Capítulo 35

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Gostaria de agradecer pelas mais de 4 mil leituras no Wattpad. Fico feliz que estejam gostando da história. Vocês são uns amores. E vamos indo, ainda há muita coisa pela frente.
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Alguns dias atrás, antes de ter uma conversa definitiva com Diogo, Milena teve que encarar seus pais, devido a Paulo participar da festa sem estar na lista de convidados. Foi uma chateação explicar o motivo de convidar alguém e não dar nenhuma satisfação. Pedro e Cornélia queriam saber quem era o rapaz que estava ao lado dela naquela noite.
         
Ela precisou encontrar forças em si mesma para criar uma boa explicação para não revelar sobre a relação que tinha com Paulo e o orfanato. Se soubesse que fazia doações em dinheiro, usando sua gorda mesada, dariam um chilique daqueles. Infelizmente, seu pai e sua mãe não eram os tipos de pessoas que gostavam de estender as mãos ao mais necessitados, ao contrário, preferiam guardar ou gastar em algum luxo pessoal que eles tinham. Nem poderia saber que o “penetra" era pobretão, professor de português que dava aulas no orfanato e trabalhava na produtora de eventos Party Now. Seria um escândalo. Inúmeras restrições viriam, uma delas, não poder visitar os orfanados. O argumento que deu foi que Paulo era um amigo. Ela tinha esquecido de colocá-lo na lista, pois estava na correria de organizar a festa. Os pais dela não ficaram satisfeitos ao ouvir isso. Milena sentiu-se aliviada. Mesmo assim, uma tristeza tomava conta, pois não gostou do modo como trataram seu melhor amigo. Por que os ricos tinham que tratar os mais humildes como lixos? Ser humano é ser humano. Todo mundo iria para o mesmo buraco, a sepultura.
          
Milena ligou para Paulo pedindo desculpas sobre o ocorrido, estava envergonhada do modo como fora tratado. Achava que nem fora uma boa ideia convidá-lo dessa maneira. Ele disse que não precisava se preocupar, ela não tinha culpa de nada, entendia que os ricos tinham as suas frescuras. Mesmo assim, as coisas foram esclarecidas. Ninguém merecia ser maltratado por algo tão ridículo.
         
Depois desse jogo de cintura, teve que lidar com mais duas surpresas.
         
A primeira surpresa era Geraldo, filho de Dagoberto Simões, dono de uma metalúrgica, o mesmo que a abraçara na festa, consolando-a do que tinha acontecido. Fora um cara legal, compreendendo o que estava passando e, durante a festa, os dois conversaram bastante e Milena esqueceu a dor que irradiava por cada parte do corpo. Depois disso, ele viera visitá-la uma vez por semana. No início, pensou que fosse mais solidariedade em relação ao constrangimento que passara ao ver Paulo expulso da festa, mas agora suas ideias meditavam outra coisa, interesse. O rapaz estava interessado nela. Começou notando os olhares, a mão que pousava discreta sobre a sua, os sorrisos constantes nos lábios e uma docilidade na voz que era palpável. Não sabia o que fazer nessa situação, não o amava, e precisava dizer isso a ele sem magoar os sentimentos. Deixaria que as visitas continuassem até encontrar uma maneira viável de explicar com todas as letras que as tentativas de conquistá-la não daria certo.
         
