15- Bad Day

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Sabe os dias que tudo vai dar errado?

Então, é hoje.

Como minha mãe me alertou, vida de "mulher casada" e de mãe não é um conto de fadas.

Hoje foi o pior dia que eu tive desde que o Harry nasceu.

Tudo começou antes mesmo do dia começar. Eu e Felipe estávamos em um, digamos, momento de tensão.

Porque o idiota do meu namorado está chegando atrasado no trabalho, e para piorar, estava deixando tudo bagunçado na nossa casa.

- Felipe Santos Soares! Vem aqui na sala agora! - Gritei, quando vi o estado da minha sala.

- Que foi? - Ele disse, meio sonolento.

Hoje era sábado, o que justificava o fato dele ter acordado tão tarde.

- Olha a sala! Refrigerante na mesa de centro, pizza no sofá branco, molho no chão e papinha de bebê espalhada pela mesa da cozinha!

- Bem em minha defesa, a papinha foi culpa do Harry. - Ele disse, apontando para o nosso filho.

O coitado estava dormindo no carrinho, inocente e bem quietinho.

- Mas quem deu a merda da papinha foi você! Quando eu dou, fica tudo limpinho. - Reclamo.

- Então eu acho que você deveria passar a dar comida a ele. - Ele gritou de volta.

- Sim, dar comida, banho, botar pra dormir e tudo mais! Porque sou eu que faço tudo em relação a ele. - Eu disse, já gritando.

- Do jeito que você fala parece que cuida dele sozinha! - Ele gritou.

- E cuido mesmo! - Respondi.

- Não desconta sua tristeza em mim! Você está assim desde que a Bia foi embora! - Ele me acusa.

- Sim, porque ela me ajudava a limpar a casa, a cuidar do Harry! Coisa que você deveria fazer, mas não faz! Ao invés disso, suja mais.

- Já que eu sou tão inútil e só atrapalho, você deveria criar o Harry sozinha!

- Eu deveria mesmo! - Respondi e percebi que ele ficou chateado, mas não me intimidei, ele que veio com essa sugestão estúpida.

- Então tá. Eu vou trabalhar e antes do fim da semana eu não moro mais aqui!

- Então tá! - Respondi, ainda gritando.  - Então pelo menos leva o Harry para a casa da sua mãe que eu vou ter que arrumar a bagunça que você fez na minha casa.

- Nossa casa. - Ele responde.

- Minha casa. Você não mora mais aqui!

- E você nem liga!

- Não ligo mesmo! Não dizem que os casais de ensino médio acabam? Então, acabou! Vai embora! - Gritei, com raiva.

Mas eu não queria que ele fosse, queria que ele ficasse, queria construir uma família com ele, no caso, manter a família.

Mas ele que deu a idéia de ir embora, e para ele ter falado isso, quer dizer que ele já queria me deixar...

Ele já ia fazer o que eu pedir, quando ouvimos Harry começar a gritar.

Fui até ele e o vi tossindo, quando eu o virei, ele começou a cuspir catarro e depois chorou. Notei seu nariz escorrendo, coisa que já estava acontecendo a alguns dias e ele estava, com certeza, com febre.

- Felipe, vamos para o hospital! - Disse, apavorada. - O Harry está com alguma coisa. - Reparei que ele estava com dificuldades para respirar.

A primeira coisa que veio na minha cabeça foi que ele iria morrer. Acho que quando o vi vermelho e vomitando, e entrei em pânico. E ele era tão novinho, não deveria passar por isso.

Felipe veio em disparado, já com roupa de sair, com as coisas do Harry.

- Vamos logo. - Ele disse.

Levamos Harry em um hospital aqui perto, quem paga o nosso plano de saúde ainda é a mãe do Felipe, então não nos preocupamos com as despesas.

Quando nos atenderam, eu fiquei vendo como estudavam o meu filho, viravam massagevam e mexiam nele. Isso me deu uma angústia tão grande...

Foi confirmado que era uma gripe, simples para nós, mas séria para um bebê tão novo.

- Esses sintomas aparecem antes de chegar a esse estágio. Como não perceberam? - O médico nos perguntou. Me senti a pior mãe do mundo quando não notei o que estava acontecendo com meu filho.

Receitaram um antibiótico que ele teria que tomar por uma semana, se não melhorasse, era para levá-lo novamente.

Saí do hospital ainda aflita segurando meu filho adormecido nos braços.

Pegamos um ônibus e logo estávamos em casa.

Dei um banho em Harry, dei o remédio e logo ele estava dormindo novamente.

Eu deitei na minha cama e comecei a chorar. Harry estava doente porque eu não levei ele para tomar a vacina no dia certo, Felipe ia embora de casa e eu virei mãe solteira. Tudo isso em menos de cinco horas.

Não sei quanto tempo se passou, só sei que eu dormi chorando com o meu travesseiro.

Acordei com alguém fazendo carinho no meu cabelo.

Abri os olhos devagar, me acostumando com a luz e vi Felipe, deitado ao meu lado.

- Oi. - Ele disse.

- Oi. - Respondi, com minha voz meio rouca.

- Você sabe que aquilo que eu falei hoje mais cedo, foi porque eu estava nervoso. - Ele disse, ainda fazendo carinho no meu cabelo. - Sabe que eu não vou embora.

Alívio, essa palavra me definia nesse momento.

- Eu não acho você um inútil. Só acho que poderia sujar menos a casa. - Ele sorriu. - Desculpa.

- Desculpa. - Disse, me dando um leve beijo nos lábios.

Já tinha se passado mais de um ano desde o nosso primeiro beijo, mas não mudou a sensação. Formigamento na boca do estômago, pele queimando com o toque e uma sensação de felicidade inexplicável.

- Eu te amo sabia? - Eu falei.

- Sabia. - Convencido! - Eu também te amo. - Ele respondeu, sorrindo.

- Promete que nunca mais vamos ameaçar terminar o nosso relacionamento?

- Prometo. - Ele disse, me dando mais um beijo antes de me abraçar e ficar fazendo carinho no meu cabelo.

Acabei dormindo novamente, e dessa vez, em um sono mais tranquilo e relaxado.

Impulsividade e suas Consequências (LIVRO 2, CONCLUÍDO) (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora