Depois da festa da mãe de Felipe, eu e ele não tocamos no assunto. A gente ainda estava, digamos, se provocando, mas o fato da gente já ter transado ficou para trás, pelo menos por enquanto.
Isso é claro, até algumas semanas atrás.
Quando eu comecei a faltar as aulas, pois estava passando mal nas mesmas, quando comecei a sentir dor de cabeça, me sentir indisposta e com muito mais fome que o normal.
Minha família estranhou, eu estranhei também. Eu era sedentária mas nem tanto.
Meus medos começaram a criar forma, quando a minha menstruação não veio.
Comprei o temido teste de gravidez, junto com o meu amigo Henrique, fui fazer o teste na casa dele.
- Mas que porra é essa? - Ele perguntou, quando chegamos na sua casa. - Isso é um teste de gravidez?
- Não, é um Dorflex. - Digo, de forma debochada. - Claro que é um teste de gravidez!
- Quem é o pai?
- Se eu realmente estiver grávida. - Eu suspiro. - O pai será o Felipe.
Vi Henrique arregalar os olhos castanhos, passar a mão pelo seu cabelo ruivo e suspirar.
Deu positivo.
Eu conseguia ver meu sonhos irem ralo a baixo. Minha faculdade de gastronomia indo embora e eu sendo uma garçonete de quinta, apenas ansiando pela cozinha.
Quando eu saí do banheiro, já sai chorando, Henrique me abraçou dizendo que vai ficar tudo bem.
- Minha vida está destruída! - Eu chorei. - Vou ser mãe solteira, nunca irei casar e serei una vergonha para os meus pais.
- Mariana, olha o que você está me falando? - Ele disse, me segurando pelos ombros. - Felipe pode ser lerdo, meio tonto e completamente irresponsável. - Ele fala. - Mas ele é meu melhor amigo, e eu tenho certeza que ele não é do tipo que vai deixar você criar essa criança sozinha.
Eu concordei, mas continuei chorando. Ah céus, o que eu fiz?
- Me leva na casa do Felipe? - Perguntei. - Eu não consigo ir sozinha.
- Quer ir lá agora? Você não está bem. - Pensei, era verdade.
- Me leva para a casa da Bia. - Eu digo, ela é bem racional, vai me ajudar.
Fomos andando, Henrique respeitou a minha bolha, fui ouvindo música o caminho todo. No meu aleatório, começou a tocar Billie Jean.
Eu pela primeira vez vi a Billie Jean como uma menina normal, e não como uma piranha.
Ela pode ter dormido com mais de um cara em uma única noite, que bebeu mais do que deveria. O Michael Jackson poderia ser um babaca que estava mentindo, mas sei que eu estava tão ferrada quanto a Billie Jean.
Bato na porta que nem uma condenada e Bia abre assustada.
- O que você fez? - Ela pergunta, eu comecei a chorar.
- Depois que a Mariana te contar, você chama. Esse momento é de vocês. - Ele disse, Bia me guiou até o seu quarto.
Eu sentia vergonha da minha falta de controle, chorava tanto que eu senti meus pulmões ficarem cansados.
- Se acalma. - Ela disse, tentando passar tranquilidade. - Respira, e depois você fala.
Fiquei alguns minutos me acalmando, depois respirei fundo e olhei Bia nos olhos.
- Eu vou falar tudo de uma vez, vai ser como tomar vacina. - Falo, dei um último suspiro e contei tudo. - Na festa do Felipe, a gente transou, sem camisinha, e eu tô grávida. - Eu digo, e não consegui segurar a risada sem emoção. - Pode existir pessoa mais sem sorte? Engravidar na primeira vez! Eu tinha tantas coisas para fazer! Minha mãe vai me jogar para fora de casa! - Eu digo, já sem conseguir segurar as lágrimas.
Bia ficou me olhando sem reação por vários minutos, até que ela me faz uma pergunta.
- Você vai abortar? - Ela pergunta, baixo.