A segundo surpresa era Diogo ligando e querendo conversar. Não ia atender o celular de jeito nenhum. Quem ele pensava para ligar assim, do nada? Com certeza jogaria uma lábia daquelas para que a tonta caísse. Mas quando soube através do segurança que ele estava no portão, e as palavras ditas pelo ex-namorado, ficou espantada. O que a deixou perplexa foi a sinceridade das palavras. Geralmente, um homem quando trai uma mulher, cria mil desculpas para justificar o seu erro, nesse caso, não havia justificativas, apenas palavras honestas. Como queria ter escutado isso desde o começo, a honestidade das ações dele que não chegaram acontecer. Mesmo assim, não tinha muita confiança nisso. Uma raiva a invadiu, ficando revoltada. Tudo não passara de uma mentira. Relacionaram-se de uma maneira fictícia, nada real. O mais frustrante que amava aquele modelo cafajeste e sentia ódio por isso. Tinha sido enganada desde o começo. Ele nunca a amou. Ouviria o que ele tinha para dizer, só que não seria muito solícita, mesmo sendo sincero. E se fosse apenas mais das mentiras deles, uma passada de mel nos lábios dela e iludi-la fortemente? Precisava estar atenta para não cair em baboseiras.
         
Milena avisou ao segurança que Diogo a esperasse no jardim.
         
Permaneceu alguns minutos no quarto, tomando coragem para conseguir olhar o homem que brincara com os seus sentimentos. Quantas mulheres ele já devia ter pego por aí? Quantas foram iludidas por palavras fáceis e encantadoras? Quantas garotas foram levada para a cama? Se continuasse pensando em quantas vezes isso ocorreu, ficaria louca. Respirou fundo indo enfrentar a decepção em pessoa.
         
Tomou cuidado para não chamar a atenção dos pais. Não queria interrogatório naquele momento. Ficariam bravos se descobrissem que Diogo estava a um passo de distância deles, seria uma confusão só. Desceu as escadas da mansão olhando para os lados, atenta a qualquer movimentação. Não havia ninguém no caminho, ficando mais aliviada.
         
Encaminhou-se até o jardim, chegando primeiro, preparada para tudo.
         
Quando Diogo apareceu no seu campo de visão,  a fúria tomou conta, tinha vontade de bater nele, descarregar todo o sofrimento que sentia. A situação ficou mais insustentável quando apenas ele só a observava, não dizendo nada.
         
- O que você quer, Diogo? Você veio só ficar me olhando? – perguntou ríspida.
         
- Na verdade, não – respondeu
         
- Diga logo! Aquelas palavras que o segurança falou foram muito convincentes! – disse irônica – Foi bom ter vindo. Todo cafajeste precisa dar uma explicação, precisa se defender. Assim, vai ser mais rápido cortar a nossa relação. Aquele dia, não dei a chance de mentir pra mim. – Uma fúria exalava dela.
         
Milena não aguentou, a raiva explodiu do peito.
         
- Eu não vi fazer isso. Eu errei, e peço desculpas por isso. Fui um cafajeste.
         
- Belas palavras Diogo. – Milena falou fria. – Aí, eu te perdoo e a gente namora de novo. Então você continua com as suas canalhices.
         
Ela não conseguia acreditar nas palavras dele, a ferida da traição ardia fortemente.
         
- Na verdade, eu não quero mais namorar contigo. Eu nunca te amei. Tivemos um relacionamento a base da mentira, por interesse ao patrocínio milionário de seis milhões de reais que seu pai havia me prometido. Desde o nosso primeiro encontro no cruzeiro, foi tudo interesse. Não quero mais viver no engano. Chega disso.
         
Milena ficou espantada. Era um caminhão de sinceridade que passava por cima dela. Imaginara que Diogo desejaria reatar o namoro e continuar como se nada tivesse acontecido, fingindo que a matéria que saiu na revista fora apenas uma notícia qualquer. Não estava preparada para aquilo. Ouvir da própria boca dele que não a amava estraçalhou o coração.
         
- O quê? – perguntou chocada. – Você nunca me amou... – balbuciou ainda tentando assimilar. As lágrimas começaram a cair dos seus olhos. – Por que está contando isso agora? Quer me ver sofrer? – As perguntas saíam pastosas por causa do choro.
          
- Não. Eu precisava dizer a verdade.
         
Diogo segurou gentilmente com as duas mãos o rosto dela.
         
