Capítulo 17

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Decepção era a palavra exata que José Roberto Guimarães sentia naquele momento ao saber da resposta negativa do filho. O certo seria a prole assumir o lugar dos pais e continuar os negócios da família como sempre tinha acontecido. Infelizmente, não havia o que fazer.
         
Ele não entendia o porquê da rejeição dele, sendo que tinha feito de tudo para que houvesse o maior conforto possível para o seu herdeiro, pagando escolas caríssimas, melhor ainda, o apoiara na ideia de ser modelo, dando grandes resultados. Agora, seria o momento da retribuição.
         
José Roberto havia fundando a TecnoFuture em 1980, uma empresa que começou pequena que, aos poucos, teve um fôlego enorme e, logo no primeiro ano, já tinha um faturamento de um milhão de dólares. Como o próprio nome do empreendimento dizia, era uma empresa relacionada à tecnologia. Ele havia aproveitado o momento em que grandes empresas, como por exemplo, a Microsoft, estavam desenvolvendo computadores, para entrar no ramo. A TecnoFuture fora uma das pioneiras a reproduzir computadores de qualidade no Brasil. Com o passar dos anos, do computador, para os telefones celulares, MP3, tablets e, nos dias atuais, smartphones. Também, havia um novo projeto para a criação de inteligência artificial. Em 2020, José Roberto tinha um ótimo prestígio nacional e internacional.
         
Durante 40 anos, esse homem havia dedicado-se de uma maneira ferrenha, a criar quantias e mais quantias de dinheiro. Nos anos 80, com 19 anos, o rapaz sonhador trazia à realidade sua fascinação por coisas tecnológicas ao um campo inimaginável. O Brasil tinha orgulho dele.
         
Então nesses dias de trabalho árduo, em 6 de fevereiro, o empresário sentiu uma tontura e um mal-estar, indo para o médico e fez alguns exames, sendo diagnosticado com leucemia mielogênica aguda, uma doença séria. Ele pesquisara que havia cura, mesmo assim, a chance de morrer era enorme e, enquanto fizesse o tratamento, gostaria que o filho prosseguisse nos negócios até ele ter uma melhora.
         
O mais difícil não fora receber o diagnóstico, fora a reação da esposa quando escutou as notícias.
         
- Não é possível, Roberto. – Isabel sempre chamava o marido pelo segundo nome quando havia algo de errado entre os dois. – Nesta altura da vida? Sem você comandando nosso patrimônio, iremos a falência.
         
- Isabel, não exagera. Temos dois bilhões na conta e os nosso patrimônio chegam a 900 milhões de dólares em valores em ações no mercado. Não seja exagerada.
         
- Eu não quero perder o homem que ficou rico muito jovem e tirou a sua namorada de um boteco ridículo aguentando um monte de gente bêbada.
         
- Por isso, farei o tratamento e pedirei que o nosso filho assuma TecnoFuture enquanto me recupero.
         
- Aquele rapaz precisa mesmo de algo útil para fazer na vida. Ficar desfilando como uma dondoca não traz benefício a ninguém.
         
- Talvez, ele não aceite. É rico e tem uma rixa conosco.
         
- Ele terá que aceitar! – ela disse enfaticamente.
         
Entretanto, Diogo tinha dado seu veredicto, não iria ser responsável por nada que fosse da família. Ainda bem que existia o plano B.

                                 ***

Gustavo corria na esteira da academia, cuidando do corpo enquanto o suor escorria sobre a sua pele como uma cascata. Adorava exercitar-se, deixando-o vivo, mais preparado e disposto para fazer qualquer atividade diária durante o dia. Logo após o treino, regado também, a muita musculação, foi até o vestiário para tomar banho.
         
Quando a água do chuveiro caiu sobre ele, fora como um bálsamo, relaxando o corpo e fazendo-o ficar mais disposto ainda. Depois se trocou, pondo um terno Armani que estava no armário, assim como, pegou a pasta preta, indo embora da academia.
         
Ao adentrar no carro, o celular tocou. Era José Roberto Guimarães quem ligava.
         
- Alô?
         
- Gustavo, sou eu. O Sr. Guimarães. Tudo bem?
         
- Tudo.
         
- Tem como você vir para a empresa um pouco mais cedo do que o habitual?
         
