Dezoito

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Domingo, 17 de Abril

Uma semana mais tarde, quando eu entro em uma rodovia do Kansas rumo a Nova Orleans, imagino como vou contar a Maite que vou visitar El Abogado. É suficiente dizer que os meus encontros com Ian, Delaware e os gêmeos Ashmore não tiveram resultados muito bons.

Assim como aconteceu com Ed, eu já deveria saber que nenhum desses quatro seria aquele com quem as coisas finalmente dariam certo.

Sim, as pessoas podem mudar, mas as pessoas realmente estranhas raramente mudam. O primeiro desastre aconteceu quando eu visitei o número 6, Orlando Bloom.

Namorei Land, como eu o chamava, há dez anos, quando estava no segundo ano da faculdade. Quando terminei o ensino médio, eu não sabia exatamente o que queria fazer com a minha vida. A única coisa que eu tinha certeza era que queria fazer faculdade em algum lugar longe de casa.

E "longe" é a palavra-chave nessa frase. Minha mãe não queria que eu me afastasse muito da costa leste, mas deixou que eu me inscrevesse nos processos seletivos da Universidade de Miami em Oxford, no estado de Ohio, porque foi lá que ela estudou.

De todas as faculdades que me aprovaram, essa era a que ficava mais longe de Connecticut. Foi para lá que eu fui, e foi lá que eu conheci Land.
A
melhor maneira de descrever Land é dizer que, se um diretor de cinema viesse bater à minha porta, pedindo para que eu indicasse alguém que fosse o estereótipo de um homem neurótico, eu o mandaria direto para a casa de Orlando Bloom. Ele pensava que era Woody Allen.

Andava como ele, falava como ele e pensava como ele. Ele o imitava de todas as maneiras possíveis e imagináveis exceto uma. Em vez de se sentir atraído por garotas mais novas, Land se sentia atraído por mulheres mais velhas. Do tipo que tem idade para ser a mãe dele.

Mulheres com mais de 50 anos.

Varias mulheres com mais de 50 anos são atraentes. Assim aquilo não me incomodava tanto no começo. Entretanto, depois de algum tempo, aconteceram duas coisas que me assustaram bastante.

A primeira: embora ele negasse veementemente depois do fato, Land passou uma cantada na minha mãe quando ela veio me visitar certa vez. É claro que ela achou aquilo o máximo, um universitário dando em cima dela.

Mesmo assim, quando eu disse a ela que Land havia lhe cantado porque ele gostava de mulheres mais velhas, e não porque ele achava que ela parecia ser mais nova do que realmente era, ela mudou de opinião.

- O que ele está pensando? Que sou uma velha de e tantos anos? - perguntou ela, sentindo-se ofendida.

- Você tem 50 anos, mãe - lembrei- lhe.

- Sim, mas pareço ter menos.

- Eu concordo, mas Land acha que você tem mais.

Uma semana depois de eu dizer aquilo, ela passou por sua primeira cirurgia plástica no rosto.

A segunda coisa que fez com que eu me distanciasse dele tinha a ver com o fato de que ele falava coisas muito sujas quando fazíamos sexo. Eu tinha só 19 anos na época, e, naquele momento da minha vida, verbalizar pensamentos lascivos era algo que acontecia apenas nos filmes com Sharon Stone, e não no dormitório da faculdade, onde eu morava.

Mesmo assim, embora eu pudesse estar desprevenida, não foi só a linguagem chula que me afastou dele. O que realmente fez com que caísse fora foi quando, certa vez, eu e Land estávamos transando no apartamento dele, enquanto ele dizia algo corno "vai, vagabunda, eu sei que você gosta assim!", eu percebi que Land estava olhando para um retrato da sua mãe que estava sobre a mesinha de cabeceira.

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