- Durante muito tempo, escondi o meu verdadeiro eu através de outro homem que nunca existiu. Esse Diogo que você namorou, conviveu e amou ou ainda ama, era apenas uma casca que criei para esconder a dor. Mas, uma mulher, que realmente amo, despertou o Diogo dentro da casca. O amor dela me salvou.
         
- E, quem é ela?
         
- Júlia. A mesma que forcei a me beijar no acampamento e me denunciou no programa da Samanta Oliveira.
         
Milena viu nos olhos dele uma luz intensa ao dizer o nome de Júlia. Ele realmente a amava com todas as forças. Agora, clareando as ideias, notou que Diogo estava diferente. Algo que nunca vira. Era como se estivesse ali, mas ao mesmo tempo não. Havia felicidade no rosto dele, até o jeito de se mover soava de modo humilde. Então entendeu que o amor causara essa mudança.
         
O mais extraordinário foi quando Diogo contou sobre o seu passado para Milena. Ela ficou pasma ao ouvir a história dele, nunca havia imaginado que ele tivesse sofrido tanto no passado. Ficou comovida por cada palavra dita, não era fácil carregar essa culpa. Sentia-se impressionada com o fato de tanta sinceridade. O seu ex-namorado nunca tivera uma conversa tão franca como aquela, embasbacada. A vida deles se resumia em falar da vida agitada que a fama proporcionava, eventos, viagens, noites de sexo e jantares luxuosos. Além da perseguição da mídia que não dava nem um minuto de descanso e queriam saber de tudo sobre o casal mais badalado. Era melhor desse jeito, separados, uma nova vida para os dois.
         
O que a mais deixou decepcionada foi saber que o seu pai não valia o feijão que comia. Usou a própria filha como barganha par ameaçar Diogo e conseguir alcançar os seus objetivos. Essa revelação a deixou puta. Sentia-se traída. O que ela realmente valia para o pai? Por isso, quando o ex-namorado despediu-se, indo embora, não pensou duas vezes, teria uma conversa muito séria.
         
Caminhou furiosa até a mansão, possessa de raiva. Era hoje que os alicerces da família iriam por água baixo.
         
Milena estava tão fora de si e chateada, que não bateu na porta do escritório dele para pedir licença para entrar, mas abrindo num rompante e entrando com tudo.
         
- Eu já sei da verdade! – berrou
         
Pedro Alcântara ficou assustado, nunca tinha vista a filha aparecer desta maneira na sua frente.
         
- O que está acontecendo? Por que você está assim? Sabe de que verdade? – perguntou confuso.
         
- Eu sei que você chantageou o Diogo para que se casasse comigo!
         
- Filha, de onde tirou esses absurdos?
         
- Ele mesmo me contou! Acabei de conversar com ele! Não minta para mim!
         
- Desgraçado! – Pedro falou irritado.
         
- Então é verdade, pela a sua reação é notório que agiu de uma maneira tão sórdida!
         
- Que gritaria é essa? Dava para ouvir do meu quarto – disse Cornélia se aproximando, ainda de camisola.
         
- Meu pai ameaçou Diogo para que se casasse comigo, caso contrário, ele não teria o patrocínio prometido. Ele sabia de todos as andanças do meu ex-namorado! Foi conivente! Me usou como moeda de troca!
         
Cornélia ficou sem palavras. Ela adorava dinheiro, amava futilidades, mas aquilo era demais.
         
- Isso é verdade, Pedro? – Cornélia questionou.
         
Pedro ficou em silêncio, em conflito e com medo de responder.
         
- Responda a minha pergunta, Pedro Alcântara Sanchez! Agora!
         
- Sim. É tudo verdade.
         
- Como você fez uma coisa dessas? Fazer escambo com a nossa filha! Ela não é moeda de troca! Estou desapontada contigo!
         
- Eu também mãe. Nunca imaginei que o meu próprio pai pudesse agir dessa maneira.
         
- Já que estou sendo honesto de assumir o que aconteceu, vou dizer o motivo. Não fiz por maldade. Só desejo o melhor para você, filha. Quero que quando eu morrer, tenha uma vida confortável.
         
