Domingo, 10 de Abril
O toque do meu celular me acorda. Por um momento esqueço onde estou, mas logo me lembro. Chattanooga, Ed Westqualquercoisa.
Eu pego o telefone e atendo.
- Você está viva? — diz Maite. Ela está gritando.
- Estou sim. Esqueci de retornar a ligação quando me registrei, desculpe — eu digo, resmungando.
- Ah, não precisa se preocupar. Só achei que você tinha morrido, nada além disso — diz ela, com ironia.
Sem demora, percebo que foi uma má ideia dizer a ela que eu ia dirigir durante a madrugada. Depois de me desculpar, eu garanto-lhe que vou mandar notícias com mais freqüência, e depois mudo de assunto.
- E então, você já começou a procurar emprego? — eu pergunto.
- Mais ou menos — balbucia ela. — Atualizei meu currículo, mas ainda não enviei nenhum. Mas sabe o que me disseram? Você conhece a Vintage Vogue?
- Vintage Vogue? Aquela loja de móveis?
- Sim. Eu fiquei sabendo, por um contato, que eles estão expandindo sua linha para incluir todos os tipos de produtos domésticos, de modo que possam ter mais força para competir com Martha Stewart e Elisabeth. E parece que eles vão começar a fazer entrevistas em breve.
- Sério? Isso é ótimo. Gosto da Vintage Vogue. Os móveis deles são bons, e são laváveis.
- É, sim. Você não está preocupada em arranjar um emprego?
- Para ser honesta, eu nem comecei a pensar nisso — digo a ela. — Eu não posso. Preciso me concentrar na minha missão, e somente nela.
- Para mim, isso é loucura — diz Maite.
- Mas não para mim — eu suspiro. — De qualquer maneira, boa sorte com os currículos.
- Obrigada. E boa sorte para você com Ed Wojoalgumacoisa.
- Westqualquercoisa.
- Que seja.
Eu desligo o telefone e decido começar meu dia bem cedo. Assim, como diria Dolly Parton, "Saio da cama e vou até o... err... banheiro do meu quarto no vagão de trem, tomo uma xícara de... café vagabundo feito em uma cafeteira em miniatura e solto bocejo, e me espreguiço, e tento começar a viver". Perseguir homens das 9 horas da manhã às 17 horas é uma bela maneira de não dormir mais com nenhum outro homem!
A manhã está linda e ensolarada em Chattanooga, e o ar traz o cheiro da primavera. Eu me sinto renovada. As lembranças de Channing já estão bem distantes. Ed mora a cerca de dez minutos do hotel onde estou, em um condomínio não muito grande, cheio de sobrados brancos, todos idênticos entre si.
Depois de descobrir qual é o sobrado onde ele mora, coloco meu boné e os óculos escuros. E assim como fiz em Filadélfia, estaciono do outro lado da rua e espero.
O carro de Ed, um Honda marrom de duas portas, está estacionado em frente ao sobrado, então eu tenho certeza de que ele está em casa. Eu sei que aquele é o carro de Ed porque, quando usei o Google para ver o que conseguia descobrir sobre ele, vi que ele havia ganhado o carro em um concurso promovido por uma estação de rádio, há dois anos.
Apesar de relativamente novo, o carro está em um estado lastimável: as laterais estão riscadas, a frente esta amassada e os pára-choques estão com marcas de batida. Parece que há um motorista pior do que eu neste mundo.
Durante a próxima hora, enquanto eu espero, conto tudo sobre Ed a Eva. Ela é minha comparsa, então é importante que saiba sobre o que está acontecendo. Embora eu não tenha certeza, acho que ela entende o que eu digo, porque ela pisca os olhinhos sem parar, e inclina um pouco a cabeça. Mesmo que ter encontrado Channing tenha sido uma enorme perda de tempo, não teria comprado Eva se não tivesse ido atrás dele. Acho que tudo na vida acontece por alguma razão.
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Qual seu número?
FanfictionNova York, início da Primavera. Anahí Portilla lia seu jornal favorito quando fica horrorizada ao ler, que as mulheres têm em média 10,5 parceiros sexuais ao longo da vida. Acreditando que o número é baixo demais, ela puxa da memória todos os homens...