Capítulo 22

271 19 132
                                    

                                Júlia

Eu estava ficando louca! Não era possível! Comecei a namorar Diogo Guimarães! Onde foi parar o meu juízo? Ele era o homem mais arrogante do planeta Terra que tentara seduzir-me de todas as formas possíveis naquele acampamento. Beijou-me sem autorização, causando um acidente e por ironia declarei que o amava. Um psiquiatra precisava avaliar a mente desta moça aqui.
         
Quando aquele momento romântico havia apaziguado, cheguei à conclusão que fora o calor do momento. Eu estava frágil pelos os acontecimentos desagradáveis na minha vida, deixando-me levar por um instante de fraqueza e declarando uma paixão para um cara que sempre conseguia o que queria. Com certeza, ele estava orgulhoso, gabando-se por ter mais um troféu na coleção, ainda, numa prateleira de destaque com a categoria: “mulher mais difícil de se conquistar, conquistada”. Eu ligaria para Diogo e terminaria essa palhaçada de namoro. Entretanto, algo contrapunha-se a esta vontade, pelo simples fato da sinceridade dele, naquele dia. Geralmente, havia um ar dominador, um jeito cafajeste e um narcisismo que beirava a ânsia de vômito, mas parecia que havia outra pessoa, mais sensível, insegura, romântica e humilde. Características que me atraíram, fazendo-me cair em seus braços.
         
Será que toda a rejeição que transmiti no acampamento, nesses últimos tempos, era amor à primeira vista e, eu não estava sabendo distinguir? Se parar para analisar, a maioria dos filmes de romances tinha aquele casal que não se dava bem no início, brigando que nem cão e gato. Poderia ser possível que comigo acontecera a mesma coisa? Todas às vezes que eu olhava para o Diogo, seu jeito e personalidade, lembrava-me de Roberto, o pai que deixou a própria esposa em coma. Pensaria melhor e, com toda a certeza, terminaria o romance. Havia sido muito precipitada neste relacionamento.
         
Diogo me ligou várias vezes na semana, conversando comigo e carregado de um amor na voz que surpreendia até o mais incrédulo ateu. Ele respondia que me amava e eu também dizia o mesmo, contudo, um ar de dúvida pairava na minha cabeça. Não deixei que ele percebesse isso.
         
Outra coisa incomodava-me, as inúmeras mensagens no Instagram de gente que declarava seu ranço por eu ser o pivô de uma separação, como também, mensagens de apoio e inúmeras solicitações de amizade. A sorte que deixei meu IG no privado, porque, caso ao contrário, não haveria paz para mim. Na era só essas mensagens, mas de inúmeros jornalistas e entrevistadores de talk show que queriam falar comigo. Samanta Oliveira, uma das mais famosas nesse ramo, mandou várias propostas de entrevistas, dizendo que queria ouvir a minha versão dos fatos. Não respondi a nem um convite.

Olá, Júlia Mendonça.

Estou interessada que você participe do meu programa All Night. Quero saber o que você tem a dizer sobre o caso do modelo Diogo Guimarães.

Se quiser, entre o contato com a equipe de produção.

Telefone: 11 - 3751-8426

Ou no meu celular: 11- 99843 -5627

         
Não acreditei quando ela passou o seu número particular, realmente, havia um enorme interesse, felizmente, eu não estava interessada. Preferia ficar no anonimato, sem me envolver no mundo das celebridades.
         
Resolvi ligar para a Gabrielle contar os últimos eventos. Ela atendeu no primeiro toque.
         
- Júlia! – disse empolgada. – Como você está?!
         
- Estou bem.
         
- Que bom. Aquele dia na mata foi tenso.
         
- Realmente.
         
- E a polêmica da foto? Está conseguindo lidar com isso?
         
- É sobre isso que te liguei.
         
- Sou toda ouvidos.
         
- Eu fui até a redação da revista.
         
- Sério? – Havia um tom de curiosidade e espanto na voz dela.
         
- Sim. Mas, logo de cara, não consegui entrar. Tive a ajuda de alguém.
         
- Quem?
         
- Do Diogo!
         
- Você está brincando! – exclamou.
         
- Nós nos encontramos lá. Fiquei surpresa. Pensei que nunca mais iria vê-lo.
         