- Eu já tenho uma vida confortável! Dinheiro suficiente para mim e para os seus netos!
         
- Só pensei na nossa família.
         
- Pensou no seu umbigo!  Não me dirija a palavra nunca mais!
         
Milena saiu em disparada do escritório.
         
Chegando ao quarto, as lágrimas caíram. Não se conformava como o próprio pai havia a tratado, uma mercadoria. Ele deveria pensar que vivia no século XIX onde havia ainda a questão do dote, de a mulher ser obrigada a se casar contra a sua vontade. Não sabia se ficava aliava por saber a verdade ou não saber de nada. Às vezes, a ignorância é uma bênção, uma dádiva dos céus. Conhecimento vem o peso da responsabilidade de lidar com ela. Ninguém a trataria como um objeto nunca mais.
         
Pegou o celular e ligou para o Paulo, necessitava desabafar. No terceiro toque, iniciaram a conversa.
         
- Oi, Mila. Como você está?
         
- Não muito bem. Será que podemos nos ver? – Sua voz saía com pesar.
         
- Claro. Vamos sim. Pode ser à noite, assim que eu sair do trabalho?
         
- Sim. Onde podemos nos encontrar.
         
- Tem um barzinho aqui perto, é bem frequentado. Eu te passo o endereço.
         
- Está bem.
         
Ela notou. Depois se despediu e terminou a ligação.
 
                                   ***
 
Geraldo ganhara altos elogios de Dagoberto, seu pai, pois agira com estratégia, lidando com situação perfeitamente. Armara um bote, descobrindo que havia um penetra na festa, denunciando-o e pagando de bom moço para a moça. Era o golpe perfeito. Não parava por aí, mais panegíricos vinham mediante as visitas que faziam para a filha dos Alcântara.
         
A intensão consistia de ganhar a confiança de Milena, sendo um cara legal, concordando com as mesmas opiniões do que ela, pensasse igual, tivesse um gosto em comum, apoiando nas mais diferentes ocasiões.
         
Dagoberto precisava apenas que o filho fosse mais rápido e tentasse investidas mais pesadas. A metalúrgica estava prestes a sucumbir, o tempo estava contado. Ainda, tinha que lidar com as constantes greves dos funcionários que exigiam o pagamento do salário que estava atrasado há um mês. Não dava mais. O dinheiro que ainda tinha, conseguia segurar a mídia, dando uma quantia favorável. Mas até quando? Por isso, pressionou o filho ainda mais, exigindo que fosse mais efetivo em suas ações, dizendo que não toleraria falhas.
         
Outra a verdade que não saía da cabeça dele era não apenas só o casamento, pois não era garantia de nada. O plano era Geraldo estar próximo a família e depená-la sem dó. E, também, caso a esposa tola que casara na ilusão do amor, se não sentisse ultrajada por ter tido o seus bens roubados, poderia fazer parte da família dos Simões como um prêmio de consolação. Se não um pé na bunda.
         
Aprendera uma grande lição valiosíssima, saber administrar o dinheiro. Os luxos não seriam mais gastos, só nas necessidades. Mas se o dinheiro acabasse mesmo depois do golpe, quem sabe não haveria outra trouxa para casar? Não haveria problema nenhum. Afinal, era um homem que participava das festas da alta-sociedade, tinha contatos. Tudo poderia ser possível, tendo força de vontade e agindo magistralmente, as coisas ocorreriam tranquilamente. Não podia errar.
         
Geraldo, por sua vez, estava agitado. Queria conquistar Milena o quanto antes. Os seus gastos exorbitantes não podiam terminar. Só de imaginar ficar pobre era algo inconcebível de raciocinar. Pensar em pegar ônibus lotado, usar roupas de qualidade inferior, viver penando para viver com um salário mínimo, não era com ele. Por isso, novas investidas teriam que vir. Ainda mais que o pai cobrara resultados, surgindo uma tensão que tomava conta. Pra aliviar essa carga de responsabilidade, resolveu aceitar o convite de um amigo e tomar uma cerveja. O local era bem aparentado, mas preferia beber umas doses de champanhe num iate com garotos gritando e ele correndo atrás. Mas dava para o gasto.
 
