Cinco

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Espero.

E espero.

E, mesmo assim, o padre não responde.

Quando mais tempo ficamos em silêncio, mais me preocupo. Mas então eu percebo uma coisa. Talvez ele tenha entendido mal a minha confissão.

- Não todos de uma vez. Foram 20 homens diferentes, em 20 ocasiões - esclareço.

Pronto, assim está melhor. Acho que isso vai fazer com que ele converse comigo.

Mas não é o que acontece.

Enquanto o tempo continua a passar, enquanto o padre continua em silêncio começa a pesar, me dou conta de outra coisa... talvez ele saiba que eu não estou contando toda a verdade.

- E com uma garota também. Mas não a estou contando nessa lista. Eu estava na faculdade, e tudo que aconteceu foi acima da linha de cintura e... bem, o senhor sabe como são essas coisas.

"O senhor sabe como são essas coisas"? Poe que eu disse isso? É claro que ele não sabe como são essas coisas, ele é um padre! Jesus, eu sou uma imbecil! Oops! Perdoe-me por invocar seu nome em vão!

Como o padre continua sem me responder, um circulo vicioso começa. Fico nervosa, e isso me faz suar. Por sua vez, isso me faz cheira à bebida, o que me deixa ainda mais nervosa, o que me faz suar ainda mais, o que me faz cheirar ainda mais à bebida. Eu me sinto como se estivesse em um daqueles longos comerciais que passam na Tv a cabo de madrugada, em que as pessoas ficam repetindo sempre as mesmas coisas.

De repente, músicas da Madonna começam a tocar na minha mente, e eu deixo que elas toquem porque isso ajuda a afastar o silêncio. "Papai, não me passe um sermão, não consigo dormir à noite. Como uma virgem (ei!), tocada pela primeira vez. Como uma vi-i-i-i-rgem..."

Oh, quem eu estou querendo enganar?

Eu me pergunto se ele ainda está lá.

- Tem alguém aí? - eu pergunto, em voz baixa.

O padre pigarreia.

- Estou aqui. Estava apenas pensando. Deixe-me perguntar uma coisa. Você se arrepende por ter dormido com esses homens?

Eu penso naquela pergunta por um minuto.

- Bem, alguns deles foram trágicos, com certeza. Mas... não, não me arrependo de ter dormido com eles.

- Então por que você está se confessando?

- Porque eu me arrependo por ter dormido com tantos. Eu lamento ter dormido com 20 homens, o senhor sabe, como um todo, mas não me arrependo de ter feito com cada um deles, individualmente.

- Bem, então por que você veio até aqui hoje?

Eu penso naquela pergunta durante outro minuto.

- Porque não tenho um terapeuta?

Obviamente decepcionado com a minha resposta, o padre solta um longo suspiro. Quando eu percebo aquilo, me dou conta também de que foi uma má ideia. Eu não preciso ser julgada, não agora, não hoje. Vou para casa. Levanto-me...

- Espere, espere, não vá embora - diz o padre ao ouvir meus movimentos. - Eu só estou um pouco confuso porque... bem, não tenho certeza do motivo pelo qual você está aqui.

- O senhor já me disse isso - eu digo em voz alta. À medida que a sensação de estar em um daqueles comerciais repetitivos que passam de madrugada na Tv a cabo retorna, eu sinto que o meu rosto está ficando quente.

Honestamente, eu tive um dia muito difícil. Por que as coisas não podiam ter sido mais fáceis?

- Você está certa, eu realmente já disse. Sinto muito... Por que você não me conta o motivo que a deixou irritada, então?

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