Capítulo 14

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O paparazzi Carlos estava exultante. Finalmente, o prêmio tão almejado viera, um beijo entre Diogo Guimarães e a tal da garota Júlia. Tudo bem que, não fora recíproco, mas não importava, era apenas jogar uma mentira e pronto, um escândalo na imprensa. Fora difícil esperar o momento certo para dar o bote, mesmo que não fosse verdade, a recompensa de dois milhões de reais era um preço a se pagar.
         
Levou uns dois dias para que houvesse a captura da imagem perfeita na máquina fotográfica. Mas tudo valera a pena.
         
Algumas horas se passaram até que o modelo famoso surgisse junto com o seu amigo para levantar acampamento e, a sorte que, quando começaram a fazer isso, foi bem próximo da barraca do fotógrafo. Então duas garotas vieram na direção deles, antes que pudessem continuar montando as barracas. Uma estava tão agitada que parecia um canguru saltitante e, a outra, transmitia um ar emburrado na cara. Isso chamou a atenção de Carlos, levantando-se do banquinho, andando com o violão nos braços, dedilhando algumas notas enquanto passava discretamente entre aquelas pessoas, tentando ouvir a conversa.
         
O paparazzi reparou nas ações de Diogo, notando um certo desconforto mediante a reação de Júlia que não parecia satisfeita em encontrá-lo, sendo que, logo após as duas jovens irem embora, ele começou a conversar com seu amigo sobre o ocorrido. Carlos ficou mais empolgado ainda ao saber que o famosíssimo ator, Castro Guedes, era o acompanhante da sua vítima, deixando-o faminto em obter um duplo flagra, mas a conversa que eles tiveram, fora bem mais interessante e lucrativa.
         
Uma aposta. Maravilha! Isso provava o quão cretino esse modelo era. Se desse certo, poderia ir embora o mais rapidamente possível dali.
         
No dia seguinte, logo pela manhã, Carlos comeu um lanche, espiando com o maior cuidado a barraca ao lado. Não poderia levantar qualquer suspeita, pois o plano poderia ir por água baixo. Ele notou que Diogo olhava muito para onde as garotas fixaram acampamento, ansioso para que elas saíssem.
        
Gente, como é idiota esse cara. Realmente, músculos e cérebro não se combinam.”, pensou ironizando.
         
Então Júlia e Gabrielle resolveram sair. Carlos esperou para ver o que aconteceria. Diogo chamou Castro. Os dois começaram a segui-las. Bingo!
         
O fotógrafo não tinha pressa, deixando os rapazes tomarem uma boa distância para poder fazer a mesma coisa. Ele pegou a sua máquina e foi ao encalço das presas, fingindo que estava passeando e curtindo um belo dia de sol.
         
Aproximou-se quase perto deles, notando que havia uma cachoeira logo à frente com um grupo que se divertia se jogando de uma pedra alta. Avistou Diogo que espreitava na mata como um leão faminto e Castro estava sentado no chão de costas contra um tronco de uma árvore.
         
Carlos ficou por entre as árvores, escondendo-se para não ser visto, observando cuidadosamente, torcia para que algo acontecesse para tirar uma fotinha comprometedora.
         
Demorou algum certo tempo para que algo de interessante desse início, entediando um pouco o paparazzi. Então notou que Diogo chamava o amigo. Ambos se moveram, fazendo Carlos agir também, vendo o modelo tirar a camiseta, entrando na água enquanto Castro sentava-se em uma das pedras da margem.
         
Tudo precisava ser feito no mais sigilo absoluto. Nada poderia dar errado. Ninguém poderia vê-lo com a sua máquina fotográfica Canon de última geração pendurado no pescoço dele, dando sopa e levantando suspeitas. Por isso, paulatinamente, continuou por entre as árvores, fazendo a volta em torno da cachoeira.
         