                                  ***
 
O fim do expediente na produtora Party Now havia chegado. Paulo não via a hora de encontrar com o grande amor da sua vida. Estava muito preocupado. A voz dela no telefone não soara legal, mas triste e pesada. Não gostava de vê-la sofrendo. Adorava o sorriso que ela fazia quando a felicidade tomava conta dela, principalmente quando lia para as crianças do orfanato. Como queria que ela sorrisse para ele de outra maneira, apaixonada. Queria muito revelar o grande amor que tinha guardado no peito. Saiu do emprego rapidamente, indo para o barzinho que tinha combinado.
         
Encontrou um bom lugar para se sentar, perto da janela, não muito no fundo e nem perto da porta. Não tinha muita gente, apenas dois homens que estavam sentado à frente dele conversando, uma conversa que chamou a atenção. Não que fosse curioso, mas ouviu o nome de Milena, mais ainda, verdades que o deixaram consternado.
         
- Meu pai está me cobrando para conquistar a Milena, filha de Pedro Alcântara, o dono da Sílfide Cosméticos. Comecei denunciando o cara que estava na festa com ela. Um cara que não tem jeito de homem rico. Tenho a visitado, tentando deixá-la atraída por mim. Meu pai quer a grana daquela família, aplicar um golpe. Estamos à beira da falência – dizia isso já ficando bêbado.
         
Paulo não acreditou no que ouviu, parecia delírio da sua mente, uma pegadinha de mau gosto, mas era verdade. As informações ali narradas se encaixavam com os acontecimentos de quando ele foi expulso da festa. Milena corria perigo. Ela não poderia cair na lábia desse cafajeste. Ainda mais que ele a amava de verdade, não por interesse, não pelo dinheiro que tinha, mas pelo o que ela era. Não iria permitir que um aventureiro acabasse com a sua amada, já bastava Diogo, o modelo mais famoso do país e nos Estados Unidos, tratá-la como uma cachorra.
         
Tomou uma atitude, saiu do estabelecimento e esperou Milena na entrada.
         
No demorou muito tempo, ela surgiu logo na esquina se aproximando. Ao ver Paulo na porta, agilizou seus passos, indo ao encontro dele. Antes que pudesse cumprimentá-lo, percebeu algo de errado, o rosto demonstrava preocupação.
         
- Paulo, você está bem?
         
- Você acredita em mim?
         
- Por que esta pergunta agora?
         
- Por favor, acredita ou não? – perguntou tenso.
         
- Acredito – respondeu não entendendo o que se passava.
         
Paulo suspirou aliviado.
         
- Sabe aquele dia na festa de seus pais que fui expulso, pois descobriram que eu era penetra?
         
- Sim. Me lembro.
         
- Já se perguntou como descobriram?
         
- Nem passou pela minha cabeça.
         
- Venha comigo.
         
Ele pegou na mão dela gentilmente, levando-a para dentro, indo para um lugar afastado daqueles rapazes que tinha ouvido toda a verdade.
         
- Discretamente, Milena, olha para aquele lado, perto da janela.
         
Ela fez o que ele pedira, ficando surpresa. Geraldo estava no mesmo barzinho.
         
- É o Geraldo. O rapaz que me apoiou quando fiquei triste na festa. O que você está querendo me dizer? – perguntou confusa.
         
- Eu escutei a conversa dele com o seu amigo. Ele disse que o seu objetivo é te conquistar e roubar a fortuna dos seus pais.
         
- Você não pode estar falando sério – disse incrédula.
         
- Quem dera.
         
