Um teto para dois //Shivley

Recomeçar

Los Angeles

"Não a nada mais lindo do que recomeçar"

Shivani Paliwal

Agora são exatamente dez e quinze de uma noite de sábado, eu estou em um táxi atravessando as ruas de Los Angeles para chegar ao apartamento de Sofya, que o divide com Krystian.

Eles são os meus melhores amigos, porém, não sabem que estou indo pois não me sinto em condições de digitar uma mísera mensagem, a única coisa que consigo fazer é chorar.

Um choro silencioso, sendo que o que eu mais precisava nesse momento era gritar e tirar toda essa dor de dentro de mim!

Talvez eu esteja um pouco assustadora demais, meu rímel com certeza está borrado, percebi isso ao secar algumas lágrimas e passar minha mão a blusa branca que eu usava, meu cabelo estava preso em um coque bagunçado, e o motorista já havia me olhado pelo retrovisor algumas vezes, ele deve está pensando que sou uma louca e que fugi de algum lugar.

Com minha cabeça encostada no vidro da janela ao meu lado, observo os prédios altos da cidade, o que só me faz lembrar do que aconteceu.....

Hoje eu acordei decidida que terminaria tudo com Jack e não importa o quanto ele argumentasse minha decisão já estava tomada!

Todos os cinco anos que passei ao lado dele teria fim essa noite, e assim foi feito.

A conversa entre nós não foi nada agradável, como de custume discutimos, mas dessa vez foi diferente, não deixei ele me bater, não dessa vez.

Peguei tudo o que era meu e agora estou aqui desabrigada, espero que meus amigos não me enxotem da casa deles.

Onde estou me metendo ? lá mal cabe eles dois....mas talvez eles até fiquem felizes ao saberem que o meu relacionamento possessivo, agressivo e sem amor chegou ao fim.

Deixa eu contar um pouco sobre o meu relacionamento nada amoroso.

Conheci Jack no meu terceiro ano de faculdade, ele era aquele tipo de homem que toda garota desejava, era gentil, educado, fofo, super família, lindo, gostoso e ainda era atleta. Começamos a nos falar quando fui a um jogo de futebol com Sofy, naquela época ela estava com Taylor e ele era o melhor amigo do Jack, Sofy me apresentou a ele e assim começou.

Nos primeiros meses fomos apenas amigos, ele me tratava bem e costumava me dar sempre uma camélia (minha flor favorita) antes de uma prova importante, como cursei medicina eu estava sempre nervosa e ele achou que aquilo poderia me acalmar.

Seis meses depois de termos nos conhecido ele me chamou para sair como sempre fazia, mas aquele dia foi diferente, demos o nosso primeiro beijo e a partir daquele momento tudo mudou, começamos a ficar com mais frequência, saíamos mais, andávamos pela faculdade agarradinhos.

Tive minha primeira vez com ele, também tive a segunda, terceira, quarta e todas as outras.

Até aí tudo bem, ele me pediu em namoro e fez até uma vídeo chamada com meus pais para ver se eles aceitavam, éramos um casal típico de faculdade, dormíamos no alojamento do campus então sempre dávamos um jeito de nos ver, ele era o cara perfeito e eu só queria ficar com ele para sempre.

Que boba eu fui!

Quando completamos dois anos juntos ele começou a ficar estranho, não era mais tão gentil e não demonstrava tanto seus sentimentos, um dia antes de irmos a festa que Taylor e Sofy dariam ele me fez trocar de roupa.

Eu usava um vestido azul um pouco justo e ele não gostou, achei estranho pois ele sempre achava que aquelas roupas caiam bem em mim, mas aceitei e acabei trocando.

Esse foi o meu erro.

Depois daquele dia ele não parou mais, queria controlar tudo o que eu vestia, não me deixava usar shorts, saias, muito menos vestidos, ele queria sempre que eu estivesse de calça e uma blusa bem larga, que não marcasse tanto meu corpo.

Daí surgiram as nossas primeiras discussões, não queria que controlassem minha vida, só que no final eu sempre me rendia e fazia o que Jack queria.

Optei por não terminar nossa relação pois para mim aquilo era só uma fase, mas não foi.

Ele começou a ficar extremamente ciúmento e obsessivo, gritava e fazia a maior cena por nada, e eu como era boba achava que ele só queria me deixar bem e aceitei tudo, não saia muito com Sofy, meu namorado achava ela uma má influência.

Mas não deixei de vê-la pois éramos colegas de quarto, e foi nessa mesma época que Krystian apareceu em nossas vidas, e também foi nessa mesma época que aconteceu a primeira agressão.

Tínhamos acabado de voltar de um jogo, dessa vez o nosso time havia perdido e Jack estava respirando raiva. Ele estava totalmente exaltado e por esse motivo resolvi ir com ele para o seu quarto, acabamos discutindo, ele apertou com força meu braço e me jogou contra o chão....eu não o reconheci naquele momento.

O que tinha acontecido com o meu Jack ?

No outro dia ele me deu flores, alguns chocolates e um pedido de desculpas gigantes, ali sim eu vi o meu Jack, então conclui que tudo tinha voltado ao normal, mais uma vez.

Que boba eu fui!

Depois de alguns dias ele me agrediu novamente e não parou por aí, eram tapas, apertões, e eu sempre tinha uma desculpa na ponta da língua para os roxos em meu corpo, a única pessoa que eu não conseguia enganar, era Sofy.

Mas para mim o pior era o desgaste emocional que ele causava em mim, mesmo assim fiquei ao seu lado durante cinco anos.

É, cinco anos.

Eu não sei o que tinha na cabeça, mas me sentia presa a ele.

Dependente dele.

No ano passado nos formamos, no ano passado completamos cinco anos juntos, ele comprou um apartamento e fui morar com ele, eu não o amava mais, não sentia carinho por ele mas ao mesmo tempo me sentia presa, presa ao cara que acabava comigo, que me traia e me tratava como um nada....

Até que decidi por um fim naquilo tudo, um fim no relacionamento que estava me matando!

Bom, hoje acabei tudo com ele.

Jack disse que não iria me deixar em paz e que viria atrás de mim, eu estava com medo, mas fiz o que eu já deveria ter feito a muito tempo atrás, peguei minhas coisas e vim embora, e cá estou eu em um táxi que agora já está á frente do prédio de Sofy e krys, o que seria de mim sem eles?

Com um pouco de dificuldade saí do carro com minha bolsa, esperei que o motorista pegasse minha mala então o paguei e segui em frente.

Passei pela portaria e pedi para Carlos não interfonar, como ele já me conhecia bem, me deixou subir, entrei no elevador e me concentrei ao espelho na parede.

Eu vi uma Shivani triste, com os olhos vermelhos e o cabelo bagunçado, mas também vi uma Shivani que tinha acabado de se libertar, uma que estava disposta a recomeçar.

Uma vez minha mãe me falou que, "não a nada mais lindo do que recomeçar"

Dessa vez eu recomeçaria sem Jack, pois ele finalmente, era passado.

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