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▪︎ MARIA LUIZA ▪︎

Era quase madrugada quando acordei do pesadelo.

O momento em que William atirava uma bala bem na cabeça do Paulo me atormenta a dias, mesmo eu nem sabendo como tudo tinha ocorrido.

Eu estava suada e com muito, muito calor. Cacau dormia do meu lado e beijei sua cabeça antes de me levantar. Tomei um banho de agua fria e saí do box com a toalha no corpo.

Me olhar no espelho naquele momento foi a pior coisa que fiz.

Meus olhos estavam vermelhos e cheios de olheiras. Eu não dormia bem a dias e só comia por conta do meu filho.

Voltei pro quarto e me vesti com um blusão e uma cueca boxer da Calvin Klein. Me sentei na cama e apoiei os braços na perna e a cabeça nas mãos. Fixei meus olhos num ponto fixo e deixei as lágrimas caírem no ritmo delas.

Cara, sinceramente. A dor de perder alguém próximo é imensa, dolorosa demais e eu não desejo isso nem pro meu pior inimigo.

Nós realmente somos instantes.

Em um instante você tá vivo e no seguinte pode não estar mais. A vida é mais imprevisível do que parece e isso é oque mais me assusta.

Senti braços no meu ombro e olhei pra cima vendo Uriel me olhando preocupado.

Aquilo só me fez chorar mais.

36: Porra! Aí tu me quebra - Ele sentou do meu lado e me puxou pra sentar no colo dele. Chorei com direito a meleca escorrendo pelo nariz e soluços. - Namoral? Se eu pudesse voltava no tempo e fazia Galego levar vocês embora, só pra não ter que te ver chorando desse jeito.

Malu: Eu sinto tanto a falta dele, cara.

36: Eu sei e você não é a única... mas é oque eu te falei... - Ele secou meu rosto me fazendo olhar ele. - Galego tá melhor que a gente.

Balancei a cabeça e voltei a chorar sem controle algum.

Uriel tava com o cheiro de sempre; maconha e perfume masculino. Aspirei o cheiro tantas vezes que com o passar do tempo fui me acalmando.

36: Tá melhor? - Neguei e ele fez careta. - Tá com fome? Trouxe lanche pra vocês - Assenti e ele se levantou indo pegar a sacola. Puxei a coberta pra me cobrir e abri o saco assim que ele me entregou. Uriel tirou o chinelo e a camiseta indo pro lado da Cacau. - Pessoal da creche ligou perguntando por que ela não tava indo mais.

Malu: Ela chora perguntando pelo pai sempre que acabo de arrumar ela - Olhei pra ele. - Quando ela começa, eu também começo e no final a gente acaba dormindo de tanto chorar - Ele sorriu fraco. - Não sei como contar pra ela.

36: Uma hora sai - Assenti e voltei a comer querendo acabar com aquela conversa. Ele sentou na minha frente e pegou o pacote colocando em cima da cômoda assim que terminei. - Acho melhor eu meter meu pé pro quarto.

Malu: Não - Puxei ele. - Dorme aqui comigo, por favor.

36: Tem certeza?

Malu: Não vou pedir duas vezes, Uriel - Ele riu e eu fui escovar meus dentes. Assim que terminei vi ele deitado na ponta da cama com o celular nas mãos. Passei por ele e deitei no meio puxando a coberta pra cima. Virei de costas pra ele e fiquei fazendo carinho no rosto da Cacau. O rostinho era igual ao do Paulo quando dormia.

36: Ei - Ele me virou e eu abaixei a cabeça com vergonha dele me ver chorar mais. - Maria, para de chorar por favor.

Malu: Eu não consigo é uma coisa que tá no automático e eu não consigo tirar - Ele soltou o ar e me puxou pro peito dele. Limpei meu rosto tentando parar mas né, a dor no peito tava foda.

Uriel levantou meu rosto e eu pudi olhar nos olhos dele. O seu polegar ficou num vai e vem na minha buchecha como carinho me acalmando. Ele passou a língua nos lábios e eu puxei seu rosto, dando nele um selinho demorado.

36: Eu tô aqui... - Falou assim que nos separamos. Virei de costas e ele me abraçou forte colocando a perna por cima das minhas. - E não vou sair não.

155 [Morro]Onde histórias criam vida. Descubra agora