Enquanto o tempo passava, Carlos percebeu que Júlia estava desconfortável com a presença de Diogo, parecendo que o cara estava contaminado por um vírus maléfico, não era apenas isso, a garota estava retraída na frente do pessoal que se divertia, alheia, receosa e, possivelmente, medo de estar em contato com os outros seres humanos. Ele não entendia o porquê daquilo, mas passava várias explicações na sua cabeça, entretanto, precisava se focar no plano.
         
O metido à gostosão invadiu a bolha dela, arreganhando os dentes num ar sedutor e educado, ao mesmo tempo. Ela ficou irritada, tentando ir embora, sendo impedida gentilmente por ele. Depois de algumas palavras, principalmente com Gabrielle que aparecera na hora errada,  a moça ficou mais fula da vida. De repente, Diogo agarrou o braço dela, levando-a até as pedras para que pulasse enquanto protestos eram ouvidos por parte da Júlia, indignada, mediante ao que estava acontecendo.
         
O à la Don Juan segurou Júlia que tinha perdido o equilíbrio por causa do medo, ambos ficaram coladinhos um perto do outro. Uma frustração surgiu em Carlos, porque ele havia se distraído esquecendo de dar um clique. Aquela era uma foto perfeita que poderia usar como uma “prova" para conseguir o tão amado dinheiro.
         
Júlia pulou e emergiu da água muito puta, indo embora daquele lugar sem olhar para trás, deixando Diogo a ver navios enquanto Gabrielle se apressava para ir atrás da amiga. O paparazzi suspirou entediado, queria logo uma foto para ir embora da reserva.
         
À noite havia chegado e mais frustração por parte de Carlos exalava das atitudes dele, porque até mesmo na festa da fogueira, nada havia ocorrido.
         
Finalmente, o esperado dia viera com tambores tocando. Depois de uma longa caminhada através da trilha, rodeado pela natureza entediante que parecia um presídio para o fotógrafo e, chegando ao final dela, deu graças aos céus por isso, ficando à espreita do casalzinho improvável que durante todo o trajeto não havia se aproximado um do outro.
         
Notou que Diogo viera em direção às duas garotas falando algo, tendo resistência por parte da Júlia, mas por insistência, caminhou junto com ele para longe.
         
Um sorriso de satisfação saiu dos lábios de Carlos, preparando a Canon para o golpe fatal, seria hoje que ganharia na loteria.
         
Ele seguiu os dois, indo devagar para não ser notado, camuflando-se na vegetação. Presenciou tudo o que ocorrera: a declaração de amor, o beijo e a pisada no pé. O flash fez seu trabalho memorável, eternizando o flagra para todo o sempre.
         
Com a ansiedade lá nas alturas, não viu quando o casal vinte caiu no barranco, apenas absorto em escapar dali sem ser visto, não contando as horas para que a imprensa tivesse a próxima fofoca da semana. Ninguém iria saber que aquele beijo não fora mútuo. Mas quem se importava? Jamais descobririam, não por parte dele.
         
Num rompante, o fotógrafo mau-caráter começou a aguardar as suas coisas e desfazer a barraca, pulando de alegria, interiormente, satisfeito. Ao terminar de empacotar todas as coisas, abriu o porta-malas, inserindo os pertences ali dentro, fechando a traseira do carro logo em seguida. Deu partida no motor, ligou o rádio e foi embora do Simplão cantando os pneus.
         
Na estrada, o paparazzi pegou o celular e discou o número da pessoa que o contratara.
         
- Carlos! – a voz do outro lado da linha falou numa falsa felicidade.
         
- Consegui. Você terá a sua foto!
         
- Excelente! – Havia um enorme regozijo ao ouvir aquelas palavras. – E, quando você vai publicá-la?
         
- Depois do feriadão de carnaval.
         
- Ótimo.
         
- E o meu pagamento? – questionou.
         
- Não se preocupe. Publique a foto como comprovação e receberá o dinheiro.
         
- Tudo bem. Depois te retorno.
         
A ligação foi encerrada.

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