Capítulo 37

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Isabela voltou a contragosto para dentro da cela, não contente por retornar ali, num lugar tão sujo e desagradável. Nunca imaginou que estaria atrás das grades, sem ter o direito de conseguir um advogado para defendê-la. O mais revoltante era o próprio filho que não queria mover nenhuma palha para amenizar este desastre, com a desculpa que sofreu nas mãos dela. Diogo merecia tudo o que passou. O seu bem mais precioso fora arrancado de suas mãos, nunca iria perdoá-lo. Como amou Ezequiel, o seu filho predileto, tinha uma vida maravilhosa pela frente que fora ceifada de modo abrupto. Jamais esperara que uma catástrofe pudesse se abater sobre a família, levando embora um belo rapaz que era o orgulho da mamãe.
         
Ao vê-lo no necrotério, no dia seguinte, morto, uma angústia explodira dentro do peito, dilacerando a alma, deixando-a frangalhos de tanto dor. Não era só pelo dinheiro que a fazia amá-lo, mas saber que ele tivera uma vida totalmente oposta ao dela, com mais oportunidades, além de ser inteligente e uma pré-disposição para ser sofisticado, ao contrário de Isabel que nasceu pobretona e, por um golpe de sorte, causou com um homem cheio de criatividade que fundou uma empresa que foi um estouro no mercado.
         
Não se arrependia do que fizera durante todos esses anos, as atitudes que teve que tomar. O intuito estava mais do que claro, preservar a família, sem se importar com as consequências. Na sua angústia, raiva, ódio e, principalmente pirraça, fez Diogo substituir o filho preferido como uma forma de punição, pois ninguém conseguiria substituir o primogênito, apenas para ser uma segunda alternativa. Já que ele matara o menino prodígio, era mais do que justo compensar na mesma medida, sendo igual semelhante a ele. Sempre o culparia pela sua imprudência de entrar na água no dia que uma tempestade estava prestes a agir. Garoto estúpido! Parecia que tinha o bicho carpinteiro espalhado através do corpo, inquieto e correndo de lá para cá.
         
Além de exigir de Diogo, ela preservou os bens do marido. Essa preservação consistia num segredo que guardou a sete chaves, um ato que cometeu, não querendo que ninguém pudesse dividir a grande riqueza que José Roberto conquistara, por isso, armara um plano infalível para que a TecnoFuture fosse inteiramente do seu cônjuge.
         
Reginaldo era um empecilho e deveria ser eliminado. Forjou um plano, criando provas falsas que o incriminasse, obrigando-o a se desvincular de uma vez por todas da empresa. Ficou receosa no início, achando que seria descoberta, mas os documentos de desvio de dinheiro estavam muito bem falsificados e uma parte do dinheiro fora retirado discretamente, indo para a sua conta bancária. Tudo fora armado com maestria, junto com o contador Moacir que cumpriu o seu papel de uma maneira exemplar.
         
Ela amava o dinheiro, gostava de sentir o cheiro dele, a sensação de liberdade que podia proporcionar. As roupas caras, as comidas, as joias e qualquer coisa com único cartão e o número de uma conta bancária que faziam milagres. Odiava ser pobre, detestava a pobreza e tinha ojeriza a qualquer coisa criada que tivesse a palavra “liquidação", o certo era gastar em coisas sempre mais caras e luxuosas. Para quê dispersar a bufunfa em coisas baratas que não duraria tanto tempo assim? Patético. Era mais prazeroso andar com uma bolsa da Louis Vuitton nos braços, um óculos da Dolce & Gabbana no rosto e uma roupa da Prada que fosse tendência do momento, sendo recepcionada sem restrições, saudada pelas atendentes de lojas que não a olharia de cima para baixo, mas elogiariam por estar vestida tão elegantemente, disputando sua atenção para venderem algum produto.
         
Não podia mensurar a sensação de ser tão bem abastada.
         
Outra coisa que a deixava extasiada, as festas da classe alta, nunca esqueciam de convidá-la, bebendo as melhoras bebidas e deliciando-se com as melhores comidas.
         
Infelizmente, essa libertinagem monetária teve os seus dias contatos, por culpa de Gustavo, aquele canalha salafrário, e Isadora, a filha da empregada. Aqueles malditos! Tiraram as regalias que tanto idolatrava. Se soubesse que os dois seriam obstáculos tão impertinentes, teria eliminado os dois. Uma morte até que cairia bem para eles.
         
O que restava, cumprir a pena de Denunciação Caluniosa que ia de dois a oito anos. Pensando melhor, o que faria depois da pena acabar? Sarjeta, com certeza. Antes tivesse morrido junto com a sua mãe naquele trágico incêndio, onde não teria que passar por essa situação de humilhação, tornando-se pobre novamente como na juventude, sem dinheiro e trabalhando num emprego qualquer, lutando para sobreviver.
         
A única pessoa que sentia gratidão era José Roberto. Um homem que a tirou de uma condição deplorável, levando-a para uma vida de fartura, amava-o de todo coração, um amor sincero, como também, amava-o por ser sua mina de ouro.
         
Não havia mais o que fazer, teria que encarar a prisão de cabeça erguida, ciente que os sacrifícios cometidos foram em prol de um bem maior, a multiplicação financeira da família Magalhães. Os arrependimentos não existiam, apenas agiu pelo que acreditara, não perdendo o foco de seus objetivos, traçando-os com uma maestria deslumbrante, impecáveis, ardilosos, efetivos e com uma determinação admirável.

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