Nas últimas duas semanas, a rotina monótona que eu levava era agraciada pela presença de Ellie, durante nossas caminhadas no Central Park.
Ela me encantava em cada palavra, era surreal. Eu adorava a visão que ela tinha do mundo; que há bondade em todos, que o amor é a solução para os problemas da sociedade e que no fim tudo sempre se resolvia. Ela acreditava no destino, mas estava sempre de pé no chão e com seus próprios planos para sua vida.
– E qual o problema em se sentir bem estando com a El? – questionou Sammy. Nós nos tornamos amigas nessas duas semanas, era muito bom tê-la por perto e saber que ela não contaria dos meus sentimentos pela melhor amiga dela.
Eu havia lhe falado o quão bem eu me sentia quando estava com Ellie.
– Eu tenho medo, não quero fazer nenhum mal a Ellie, Sammy. Ela é boa demais pra mim. – admiti. Nós estávamos no meu apartamento, ela sempre vinha aqui quando Ellie não estava. Era bom, pois aquele lugar era grande demais e eu passava muito tempo sozinha.
– Eu acho que é ela quem deve decidir isso, não? A Ellie sabe o que é melhor para ela.
– Mesmo assim… nem sempre acertamos nas escolhas que fazemos. Mesmo achando que é o melhor. Acredite, eu não sou o melhor pra sua amiga. – ela levantou as duas mãos, em rendimento.
Decidi que iria me afastar de Ellie, mas como criamos a rotina de caminharmos sempre juntas, eu resolvi fazer isso aos poucos. Acho que era o melhor a se fazer. Talvez ela não estivesse tão envolvida quanto eu e o afastamento não faria tanta diferença em sua vida.
– Bom dia, Luna! – era sete horas da manhã e nem com a cara inchada Ellie estava. Usava uma calça moletom cinza e um casaco preto no qual parecia quentinho e confortável. Fazia frio em Nova Iorque naquela manhã. Minha roupa não mudava muito das dela, só as cores.
– Bom dia! Pronta para o dia? Hoje é aquela entrevista, não é? – ela havia comentado que iria tentar um estágio em uma empresa. Eu ofereci um na minha, mas ela não aceitou. Disse que não poderia. Eu respeitei, mas não gostei.
– Acho que meu dia só começa depois dessa corrida, mas espero que dê tudo certo hoje.
– Você com certeza vai encantar os entrevistadores. Você estuda que nem louca, merece isso. – ela sorriu, correndo na minha frente. Logo a segui.
Como eu poderia ficar sem aquele sorriso?
Nós já estávamos no elevador, então decidi dar início ao meu plano. Pigarreei e ela me olhou.
– Eu vou ter que começar a sair mais cedo de casa pra ir para o trabalho, então acho que não vou mais poder te dar o privilégio de correr comigo. – sorri ao falar, tentei não deixar tudo tenso. Não que fosse ficar, pois aquilo não deveria ser importante para Ellie como era para mim. Sei que falei que iria me afastar um pouco, mas naquele instante, era melhor afastar-me de uma vez. Caso contrário eu não conseguiria.
– Como ficarei sem o seu ego me sufocar toda manhã? – ela pôs as mãos na cabeça, dramatizando. – mas falando sério, achei que ser dona de uma empresa te dava alguns privilégios, tipo… chegar mais tarde.
– Eu também achei, mas como chefe tenho que dar o exemplo, não é? Você não ficaria longe de mim se aceitasse minha proposta de trabalhar na Duma. – confesso que a última parte foi um impulso, eu não era de receber muitos "não".
Ela me encarou, com um sorrisinho de lado. Mas notei um leve rubor em seu rosto. Provavelmente Ellie não costumava dizer muitos "não".
– Supera, Luna. – falou, dando um tapinha em meu ombro. Revirei os olhos.
– Essa doeu. – já estávamos chegando no andar de Ellie, o meu era na cobertura. – então… te vejo por aí, teimosinha.
Ela fez careta, mas riu.
– Eu, né? Sei… a gente se vê por aí. – a porta se abriu e então ela disse uma frase que mexeu comigo. – sentirei sua falta. Bom dia.
Não tive tempo para responder, ela saiu rápido demais, me deixando com uma bela cara de idiota.
Ali estava eu, uma pessoa devastada gostando de alguém tão bela em todos os sentidos da palavra.
Vêem porque eu não posso me aproximar de Ellie? Meu passado ainda mexe muito comigo e quando eu conseguir deixar meus pensamentos ruins para trás, ela - provavelmente - já terá netos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Luna.
RomanceEu tenho um trauma. E isso me persegue e me tortura em vários momentos da minha vida. Achei por muitos anos que não sentiria mais afeto por outra mulher, sentia que não fui feita para ser amada de verdade e que tudo que eu tocasse viraria pó. Achava...