Inevitável

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(Maio)

"Relacionamentos quebrados..."

Bailey

"Já se passaram quase duas semanas e ainda não acredito que você me abandonou"
Shivani

"Não pensei que teria coragem de me deixar sozinha nesse apartamento e partir, levando contigo meu coração"
Shivani

"Sinto falta de dormir de conchinha contigo, falta dos seus lábios, braços até das mordidas em minha orelha antes de dormimos juntos nos finas de semana"
Shivani

"Por favor, diz que vai voltar"
Shivani

Esse foi o último post-it que li dela, desde a primeira vez em que ela começou com isso de deixar bilhetes o número deles triplicaram.

Faz quase duas semanas que não vejo minha Paliwal, a maioria dos seus post-its são fazendo drama, falando que eu a abandonei e parti seu coração, mas já adianto que isso não é verdade.

Jason pela primeira vez me convidou para participar da viagem de escritório, isso é algo muito importante para a carreira de qualquer advogado.

No começo pensei em não aceitar, não queria deixar Shivani só, com um ser humano desocupado vigiando nossa casa, mas ela não permitiu e me fez viajar a força.

Fui em uma sexta-feira então não consegui vê-la, hoje é quinta da segunda semana do novo mês, eu tentei chegar a tempo antes dela ir para o trabalho, mas acabei chegando às dez, o que não adiantou.

— Alô? — saio do banheiro secando meu cabelo com uma toalha.

— Está marcado?

— Está sim, eu só vou me trocar e chego aí em vinte minutos.

— Quer mesmo que seja no lugar de sempre?

— Sim Gabrielly, isso é importante e quero que aconteça no nosso melhor lugar. Tudo bem para você?

— Se é assim que você quer então está tudo bem — ela respondeu firme do outro lado da linha — Te vejo lá?

— Sim, nos vemos lá.

Eu não sabia se estava nervoso, feliz ou sem reação alguma.

É isso, eu não tinha reação.

Vesti minha camiseta e quando coloquei meu moletom me perdi em um perfume adocicado.

Camélias.

Que saudades da minha pequena Paliwal.

Senti seu doce perfume se misturar com o cheiro amadeirado do meu.

Eu precisava vê-la logo.

~

Estar agora tão perto da antiga praça me traz inúmeras lembranças.

Lembro-me de correr pela grama verde com Any, ficar até tarde e depois levá-la  em casa, chorarmos juntos, da boas risadas.

As vezes eu sinto falta, mas não dessa Gabrielly, da antiga.

Costumamos dizer que esse é o nosso lugar porque sempre fugiamos para cá quando tudo estava difícil.

— Bailey? — a voz dela gela meu corpo assim que me aproximo.

— Gabs — ela permanece intacta no banco velho de madeira — Obrigada por vir.

Seus olhos brilham, ela vai chorar.

— Tudo bem? — ela funga tão baixo que quase não escuto.

— Estou sim, e você?

— Indo — ela brinca com os dedos por cima de sua calça vermelha xadrez.

Já fazia um tempo que eu não via ela assim, seu cabelo estava preso o que era difícil de acontecer.

— Nós, não somos mais um casal, certo? — ela perguntou me desarmando.

— Certo.

A primeira lágrima escorreu de seus olhos.

Droga, eu não queria machuca-la, mas é inevitável. 

Pensei em enxuga-la, mas ela foi mais rápida quando a secou com a manga de seu moletom fino.

— É ela, não é?

Suspirei.

Me sentei ao seu lado e encarei alguns arbustos a nossa frente.

— Não precisa nem responder, o cheiro dessa flor horrível vindo de você já entrega tudo.

Olhei meu moletom.

Any odeia camélias.

O clima entre nós estava tenso e ruim.

— Sabe, tudo o que vivemos, desde que nos conhecemos sempre será um elo entre nós, você sempre será minha melhor ami....

— Não termine a frase Bailey, sabe o quanto odeio quando fala que sou sua melhor amiga quando eu só queria ser a sua mulher, desde o colegial, só queria ser a sua garota, mas infelizmente você partiu meu coração no dia do baile e me fez ter um amor doentio por você, que nunca vai passar.

— Pois eu tenho certeza que vai — o clima entre nós só ficava mais ruim — Uma hora tudo se acerta Gabs, com você não vai ser diferente.

— A verdade é que já me cansei de ouvir a droga da sua voz Bailey, quer terminar comigo? Acaba tudo de uma vez logo, sem teatrinho ou se pegando de bom moço.

A encarei.

Ela está mesmo falando isso?

No momento em que me foquei em seu rosto vi algo roxo em seu pescoço brilhar.

— Você se machucou?

— O que?

— Seu pescoço, ele está roxo.

— Ah, sobre isso. Apenas escorreguei no meu quarto, está tudo bem.

Não engoli muito aquilo, mas se ela estava falando, quem era eu para discordar, certo?

— Aqui o seu anel idiota — ela jogou em mim a caixinha com o anel de noivado que eu acabei perdendo no dia da confusão do jantar.

— Gabrielly, você não precisa tratar as coisas assim — peguei a pequena caixinha do chão — Não somos mais crianças e nem um bando de adolescentes que não sabem o que fazer da vida.

— Foda-se, eu trato tudo como eu quiser — ela se levantou — É melhor contar para ela dos seus problemas, porque se aquele ser humano estranho não for forte o suficiente vai te deixar na sua primeira recaída.

— Não quero falar sobre isso Any — me levantei — Não acontece a quase um ano e você sabe muito bem.

— Eu sei, mas nada impede de voltar.

Ela me encarou e eu respirei fundo.

O que deu nessa mulher.

— Quer saber Bailey, para mim já deu. Vai e tenta ser feliz com ela, mas não vai conseguir se livrar de mim tão cedo.

Antes que eu pudesse dar algum discurso do tipo:

"Tenha amor próprio e não resuma sua vida a um homem de merda igual a mim"

Ela se foi, me deixando alí, confuso e perdido.

Gabrielly nem tentou me beijar ou coisa do tipo.

Não implorou para voltarmos.

Aquele roxo em seu pescoço, suas últimas palavras estranhas, tudo estava muito confuso.

Mas eu sentia um alívio por não termos mais nada.

Um alívio que agora Paliwal se sinta importante, que não sinta como se fosse minha segunda opção ou amante.

Pensando bem, não sei qual dos dois é pior.

//💙

Um teto para dois //ShivleyOnde histórias criam vida. Descubra agora