dá e morrer de fome eu não ia nem fodendo.

Nat: Para de bater essas porra, garota - Reclamou. - Se não tem comida, vai comprar!

Malu: Tu veio fazer oque aqui mesmo? - Ela mandou dedo e eu continuei olhando ali pra ver se tinha alguma coisa.

Passei essa madrugada em casa sozinha, chorando pra cacete. Lembrei da minha mãe e de quebra a vizinha ainda ajudou colocando música triste e uns louvor.

Eu tava sentindo tanta falta dela. Os abraços e beijos de manhã, o cheirinho de comida que só ela sabia fazer e o tempo que passávamos juntas... tudo aquilo era essencial pra mim e eu tava sentindo muita muita falta daquilo.

Taquei um copo dentro da pia, que quebrou e acabei me cortando. Tava no puro ódio, eu não tava entendo o porque de tudo aquilo estar acontecendo comigo.

Nat: Pra que isso cara? - Ela me abraçou e eu comecei a chorar com ela ali. Tava quase dormindo quando escutei a voz do Rato. Limpei meu rosto e me afastei dela. - Tu nao come nada não, é?

Rato: Tem comida aí, pô.

Malu: Tu come vento? Poeira? - Ele fez cara feia e jogou um monte de nota de cinquenta em cima da mesa. Peguei e enfiei no bolso, saindo dali.

Rato: Vai pa onde?

Malu: No cu do Conde - Ele fechou a cara e entrou pra dentro de casa. Fui no ponto de moto táxi e pedi pra ele me levar na feira. Assim que ele chegou, o paguei e desci dali.

Primeira coisa que fiz foi comprar meu pastel de frango com caldo de cana e botei tudo pra dentro.

Eu tava morrendo de fome!

Quando terminei, fui no mercado ali perto e só depois voltei pra feira. Comprei frutas, verduras, temperos e outras coisas.

Saí de lá feliz da vida e voltei pro morro. Pedi pro Marcola levar as bolsas pra casa do Rato e com muito custo ele fez o favor.

Parei perto de uma barraquinha que tinha ali na entrada do morro e gastei o resto do dinheiro que tinha sobrado. Eu tinha que me mimar um pouco e nada melhor doque comprar coxinha, açaí e mais um monte de besteira.

- Deu R$ 27,30.

Malu: Obrigada aí - Paguei o cara e fui subindo, comendo do pote de açaí. Olhei a movimentação e do outro lado da rua uma senhora subia cheia de sacolas no braço. Corri até ela e quando fui pegar uma das bolsas, ela afundou a mão na minha cara. - Tia do céu! Eu só queria te ajudar!

- Como que tu chega em mim assim, menina? - Disse me entregando as bolsas. - Me ajuda aqui que tá pesado mesmo. As pestes que eu criei não me ajudam a carregar nada disso. Acham que só porque viraram bandidos que podem me largar de mão assim... pau no cu deles. Eu vou comprar, carrego e na hora de comer, chama até os mano pra ir lá em casa - Negou. Eu só sabia rir do jeito que ela falava. - Bando de desocupado. Tem mais droga na mente doque vende.

Malu: É assim mesmo tia - Ela me encarou de cara feia. - Que foi?

- Me chama de mãe, vó ou Celeste - Avisou. - Me chama de tia mais uma vez que eu soco esses tomate no teu rêgo - Assenti, rindo. Andamos mais um pouco e logo entramos na casa dela, que não era muito longe. - Muito obrigada minha filha. Se não fosse por você eu teria trago essas sacolas sozinha.

Malu: Tem nada não, vó - Ele sorriu. - Agora eu já vou indo, tá? Também acabei de chegar da feira e tenho que arrumar as coisas na cozinha e fazer alguma coisa pra comer. Porque se depender da pessoa que eu moro, a comida apodrece lá e ninguém come nada.

Celeste: Não quer ficar e tomar um café comigo? Você tá tão magrinha - Disse apertando meu braço. - Tem um bolo de cenoura com chocolate aqui fresquinho - Ela me olhou igual aquelas crianças quando quer alguma coisa e não teve nem como recusar.

Malu: Uns dois pedacinhos de bolo não fazem mal a ninguém né?! - ela riu assentindo e sentamos na mesa da sala, começando a conversar sobre tudo e todos.

Saí de lá era por volta das oito, com a promessa de voltar outro dia e com mais dois pedaços de bolo na mão.

Meu humor tava ótimo e eu tava ignorando todos, zelando pela minha paciência.

Entrei em casa e escutei gemidos vindo do andar de cima. Eu parei na hora. Ele não fez isso comigo, de novo não.

Subi sem fazer barulho e olhei dentro do quarto pela porta entreaberta.

William tava jogado na cama de toalha dormindo de bruço, com a televisão ligada no pornô.

Neguei, desligando a tv e saindo dali.

Rato: Maria? - Olhei ele que tinha deitado de barriga pra cima. Os dois braços dele estavam com marcas que eu bem conhecia. Ele tentou levantar, mas caiu pra trás resmungando. - Deita aqui comigo, nega?

Malu: Você é maluco? - Perguntei me aproximando. - Qual o seu problema? Por que não fica só na maconha? William, você sabe que essas parada mata, por que usa isso?

Rato: Calma, porra! Muita pergunta pra um cara drogado que nem eu - Riu. Revirei os olhos e tentei sair dali, mas ele segurou meu braço. - Qual foi, Maria? Deita aqui comigo, pô. Sem maldade mermo.

Malu: Tá merecendo nada não - Ele me puxou mais forte e eu caí deitada no peito dele. - Idiota!

Rato: Eu sei pô - Encarei ele. Rato tava drogado mesmo! - Desculpa as parada que eu fiz? Foi por mal não, sério mermo. Eu me drogo muito, tá ligada? Não nego que eu tava no erro contigo vacilei pra caralho, mas eu sou humano, Maria. Vou errar muito ainda e enquanto tu tiver comigo vou tentar me consertar...

Malu: William? - Ele riu, me empurrando. - Você tá drogado! Tá falando isso da boca pra fora.

Rato: Tô na pureza contigo - Falou fechando os olhos me puxando pra deitar nele. - Teu cheiro é bom demais! - Sorri. - Tu é foda, nega.

155 [Morro]Onde histórias criam vida. Descubra agora