- Por incrível que pareça, eu ia mais cedo mesmo.
         
- Que bom. Então eu te aguardo no meu escritório.
         
- Tudo bem.
         
- Até daqui a pouco.
         
- Até.
         
José Guimarães terminou a ligação.
         
Gustavo sorriu no canto dos lábios, pois ele já sabia o que era.
         
O prédio da TecnoFuture era feito de aço e vidro da cor azul, uma arquitetura moderna e luxuosa que erguia-se na Avenida Juscelino Kubistchek na capital Paulista, uma construção que exibia toda a riqueza e o poder que a empresa tinha.
         
O automóvel de Gustavo entrou no estacionamento gigantesco que havia no prédio, pondo numa vaga e fechando a porta atrás de si. Em sequência, ele andou até a entrada onde havia um saguão moderno com um balcão enorme da recepção. Dirigiu-se ao elevador que apitou quando chegou, entrando e encaminhando-se ao andar respectivo.
         
O andar da presidência dava inveja a qualquer um, muito bem decorado e um enorme telão de última geração passava o endomarketing da empresa para que qualquer um pudesse ver, cheio de informativos sobre reuniões, como também, passava um histórico sobre a fundação daquele lugar.
         
Gustavo não precisava avisar à recepcionista sobre a sua conversa que teria com o poderoso magnata, afinal, trabalhava ali há muito tempo como um dos acionistas. Tudo bem que detinha 10 por cento da fatia, mas fora por merecimento ao ter um bom desempenho desde que tivera sua carteira registrada pela primeira vez, graças a uma política de meritocracia onde o funcionário poderia ganhar mais status se cooperasse para o melhor desenvolvimento da empresa.
         
Ele entrou no escritório do homem que tinha 80 porcento das ações de cada parte daquele âmbito.
         
José Roberto Guimarães estava sentado na sua poltrona de couro branco o aguardando enquanto a esposa ficava ao lado dele, sentada em outra poltrona. O acionista percebeu a expressão abatida que o empresário transmitia, sabendo que era a doença que começava a castigá-lo.
         
- Gustavo! – ele saudou. – Que bom que veio.
         
- José Roberto, imagina – falou dando um aperto de mão. – Senhora Guimarães, prazer em vê-la também.
         
- O prazer é todo meu.
         
- Por favor, sente-se – o Sr. Guimarães pediu.
         
- Obrigado – ele agradeceu à medida que tomava assento numa outra poltrona.
         
- Como você já deve saber, eu estou doente e precisarei me ausentar.
         
- Sim. Você disse isso na última reunião. O seu filho resolveu assumir à TecnoFuture?
         
- Ele não quis – José Roberto respondeu insatisfeito.
         
- Uma pena. Os filhos devem ficar no lugar dos pais quando se trata de negócios.
         
- Exato.
         
- Então imagino que já tenha a sua decisão.
         
- Sim, Gustavo. Eu conversei, anteriormente, contigo, sobre a possibilidade de ser o presidente da empresa na minha ausência, caso Diogo não quisesse.
         
- É lamentável isso. Um filho ingrato. Lutamos para que ele pudesse ter a melhor educação e sempre teve de tudo, virando as costas para nós – Isabela reclamou.
         
- Eu entendo, Sra. Guimarães – Gustavo disse em solidariedade.
         
- Você assumirá a presidência, Gustavo – José Roberto disse.
         
- Obrigado. Não o decepcionarei.
         
- Eu sei. É competente. Bom, está definido. Pedirei para que façam os papéis para que possa exercer as suas funções.
         
- Ficarei no aguardo.
         
- Assim que tudo estiver resolvido, aquela cadeira ali na frente será sua – disse apontado para ela.
         
Gustavo saiu do escritório comemorando por dentro, o plano estava dando certo.

                                ***

A Mansão Albuquerque era uma bela construção luxuosa, com uma piscina maravilhosa que tinha uma pequena cachoeira artificial, sendo um eterno giro de reaproveitamento, para que não houvesse muito consumo de água na piscina. Ao lado, a quadra de tênis exibia-se, pronta para ser usada a qualquer hora do dia. Sem contar, por dentro da bela construção que, abrigava um belo rapaz, de porte atlético, pele branca, cabelos pretos, olhos castanhos e dentes brancos.
         
