Naquela manhã, por volta das 10 horas, eu entro em uma pet shop na avenida Passayunk e começo a procurar pelo meu novo melhor amigo. Eu sei que às vezes sou impulsiva, mas já e venho pensando em arranjar um cachorro há algum tempo. Para tão falar a verdade, desde que me envolvi com Max.
A única razão pela qual eu nunca levei aquela ideia a cabo era o fato de que eu estava trabalhando demais. Mas isso não é mais um problema para mim. Sim, eu sei que uma viagem como a que eu estou fazendo provavelmente não é a melhor ocasião para pegar um cachorro mas isso não vem ao caso.
Como eu moro em um apartamento pequeno, imagino que o melhor a fazer seja comprar um cachorro pequeno. Entretanto, para evitar ser comparada com pessoas irritantes como Paris Hilton I e Tinkerbell, nome da chihuahua de Paris Hilton - desculpe, Tinkerbell, sua dona me irrita muito mais do que você - não vou vestir meu cachorro com roupas de boneca, levá- lo dentro da minha bolsa como se ele fosse algum acessório, ou aumentar a minha voz em um zilhão de oitavas para falar com ele como se ele fosse um bebê ("conversa de cachorrinho"), porque um cachorro não é nada disso.
Em minha opinião, a "conversa de cachorrinho" é o pior de todos esses crimes. É degradante para o cachorro e para você. Eu nunca falei com Max desse jeito, e acho que ele me respeitava por isso.
Perto do fundo da loja, atrás de uma imensa vidraça, há dezenas de filhotes em exposição, esperando por alguém que os leve para casa. Há cãezinhos de todas as cores - cãezinhos brincando, cãezinhos dormindo, cãezinhos fazendo cocô - cãezinhos, cãezinhos, cãezinhos por toda parte.
Quando eles olham para mim, com seus grandes olhos escuros, não evito sentir pena deles. Veja bem, todos são fofos, cada um deles, mas é a fofura de cada um comparada à dos outros ao redor que determina se eles serão levados para a casa de alguém ou não. Tudo se resume à competição em uma pet shop, assim como aquelas danceterias que eu frequentava em Manhattan quando conheci Channing.
Você se sente confiante e sensual quando o porteiro a deixa entrar, mas, quando você está lá dentro, dá-se se conta de que é uma pessoa sensual no meio de outras mil, e começa a perceber o quanto a competição é feroz. É meio decepcionante.
Examinando as gaiolas, passo por três malteses dormindo um em cima do outro, dois jack russell terriers mastigando as orelhas uns dos outros, um buldogue fazendo cocô, e, oh... o labrador cor de chocolate mais foto que eu já vi na vida. Sim, eu quero um cachorro pequeno, mas esse aqui, com certeza, é uma fofura!
Quando eu me ajoelho para olhá-lo mais de perto, o cachorro balança o rabo e aperta o nariz contra o vidro, e depois se deita e rola, mostrando a barriga para mim, e...
Jesus Cristo!
O cachorro, obviamente um menino, está bastante excitado. Desvio o olhar bem rápido, sentindo-me como se tivesse acabado de ver um dos modelos fotografados em uma revista erótica canina.
Voltando a me levantar, eu deixo o labrador chocolate a ver navios quando um garoto que trabalha na loja vem até mim. Dezoito anos de idade, talvez. Ele tem espinhas no queixo e usa óculos do tipo Harrv Potter e tem um sorriso cromado (por causa do aparelho ortodôntico) que vai de uma orelha à outra. Ele tem um crachá no peito, mas eu não quero olhar para aquilo. Não quero saber o nome dele. Por algum motivo, decidi que vai ser Garoto.
- Quer ver um dos filhotes? - pergunta o Garoto.
- Sim... mas ainda não sei qual eu quero ver. A única coisa que sei é que não quero um menino. Quero uma menina.
Não há nada no mundo que me faça comprar um cachorro que seja menino. Não depois do que acabei de ver. Antes que o Garoto consiga responder, eu ouço uma voz aguda e assustadora vindo de trás de mim.
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Qual seu número?
FanfictionNova York, início da Primavera. Anahí Portilla lia seu jornal favorito quando fica horrorizada ao ler, que as mulheres têm em média 10,5 parceiros sexuais ao longo da vida. Acreditando que o número é baixo demais, ela puxa da memória todos os homens...