Parecia impossível. Geraldo tinha sido tão amigo naquele dia, consolando-a do que havia acontecido. Então a ficha caiu. Era óbvio. O desgraçado aparecera logo após Paulo ser expulso, além de ir visitá-la todos os dias em casa. Tudo fazia sentido. Uma angústia queria tomar conta dela. Infelizmente, só atraía homens errados.
         
- Por favor, me leve para outro lugar, Paulo. – Uma angústia começava a tomar conta dentro de seu coração.
         
Paulo fez o que ela desejava, deixando o bar.
         
Enquanto caminhavam na rua, Milena ficou sem chão. Já tivera a cota de decepções o suficiente. Primeiro Diogo, em seguida o pai e, agora, Geraldo. Queria morrer por ser tratada apenas como um utensílio para alcançar as ambições de outras pessoas. Ninguém a enxergava de verdade, a mulher que realmente era. Ao constatar essas evidências, uma dor a corroeu por dentro, dilacerando-a. Chorou outra vez como todas as vezes, indefesa e desarmada.
         
Paulo não suportou presenciar o estado em que Milena se encontrava. Nenhuma mulher merecia passar por uma situação tão lamentável. Ele a abraçou, conduzindo-a até uma pracinha. Avistou um banco e eles se sentaram. Não disse nada, permaneceu em silêncio, permitindo que a sua amada desabafasse. Há certos momentos que as palavras são ineficazes em alguns instantes da vida.
         
Quando Milena deu uma trégua para o seu sofrimento, Paulo a consolou:
         
- Não fique assim. Não deixe que pessoas te abatam.
         
- Como? Se elas só me veem como mercadoria? Diogo me via assim, meu pai me vê desse jeito e Geraldo a mesma coisa.
         
- Diogo e Geraldo são compreensíveis, mas o seu pai? – perguntou surpreso.
         
- Sim. Diogo veio a minha casa hoje de manhã. Ele quis pedir desculpas.
         
- Sério? – perguntou não pondo crédito que Diogo pudesse fazer algo desse tipo.
         
- Até eu não acreditei, mas ele foi totalmente sincero. Disse que nunca me amou e estava por interesse pelo patrocínio milionário do meu pai.
         
- Ele foi muito baixo.
         
- Concordo. Mais o pior não foi só isso.
         
- O que?
         
- Meu pai sabia que Diogo me traía com várias mulheres, ameaçando-o, se caso não casasse comigo, perdendo o patrocínio que ele havia prometido. Ainda pediu que meu ex-namorado desistisse da carreira de modelo e assumisse a empresa do pai dele, assim, eu teria muito mais dinheiro.
         
- Olha, seu pai é um cretino – disse revoltado.
         
- Tem razão. Por isso que estou triste e piorou mais ainda ao saber sobre o Geraldo. Só me veem como algo para tirar vantagem.
         
- Eu não a vejo dessa forma. Vejo você como uma mulher doce, que pensa nos outros e tem uma leitura impecável.
         
- Para, não sou assim.
         
- Discordo. Você é incrível, Milena. Foi por isso que comecei a te amar.
         
Paulo declarou-se. Não conseguia mais esconder.
         
Milena ficou sem palavras. O seu melhor amigo acabara de confessar que estava apaixonado por ela.
         
- Paulo... Não sei o que dizer.
         
- Meus sentimentos não são mentirosos, não carregam uma intensão má, escondida nas sombras. Eu te amo pelo jeito que você é. Os homens com quem se relacionou, foram homens que não enxergaram a maravilha que tinham em mãos. Uma mulher de coração puro, que se importa com os outros, disposta a entregar a sua vida para ajudar as outras.
         
- Eu agradeço pela sinceridade. Nunca recebi elogios tão calorosos e carregados de amor e ternura. Mas não posso corresponder os seus sentimentos, pois não o amo. Ainda preciso superar o que aconteceu no meu último relacionamento para seguir em frente.
         
- Terei paciência.
         
