Quando me viro, vejo meu avô. Ele está bronzeado demais e a tintura de seu cabelo é escura demais, mas ele ainda é um homem bonito. Quando ele vem até mim, também olha pela janela.
- Eu sei. A vista é linda, não é?
- Eu estava falando sobre você - diz ele, colocando o braço ao redor da minha cintura. - Mas a vista também é.
- Obrigada - eu digo, abraçando-o.
- Você vai ficar bem - diz ele. - Você sabe disso, não é?
- Eu sei. Simplesmente estou arrependida de várias coisas que fiz, só isso. Cometi muitos erros.
- Ah... isso não existe! O que existe são as escolhás que fazemos e suas consequências. Só isso.
- Eu sei, mas não consigo parar de pensar que, se eu tivesse feito as coisas de maneira diferente, talvez as consequências não fossem as mesmas.
- E claro que não seriam, mas você também não seria a mesma. Tudo que você faz na vida, seja bom ou ruim, faz de você quem você é. Não fique remoendo suas decisões, dizendo "talvez". Você não pode mudá-las.
- É mais fácil dizer do que fazer.
- Você tem razão — diz ele, acariciando meu ombro - Mas, se você vai pensar sobre o seu passado, em vez de penar nas razões pelas quais não deveria t er feito o que fez... é melhor pensar nas razões pelas quais fez aquilo que fez.
Eu olho nos olhos dele.
– O que você quer dizer com isso?
- Tudo o que fazemos na vida tém elementos de certo e errado.
- Por exemplo.
Meu avô começa a pensar.
- Me fale sobre alguma ocasião em que fez alguma coisa louca na sua vida. Algo que, quando você pensa no que fez, parece não ter sido uma decisão tão inteligente.
Eu rio. Por onde eu devo começar?
- E não economize nos detalhes só porque eu sou seu avó - diz ele. - Dê um bom exemplo.
- Certo - eu digo, depois de pensar um pouco. - Certa vez, eu dei um passeio de moto com um homem que eu mal conhecia pelas ruas de Barcelona, às duas horas da manhã.
Meu avô respira fundo e exala o ar algumas vezes. Quando se acalma, ele me diz.
- Nunca mais faça isso!
- Você disse para não economizar nos detalhes!
(E, mesmo assim, eu não contei a ele sobre a bebedeira.)- Eu sei, eu sei, você está certa - diz ele, recompondo- se. - E até que é um bom exemplo, se eu me esquecer de que você é minha neta. Muito bem, pense nisso e esqueça todas as razões pelas quais você não devia ter feito o que fez.
- Pronto, esqueci.
- Aposto que foi um passeio incrível...
Instantaneamente, eu sorrio.
- Ah, foi mesmo, vovô. Foi maravilhoso!
- Exatamente! - diz ele, apontando para mim para enfatizar o que vai dizer a seguir. - Se você tiver que se lembrar de algo em relação ao seu passado, procure pensar nos pontos bons. Afinal, não há nada que você possa fazer para mudá-lo.
Uau.
É isso mesmo. Uau.
Essa ideia simples e a coisa mais libertadora que já ouvi em minha vida. E melhor do que qualquer livro de autoajuda que já li, ou qualquer áudio livro que eu já tenha ouvido.
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Qual seu número?
FanfictionNova York, início da Primavera. Anahí Portilla lia seu jornal favorito quando fica horrorizada ao ler, que as mulheres têm em média 10,5 parceiros sexuais ao longo da vida. Acreditando que o número é baixo demais, ela puxa da memória todos os homens...