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Terça-feira, 5 de Abril.

- Mas essa é a coisa mais insana que já ouvi!

Mesmo com Maite gritando no meu ouvido, eu o ignoro porque eu li "Os princípios do sucesso: como sair de onde você está e chegar até onde você quer estar", por Jack Canfield. De acordo com Jack, muitas pessoas vão tentar me convencer a não seguir minha visão, dizendo que estou louca, mas eu não devo dar ouvidos a elas. Até pensei em dizer isso a Maite, mas se eu o fizesse, ela, provavelmente, ia gritar comigo e me mandar parar de repetir as frases que leio em livros de autoajuda. Assim, vou guardar minhas opiniões para mim mesma e, em vez de retrucar, vou continuar mexendo nos controles dos limpadores de para-brisa do Ford Focus azul que estou pensando em alugar.

- Atravessar o país de carro para encontrar todos os caras com quem você transou, unicamente para não aumentar um limite auto imposto que você enfiou na cabeça... isso é loucura.

Obviamente, eu acabo contando a ela sobre o que aconteceu com Axel. E sobre Derick. E sobre 10,5. E 20. E os quatro de Dulce. E sobre ser uma vagabunda. Eu precisava fazer isso. Eu nunca poderia cair na estrada sozinha sem contar a alguém o que estaria fazendo. Seria uma irresponsabilidade enorme da minha parte.

- Não acredito que você realmente está pensando em fazer tudo isso - ela grita comigo.

- Não estou pensando. Eu vou fazer. Vou agir.

- Então aja como qualquer pessoa normal faria. Pegue o telefone e ligue para esses caras.

- Não vou ligai para eles! - eu grito. - Vai parecer que estou desesperada.

Maite fica aflita, confusa.

- Ah, e bater a porta das casas deles não vai lazer com que você pareça estar desesperada?

Eu reviro os olhos.

- Maite, Maite, Maite... eu não vou simplesmente bater à porta deles e perguntar como eles estão. Eu vou observá-los a uma distância segura, descobrir onde eles trabalham, o que fazem da vida, e depois vou voltar a entrar na vida deles.

- Quer dizer que você vai persegui-los, ficar de tocaia, como se estivesse obcecada por eles.

- Se você prefere chamar assim...

- Anahí! Perseguir e vigiar pessoas desse jeito é crime! Você pode ir parar na cadeia!

- Eu não vou para a cadeia. Não tem nada de ilegal no que pretendo fazer. A curiosidade faz parte da natureza humana. E eu tenho uma mente inquisitiva.

- Então compre revistas de fofoca, oras.

- Já comprei. Tenho uma pilha de tabloides no meu apartamento que vou levar para ler na viagem enquanto estiver de tocaia. Esse era o item 4-a na minha lista de coisas a fazer.

- Que lista é essa? - pergunta Maite, vacilando. Abrindo a minha bolsa, eu tiro a lista e a entrego. Meu Deus, para uma pessoa que raramente faz listas, eu não acredito que fiz tantas nos últimos dias.

Ela lê a lista. Quando ela termina, ela lança um olhar duro para o bracelete cor-de-rosa no meu pulso.

- É esse aí? Esse é o seu bracelete chinês do amor?

- Ei você acha que esse carro tem freios ABS? - eu perguntava tentando mudar o assunto. Não quero mais ouvir nada sobre aquilo.

- Anahí, preste atenção! Você não está pensando de maneira lógica. Você está entrando de cabeça!

Eu reviro os olhos, Eu já pensei bastante nisso, e sempre a maneira lógica. Durante os três últimos dias eu não parei de pensar nisso.

- Já parou para pensar o quanto isso vai lhe custar? Vai ser uma fortuna. Espero que você saiba disso.

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