- Não quero te dar falsas esperanças. Preciso organizar meus sentimentos. O amor que tenho por Diogo é recente.
         
- Fique tranquila. Continuarei sendo o seu amigo, por enquanto, pois pretendo conquistá-la. Permite?
         
- Está falando sério?
         
- Estou. Irei com calma. Não vou forçar a barra. Você é tudo na minha vida.
         
- Então autorizo. Só não garanto se vai acontecer.
         
- Se eu perceber que não dará certo, a gente continua amigos.
         
- Combinado.
         
Milena achava que não amaria mais ninguém. Tinha medo que Paulo saísse ferido. Ilusão não é algo legal, ainda mais quando se é sobre o amor. Achava loucura compactuar em ser conquistada. Mas, se acontecesse, qual era o problema? Tinha que seguir em frente. E, se Paulo fosse realmente alguém digno, não como Diogo, viveria feliz para sempre.
 
                                    ***
 
Milena armou uma estratégia para combater as investidas de Geraldo. De jeito nenhum queria dar qualquer brecha para um oportunista como ele. Um cara que estava interessado no dinheiro. A melhor coisa a se fazer foi contar aos pais as intenções da família Simões. Eles precisavam saber da ameaça que batia à porta. Daria só essa trégua ao pai, contando que alguém queria tomar o seu império. Omitiu o fato que esteve com Paulo, porque daria mais dor de cabeça. Um amigo pobretão estava fora de cogitação para uma filha que tinha o mundo aos seus pés. Queria preservá-lo, ele era a única pessoa que tinha um convívio sincero e não tóxico. Criou uma história que foi tomar uma bebida no bar com as amigas para aliviar a tristeza que sentia devido o modo como o pai dela havia a tratado, descobrindo que Geraldo estava presente, falando sobre os seus reais objetivos, sem perceber que ela estava bem ao lado.
         
Pedro, o poderoso magnata, dono de uma indústria muito bem sucedida, ao ouvir o relato que era dito, num primeiro momento, achou que a filha tivesse escutado errado as falas do rapaz, entretanto, como era um ser vivido, experiente nos negócios e vacinado contra as ações de qualquer pessoa que tivesse interesse, ficou com a pulga atrás da orelha. Como era um homem precavido, precisava saber a verdade.
         
Com o dinheiro que tinha, usou os meios necessários para descobrir a verdade. Ao constatar que Dagoberto Simões, dono de uma das melhoras metalúrgicas do país estava a beira da falência, seu radar acionou, sentindo uma raiva voraz. Aquele canalha queria aplicar um golpe. Ele iria pagar. Ninguém cantava de gaiato nas suas finanças. Lutara para chegar aonde estava, batalhando de sol a sol para ter uma indústria que tinha peso no mercado. Não daria de mão beijada para qualquer vagabundo o seu suor.
         
Numa reunião com Milena e Cornélia explanou seu plano contra os trambiqueiros que queriam se apossar da suas riquezas. O plano era bem simples, uma ligação direta desmascarando o meliante.
 
                                     ***
 
Dagoberto tomava o seu café da manhã sozinho, de um modo tenso. Estava tão aflito que nem conversou com a esposa e o filho. Recebera notícias que mais da metade dos investidores abandonaram a metalúrgica. Uma catástrofe terrível. No começo, um e outro desistiram de injetar dinheiro enquanto outros acreditavam que haveria uma reviravolta. Entretanto, tempo e falta resolução de um problema pode ser o pior inimigo de um homem, principalmente para um homem que já não tinha tantos recursos.
         
Entrou em negociação com o governo para poder dar um jeito nas dívidas, mas a resposta era mais do que clara, não teria o apoio.
         
O Grupo Simões sempre tinha sido um exemplo para os empresários do ramo, onde a excelência na administração era impecável, desde o início de sua fundação; fundado por Evandro Simões, pai de Dagoberto, um homem com faro apurado para os negócios. Seria uma vergonha quando o mercado soubesse que o filho jogara todo esforço de uma pessoa na lata do lixo.
         