- Até eu.
         
- Ele seduziu a secretária que não deixou-me ter acesso à redação.
         
- O Diogo fez isso? Devo confessar que foi um plano surpreendente.
         
- Concordo. Mas não deu muito certo falar com o editor-chefe. Ele mostrou-se um mau-caráter de primeira linha. Não quis nos ajudar. Disse que não poderia dar o contato do fotógrafo e nem remover a notícia por safadeza, querendo ver o circo pegar fogo.
         
- Cretino.
         
- Tem mais uma coisa.
         
- O que?
         
- Eu e Diogo estamos namorando.
         
A linha ficou muda por alguns instantes e, de repente, uma gargalhada.
         
- Júlia. Essa piada foi boa – falou perdendo o fôlego.
         
- Estou falando sério.
         
- Isso é impossível! – Ela estava incrédula.
         
- É verdade.
         
- Como? Você não queria vê-lo nem pintado de ouro.
         
- Ele me defendeu do editor-chefe que quis me agredir quando joguei o copo de café de Starbucks nele.
         
- Isso foi bem impressionante.
         
- Eu que o diga. Depois que saímos da editora, desabei em lágrimas contando que a minha mãe foi parar no hospital e fui demitida graças a imprudência dele. Inesperadamente, Diogo ficou muito empático comigo e começou a chorar na minha frente, me surpreendendo. Pela primeira vez, aquele ar arrogante e dominador, narcisista e metido havia desparecido, dando lugar a um homem mais sensível e cheio de cicatrizes, dizendo que me entendia.
         
- Nossa!
         
- Aí venho a declaração de amor dele e eu aceitei.
         
- E, depois o planeta Terra explodiu, porque nunca imaginei que isso pudesse acontecer.
         
- Mas há um porém.
         
- Qual?
         
- Eu não sei, se de fato, eu o amo. Acho que fui muito precipitada, deixando-me levar pela tristeza da minha mãe e o choro do Diogo. Estou confusa.
         
- Compreendo.
         
- Acho que vou terminar o namoro.
         
- Olha, desta vez, não vou poder aconselhá-la. Esta situação é bem atípica.
         
- Verdade.
         
- Como você me contou seu caso com o Diogo, preciso te contar uma coisa.
         
- Não vai me dizer que está namorando? – perguntei espantada.
         
- Sim. Estou. Adivinha.
         
- Não sei.
         
- O ator Castro Guedes.
         
- Não! – exclamei chocada. – Ele não estava namorando?! Como?!
         
- Estava. Recebi uma ligação dele aos prantos, dizendo que queria conversar comigo. Fui ao mesmo teatro que vimos a peça “O Beijo no Asfalto" e, ele estava lá, entre lágrimas. Contou-me que encontrou a namorada na cama com outro homem.
         
- Isso é um babado fortíssimo. Ele não merecia.
         
- Verdade. Tentei animá-lo, dando certo. Então eu o beijei. Falei que a ex dele não o merecia e estava livre para ficar com quem quisesse. Disse, também, que sempre quis beijá-lo desde o momento que nós ficamos preocupados pelo sumiço do Diogo e o seu.
         
- Nem sei o que dizer.
         
- Mas, eu, também, tenho um porém.
         
- Diga.
         
- Menti. Nunca quis beijá-lo. Falei isso só para ele esquecer a namorada e não chorar mais por alguém que não o merece.
         
- Amiga. É feio mentir. Precisa contar  verdade.
         
- Eu sei. Entretanto, fiquei tão indignada de vê-lo sofrendo que não resisti.
         
- E quando pretende contar a verdade.
         
- Ainda não sei.
         
- Não demore muito. Duas decepções, logo em seguida, não é legal.
         
- Vou encontrar o melhor momento para fazer isso. Castro mostrou-se tão empenhado em querer me amar. Foi sincero comigo, dizendo que não me amava, e fez prometer-me a ter paciência para esquecer Olívia.
         
- Por isso, deve contar a verdade.
         
- Pode deixar.
         
- Preciso ir. Irei visitar a minha mãe no hospital.
         
- Tudo bem, amiga. Beijos.
         
- Beijos.
         
A ligação foi encerrada.

Pedaço de Mau CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora