Prólogo

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Parem com essa insanidade.

Neste momento, estou me sentindo como se estivesse em uma reunião de doze etapas, como se eu tivesse me levantado assim que você abriu está história. Você está olhando para mim, esperando que me apresente, esperando que lhe diga por que estou aqui. E estou suando frio, suando porque estou nervosa, suando porque este não é o meu lugar, suando porque nunca, em um milhão de anos, imaginei que acabaria deste jeito. Mas como tudo já aconteceu e você está aqui, acho que posso tentar me explicar. Aqui vai, então.

Meu nome é Anahí Portilla. Tenho 29 anos. Sou solteira, e, bem... sou uma mulher fácil. Pronto, falei. Sou fácil. Sou mesmo. Agora você sabe. Sempre suspeitei de que eu fosse fácil, mas nunca tive certeza, pelo menos até uns seis meses atrás, quando terminei meu namoro com um cara chamado Tony, que eu gosto de chamar de Tony, o imbecil do East Village.

Embora a decisão de terminar com o relacionamento tenha sido minha, senti raiva com a separação. Raiva por dois motivos. Primeiro, perdi quatro meses da minha vida com ele, um cara que nem mesmo tinha um emprego de verdade. Eu o conheci enquanto estava fazendo compras no Soho (N.T. East Village e Soho são bairros na ilha de Manhattan, um dos cinco distritos, que compõem a cidade de Nova York) certo dia. Ele veio até mim, lindo e charmoso, e disse:

- Com licença, posso perguntar uma coisa a respeito do seu cabelo?

Sim, ele era um daqueles caras. Um homem jovem, bonito e atraente contratado por um dos salões de beleza da área para me adular, de modo que eu ficasse mais propensa a comprar alguns cupons. Desnecessário dizer que caí feito uma boba na conversa dele, e que também me apaixonei por ele. Mas deixe isso pra lá. Esqueça que ele tinha o rosto de um Baldwin (Alec ou Billy quando eram mais novos). Qual era o destino dele na vida? Nenhum, com toda a certeza. Talvez eu tivesse deixado passar aquele pequeno defeito se ele tivesse uma personalidade, mas não tinha.

Conversar com ele sobre qualquer coisa que não fosse cabelo era como conversar com uma caixa cheia de cabelos. Ele era um chato, embrulhado em um belo pacote. Uma contradição em si mesmo. O segundo motivo que me causou raiva na separação foi que, mesmo sabendo que o nosso relacionamento não estava indo a lugar algum, eu dormia com ele. Normalmente isso não seria um problema, mas, ironicamente, acabou se transformando em um grande problema.

Para ser honesta, eu estava começando a ficar preocupada com o meu "número". Estava aumentando cada vez mais, e dormir com Tony não fazia nada além de aumentar ainda mais o número. E, quando falo do meu "número", é claro que estou falando do número de homens com quem dormi. Você pergunta: Qual número, exatamente, é considerado alto para uma mulher da minha idade? Bem, é difícil dizer, porque as pessoas raramente são sinceras a respeito dos seus números. E isso não é nenhum segredo!

Os homens geralmente o aumentam, acreditando que, se as pessoas pensarem que eles dormiram com 40 mulheres, mesmo que só tenham dormido com quatro, vai parecer que eles são garanhões mais bem-sucedidos do que realmente são. As mulheres, por outro lado, geralmente diminuem o número, deixando de fora os homens de que elas gostariam de esquecer. Você sabe: os que elas conheceram em um fim de semana de folga, os dois que eram irmãos e os três que hoje em dia são gays.

Eu admito: sou tão culpada quanto qualquer pessoa quando o assunto é manipular o número. Inclusive, meu número muda, dependendo da pessoa com quem estou conversando. Por exemplo, todos os meus namorados pensam que meu número está em torno de uns quatro (e eles também acham que são os únicos daqueles quatro que me fizeram chegar ao orgasmo, mas isso não vem ao caso). Meu ginecologista acha que o meu número está por volta dos sete, e que eu sempre fiz sexo seguro, é claro (ah, quem estou tentando enganar? Todo mundo já deu uma escorregada alguma vez, e você sabe do que eu estou falando).

Minha mãe, mesmo que eu prefira não falar sobre sexo com ela, acha que meu número é algo em torno de dois (eu precisava de alguém que pagasse pelos meus anticoncepcionais quando estava na faculdade). Até mesmo minha melhor amiga acha que meu número é um pouco mais baixo do que é na realidade, porque ninguém - repito, ninguém - conta todos os detalhes da sua vida para a melhor amiga. Todos esses números são a razão principal pela qual eu fiquei tão preocupada com o meu próprio número. Parece alto, é claro, mas com todas as mentiras que existem por aí, quem poderia saber com certeza?

O New York Post, é claro.

No dia em que Tony e eu terminamos o namoro, meu jornal favorito publicou os resultados da maior pesquisa sobre sexo do mundo. Eu havia acabado de ler um artigo muito interessante (duas colunas de fofoca na página seis) e estava me preparando para descobrir como conseguir aproveitar o meu cartão do metrô ao máximo (como encontrar o amor na Linha F), quando dei de cara com aquela informação incriminadora.

Estava bem ali, entre a média de idade das pessoas quando têm sua primeira relação sexual (17,7) e o tempo médio gasto nas preliminares (19 minutos). "Uma pessoa tem, em média, 10,5 parceiros sexuais durante a vida." Sim, 10,5! Eu quase tive um ataque cardíaco quando li aquilo, pois a verdade é que... bem... Tony, o imbecil do East Village, foi o 19° homem com quem eu dormi. Sim, 19, e houve outros 18 antes dele.

Meu número era quase o dobro da média nacional. Percebendo rapidamente que precisava assumir o controle do meu número antes que ele se afastasse ainda mais de 10,5, aceitei o conselho da minha estrela favorita dos infocomerciais, Susan Powter, e decidi parar com essa insanidade. Você pergunta: Como?

Bem, é simples. Decidi parar de fazer sexo. Não para sempre, não me entenda mal. Simplesmente decidi estabelecer um limite no meu número; um teto, se você preferir outro termo. Percebi que, se eu continuasse fazendo as coisas do jeito habitual, se continuasse fazendo sexo no mesmo ritmo que vinha fazendo, então meu número chegaria a 78 quando eu estivesse com 60 anos. Pois é... que horror!

Considerando que a situação atual era muito grave, decidi estabelecer meu limite em vinte. Sim, vinte. Eu estava me dando mais uma chance de consertar as coisas. Se eu desperdiçasse essa última chance, dormindo com algum Tom, Dick ou Harry qualquer, então eu me forçaria a viver uma vida de castidade e celibato.Talvez seja loucura estabelecer um limite, mas chega um momento na vida em que uma gota d'água vai fazer o copo transbordar. Eu havia chegado àquele ponto. Era o bastante. Vinte, o limite; é assim que as coisas seriam...

Vinte.

Não mais.

Nunca mais.

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Baseada na obra de Karyn Bosnaky
Já está toda escrita, então prometo posts diários!
Começo com leitoras.
Sejam bem vindas ♥️

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