Precisava dar outra prensa no seu filho Geraldo. Ele estava sendo um banana. Onde já se viu não conseguir conquistar uma mulher? Era só uns flertes ali e aqui, um chamego, concordar com tudo que o sexo oposto dizia, dar presentes e pronto. Rebeca, sua esposa, fora conquistada dessa maneira.
         
O celular dele tocou. Dagoberto tirou do bolso e olhou na tela: Pedro, o dono da Sílfide Cosméticos, estava ligando. Um sorriso perpassou em seus lábios. E se dissesse que o filho dele estava interessado em Milena? Ele era ambicioso também. Nunca escondera isso. Um casamento para unir as famílias era muito mais que interessante, era dinheiro jorrando solto.
         
- Pedro, qual é a honra da sua visita? – disse ao atender o celular.
         
- Nenhuma, na verdade – respondeu sério.
         
Dagoberto percebeu pelo o tom de voz que havia algo de errado.
         
- Aconteceu alguma coisa? Você está esquisito.
         
- Sim, aconteceu. Estou com muita raiva de um amigo que me traiu.
         
- Do que é que você está falando?
         
- Estou falando de usar o seu filho para roubar a minha fortuna! Se acha que vou dar a minha filha para casar com uma família que quer afanar tudo que construí, está redondamente enganado! Nunca vou me unir a uma família trambiqueira! – vociferou.
         
Dagoberto estarreceu. O plano foi descoberto. Nunca poderia aplicar um golpe, pondo Geraldo dentro da Sílfide Cosméticos e armando uma cilada para roubá-lo. O pior que não tinha como contra argumentar.
         
- De onde tirou essa doideira? – O único jeito era disfarçar e negar.
         
- Você sabe que com dinheiro pode fazer Marte ser um planeta habitável! Usei os meus meios! Já sei que está à beira da falência!
         
O outro lado da linha ficou mudo.
         
- Viu? – Pedro regozijou. – Ficou em silêncio. Aproveite os momentos finais de ser rico. A pobreza o aguarda. Vou adorar vê-lo tomando ônibus e ter quer trabalhar com um emprego de um salário mínimo – zombou. – Você cresceu no luxo, nunca foi acostumado a batalhar. Não vai consegui sobreviver.
         
Pedro gargalhou.
         
- Passar bem.
         
A ligação ficou muda.
         
Dagoberto suou frio. Estava condenado. A lama o esperava de braços abertos. Furioso começou a arremessar toda a refeição do café da manhã que estava sobre a mesa no chão.
         
Geraldo e a mãe ficaram assustados ao verem uma atitude tão repentina assim, questionando-o o porquê de agir desta maneira. Então souberam da verdade. Os três estavam fadados à miséria.
 
                                    ***
 
Mais tarde em seu quarto, Milena lia um bom livro chamado A Droga da Obediência de Pedro Bandeira, mas os seus pensamentos voltaram para o que Paulo tinha dito, que a amava, dificultando a prosseguir na leitura. Jamais imaginou que o melhor amigo pudesse se declarar, achando algo totalmente inesperado.
         
Não negava que queria ser amada novamente. Gostaria de um homem ao seu lado que a compreendesse de verdade, e a tratasse como realmente merecia. Ainda não conseguia tirar Diogo da sua cabeça, nutria uma paixão por ele, entretanto, os dois seguiram em frente, terminando o relacionado.
         
O que teria demais se apaixonar por Paulo? Apenas tinha que esperar que o coração pudesse esfriar os sentimentos pelo ex, abrindo-se para uma nova pessoa. Almejava que quando se envolvesse emocionalmente de novo, fosse para ser feliz.
         
Milena não imaginou que tiraria a sorte de grande de namorar Paulo, mais para frente, pois esse homem só daria orgulho.

Pedaço de Mau CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora