Trinta e Seis

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Sábado, 18 de junho

Na manhã seguinte, depois de acordar, abro um sorriso e, ao lado de Eva, vou até a suíte onde Dulce está hospedada, no 29° andar do prédio. Simplesmente, é a parte mais elegante do hotel, e também é o andar onde fica o Starlight Roof. Quando chego ao quarto dela e vejo as portas duplas, percebo que o lugar é especial. Depois de tocar a campainha (não é ótimo?) e esperar, Dulce atende, usando um roupão de seda e com um sorriso que vai de uma orelha à outra.

- Bem-vinda, madame - diz ela, imitando um sotaque russo. - Bem- vinda à minha humilde morada. - E me pega pelo braço me puxando para uma antessala toda revestida em mármore. É tão lindo que eu nem tenho palavras.

- O seu quarto tem uma antessala de mármore? - eu pergunto, levantando os olhos para admirar um candelabro de cristal imenso.

- Oui, ouil - diz Dulce, trocando o sotaque russo para o francês.

Depois de fechar as portas, ela me leva para conhecer todo o apartamento. Assim como o meu quarto, a suíte de Dulce dá para a Avenida Park, mas as similaridades terminam aí. Além de ser significativamente maior, a suíte dela é decorada em tons de azul e verde claro, o que lhe confere uma atmosfera bastante serena.

As paredes são decoradas com panejamentos de linho de cor creme, e várias camadas de seda dourada caem sobre as janelas. Uma lareira cobre uma das paredes do quarto, e um conjunto de sofás e poltronas esta colocado do outro lado. Há candelabros de ouro, espelhos com molduras folheadas nas paredes, e arranjos de flores naturais cobrem todas as mesas.

Também há uma pequena cozinha adjacente à sala, que, no momento, está abarrotada de cestas de presentes. Nós atravessamos uma porta de correr para chegar ao quarto, com seu carpete florido e uma cama tamanho king-size, tão luxuosa quanto o resto da suite.

Do outro lado da cama há um enorme quarto de vestir e, é claro, uma banheira de hidromassagem. Quando voltamos para a sala de estar, nos esparramamos no sofá. Olho para ela, sentada ah e cercada por toda aquela opulência. Ela parece estar muito feliz, mas qualquer pessoa no lugar dela se sentiria assim, não é mesmo?

Sem qualquer aviso, ela me agarra pelo braço.

- Você terminou o namoro com Ian, não foi - eu suspiro e faço que sim com a cabeça - Mas não é por isso que você está triste, não é mesmo? - ela pergunta. Eu olho para ela, um pouco confusa. - Deixe-me tentar adivinhar, e você me diz se estou certa. Você pensou que amava Ian, percebeu que esse não era o caso, percebeu que amava Alfonso e o deixou escapar.

Eu olho para Dulce, maravilhada.

- Uau, você é boa nisso.

Dulce sorri.

- Sou mais esperta do que as pessoas acham - ela diz. Chega mais perto e coloca o braço ao redor do meu corpo - Lembre-se do que eu disse. Se tiver que ser assim, as coisas vão acabar dando certo.

- Eu sei.

- Nossa mãe já sabe?

- Não - eu digo. - Ela vai voltar a pensar que eu sou lésbica.

- Bem, tente ver o lado positivo das coisas - diz Dulce, enquanto acaricia a cabeça de Eva. - Se ela pensar assim, então você e a sua cadela vão ter algo em comum.

Eu rio e abraço Dulce.

Alguns momentos depois, minha mãe aparece na suíte de Dulce e fica paralisada quando olha
os nossos rostos, percebendo que estamos aprontando alguma coisa.

- A última vez em que eu vi essas caras foi quando vocês derreteram uma boneca Barbie na minha mesa de centro. Aquela que comprei em um antiquário.

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