Capítulo 25

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                              Gabrielle

Eu me sentia mal por ter mentido. Castro não merecia. Era um cara legal. Já bastava o sofrimento que tivera com a ex. Uma hora, a verdade teria que ser dita. Seria injusto escondê-la. Mas eu fiquei tão triste ao vê-lo daquela maneira, desamparado, como se o mundo houvesse desaparecido diante dos seus olhos. A decepção era algo palpável nele, fazendo-me ter dó. Só faltava criar coragem para dizer com todas as letras a gafe que cometi.
         
Ele era tão simpático, educado, carismático e humilde. Eu não compreendia que houvesse alguém no mundo que pudesse ferir o coração de um homem como esse. Se fosse o Diogo, seria compreensível.
         
Socorro! Eu não queria que ele me odiasse!
         
- Gabrielle? Tá tudo bem contigo, filha? Você está tão distraída.
         
Tinha me esquecido da partida de jogo de dominó de tão pensativa que estava.
         
- Nada, pai.
         
- Tem certeza?
         
- Tenho.
         
- Já sei! É a terceira vez que perde pra mim e já está desanimada – gargalhou.
         
- Eu sou uma boa oponente. Não desisto tão fácil.
         
Eriberto, meu pai, adorava jogar dominó quase todas às noites comigo, um passatempo que ele tinha desde jovem, brincando com os amigos na calçada da casa dele. Era tão bom esses momentos juntos, pois unia a família. Quer dizer, nós dois. Samara, minha mãe, assistia a novela no mesmo instante que nos divertíamos e, Miguel, meu irmão de quinze anos, ficava no seu quarto vidrado no videogame. A única pessoa que nutria a mesma paixão era eu.
         
- Desta vez, eu ganhei! – exclamei vitoriosa.
         
- Droga, eu perdi – reclamou de um jeito engraçado. – Quero revanche.
         
- Amanhã. Estou cansada.
         
- Tudo bem. Vai descansar.
         
Senti a mão dele sobre a minha, quente e calejada de trabalhar como pedreiro.
         
- Filha, eu te conheço a anos, troquei as suas fraldas cheias de coco – brincou.
         
- Pai! – Fiquei constrangida.
         
- Eu sei, exagerei – sorriu. – O que estou querendo dizer que há algo aí dentro de você fervilhando de preocupação. Quando estiver preparada, pode abrir-se comigo.
         
- Obrigada.
         
Não resisti ao jeito doce de meu pai, contei tudo. Ele ouviu com atenção, sem dizer uma única palavra até que eu terminasse.
         
- Bem, filha. O que eu tenho para te dizer é que, mentira tem perna curta. A sua ideia de querer ajudar, a princípio, foi boa, entretanto, com as motivações erradas. O cara saiu do relacionamento de um modo tão abrupto que o seu coração ficou instável. Isso pode piorar.
         
- O que eu faço?
         
- Conte a verdade.
         
- Tenho medo que ele me odeie.
         
- Acredito que não.
         
- Por que?
         
- Do jeito que você me contou, ele é uma pessoa legal.
         
- Farei isso.
         
- Boa menina. Agora, vai lá deitar. Você acorda cedo para ir à faculdade.
         
- Tudo bem. Boa noite.
         
- Boa noite.
         
Deitei na cama com a minha cabeça mais tranquila.

                                 ***

No dia seguinte, acordei cedo para mais um dia na faculdade. Espreguicei-me, indo direto ao chuveiro. A água morna caía revitalizando o meu corpo e despertando da sonolência. Depois pus uma roupa e arrumei a cama.
         
O cheiro do café permeava a casa logo de manhã, inebriando o ambiente com aquele aroma gostoso, trazendo aquele ar de bom dia.
        
Cheguei à cozinha e minha mãe terminava de colocar as coisas na mesa.
         
- Bom dia, filha.
         
- Bom dia, mãe.
         
- Senta aí que vou fazer o seu café com leite.
         
- Obrigada.
         
Ela colocou uma caneca quase até a boca para mim. Bebi. Logo em seguida, cortei o pão e passei a manteiga.
         
- E, o pai já levantou? – perguntei.
         
- Hoje é o dia de folga dele.
         
- Que bom. Ele trabalha bastante naquela construção lá da zona sul.
         
- Verdade.
         
Terminei a minha refeição da manhã e escovei os dentes.
         
Saí de casa. Peguei o ônibus lotado, espremendo-me naquela multidão sufocante. Às vezes eu me perguntava se só havia este ônibus, porque todo dia era insuportável estar de pé por quase duas horas. Ainda bem que, faltava pouco, para completar os estudos.
         
Desci da lata de sardinha, respirando aliviada. Eu não estava aguentando ficar ao lado de um cara que não havia passado desodorante debaixo dos braços, fazendo eu quase me matar ali dentro. Minhas narinas agradeciam agora, livres do mau odor que os estrangulava.
         
A faculdade estava logo à frente, mandei uma mensagem no WhatsApp da Júlia para saber se já estava a caminho.

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