- Não. Não é culpa do bebê que seus pais são uns idiotas. - Eu decidi isso no caminho até a casa da Bia.
- Sim, mas o que você vai fazer? - Ela quis saber.
- Contar para o Felipe, ele ainda não sabe. - Digo, ainda chorando.
- Quer que eu chame o Henrique? - Perguntou.
- Quero que ligue para o meu pai, e avise que eu vou dormir aqui. Eu não vou conseguir contar para minha mãe hoje e nem ver a cara do meu pai. - Paro para respirar. - Eu vou com o Henrique contar para o Felipe, possivelmente Henrique vai ficar lá para dar apoio a ele. - Bia concorda com a cabeça, e eu saio indo executar o meu plano.
Fomos para a casa de Felipe em silêncio, tocamos a campainha e Felipe atende.
Ele abriu um sorriso, que logo se fecha quando ele viu meu rosto inchado pelo choro.
- Olá? Esta tudo bem? - Ele perguntou, ao ver as nossas caras. - Entrem.
Entramos e Henrique se sentou na sala, eu nada fiz, apenas olhei aquele menino cheio de sonhos. Felipe tinha sonhos tão altos quanto os meus. E como eles iriam ralo a baixo daqui a tão pouco tempo.
- O que aconteceu? Por que você não foi a aula hoje? - Ele perguntou, preocupado. - Você está bem?
- Felipe, podemos conversar no seu quarto? É muito sério. - Ele me olhou assustado, porém fomos para o seu quarto.
- Precisamos falar sobre o que aconteceu naquela noite né? - Ele perguntou, meio nervoso. - Não precisamos levar nada disso adiante se não quiser, e eu peço desculpas por não ter falado nada...
- Eu tô grávida. - Digo, e dou o exame em sua mão antes que ele termine de falar.
Felipe ficou parado, olhando o teste de postivo, com os olhos arregalados, e depois de o que pareceu milênios, ele falou:
- O que?
- Grávida. - Digo, sem paciência.
Felipe está mais branco que o normal, esta pálido e com os olhos perdidos.
- Eu sou o pai mesmo?
Apenas fiz que sim com a cabeça.
- O que vamos fazer? - Eu perguntei. - Você vai me ajudar, não é?
- Mas é claro que vou, Mariana. - Ele disse. - Eu não acredito que pensou que eu te deixaria sozinha.
- Não é isso, é que...- Eu falei. - Eu não sou sua namorada, eu não sou nada para você. - Ele me olhou com raiva.
- Não é nada? Para mim? Mariana a gente dormiu juntos, você está grávida de um filho meu, como em algum momento, dentro dessa sua cabecinha você pensou que eu não me importo com você?
- Me desculpa. - Eu digo. - Eu não sabia que você iria ficar tão mal.
- Está tudo bem. - Ele falou. Eu senti as lágrimas voltarem, senti suas mãos nos meus braços, senti ele me abraçando.
- Vai dar tudo certo, vamos ter esse bebê, ele ou ela vai ser feliz e muito amado. - Ele disse rápido, e eu chorei ainda mais diante das suas palavras. - Pelo menos, em tudo que estiver em nosso alcance.
Continei chorando. Chorei por nossos sonhos serem jogados fora, pelo medo do bullying, pelo medo da minha mãe, pelo medo do futuro. Chorei por tudo.
- Shh está tudo bem. - Ele disse, no meu ouvido. - Vai ficar tudo bem, eu tô aqui com você.
Eu acho que foi assim que a Billie Jean e tantas outras se sentiram, mas não sei se todas tiveram alguém para abraçá-las enquanto choravam.
Sei que Billie Jean não teve.
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Impulsividade e suas Consequências (LIVRO 2, CONCLUÍDO) (EM REVISÃO)
Teen FictionMãe adolescente, uma cozinheira animada e com a mente fora da caixinha. Mariana tem seu mundo virado de ponta cabeça depois dos seus 17 anos. Esse livro vai contar a perspectiva da Mariana, e de como foi para ela ser mãe tão nova, juntamente com o s...