Ele chamava-se Samuel Albuquerque, o único morador daquele esplendoroso lugar, cercado por seus funcionários que cuidavam de cada canto daquela bela construção.
         
No escritório, onde havia uma bela estante forrada de livros, o rapaz bilionário, via alguns gráficos de suas ações na bolsa de valores, satisfeito com o belo resultado. A fortuna crescia consideravelmente e a reputação da empresa mais ainda.
         
Uma batida na porta ressoou.
         
- Quem é? – perguntou.
         
- Sou eu, Cristiano.
         
- Entre.
         
Cristiano era um homem que tinha 65 anos de idade, elegante e que sabia tudo o que acontecia ali dentro, afinal, a profissão de mordomo tinha seus certos privilégios.
         
- Com licença, Sr. Albuquerque. Chegou uma visita.
         
- Quem seria?
         
- Gustavo.
         
- Ótimo. Diga a ele que estou à caminho.
         
- Sim, senhor.
         
O mordomo saiu do escritório.
         
Samuel deu uma última olhada no computador e depois dirigiu-se até a sala de estar.
         
Gustavo estava de pé, admirando os objetos e os quadros caríssimos que pendiam nas paredes como num museu, jogando na cara de qualquer um que entrasse ali que, o dono da casa tinha muita grana.
         
- Gustavo. O que devo a honra da sua visita?
         
- Trago boas notícias.
         
- Isso é perfeito! – sorriu maliciosamente. – Gostaria de uma bebida?
         
- Por favor.
         
Havia uma pequena mesa onde estavam postas garrafas de bebidas. Samuel serviu-se e ao seu comparsa de uma boa dose de uísque com gelo duplo. Ambos sentaram-se no sofá para terem a conversa.
         
- Então me diga quais são as boas novas? – Samuel perguntou.
         
- Fui chamado para ser o presidente da TecnoFuture.
         
Samuel gargalhou, fazendo os pelos da nuca de Gustavo se arrepiarem. Era uma risada maldosa, cheia de um prazer obscuro.
         
- Perfeito! – rejubilou. – Isso é música para os meus ouvidos! Então Diogo não quis aceitar o cargo.
         
- Sim.
         
- É um idiota, mesmo. Mas eu já sabia que ele rejeitaria. Sempre foi um homem mimado. Deve estar se estrebuchando ao saber que a sua foto de traição está espalhada por todo o país. Agora, Diogo não terá o patrocínio do sogro e nem a tonta da namorada.
         
- E quando você tomará a empresa das mãos da família Guimarães? – Gustavo perguntou.
         
- Assim que os papéis da sua assinatura para a presidência foram trocados. Providenciarei isso. Tenho que confessar que você tem feito um ótimo trabalho.
         
- Imagina. Fiz o meu serviço.
         
- Sei que demorou bastante tempo para que conseguisse o respeito do velho, ainda mais, subir de cargo. Quando tudo estiver nos conformes, terá a sua recompensa.
         
- Posso te fazer uma pergunta?
         
- Claro – disse sorrindo.
         
- Por que quer destruí-los?
         
- Vingança, meu caro. José Roberto tirou tudo da minha família. Agora, eu tirarei tudo dele.
         
A frieza daquelas palavras fez Gustavo ficar desconfortável. Samuel transmitia um ódio tão profundo no olhar quando falava sobre a família Guimarães, algo doentio e sombrio. Nunca havia visto um homem tão ameaçador quanto ele.
         
- Ainda não terminei de pôr o plano em ação. Diogo sofrerá como eu sofri. Tirarei as coisas que mais ama. Rastejará na miséria enquanto vê os pais na sarjeta e o pai dele morrendo a cada dia sem pagar um tratamento adequado. Essa doença foi um milagre dos céus.
         
Samuel gargalhou novamente, rindo da desgraça que iria causar, ansioso e contando as horas que esmagaria seus adversários sem dó e nem piedade, não sobrando nada para contar a história.
         
Mais tarde, quando Gustavo foi embora. Ele foi para o quarto onde uma mulher esperava-o deitada na cama. Maria, a mesma que fora ao restaurante falar com o paparazzi, ou melhor, Isadora, a filha da emprega presa injustamente, envolta no lençol de seda, excitada para tê-lo em seus braços. Ambos, amavam-se, de um jeito maluco e ardente, unidos pelo o mesmo objetivo, destruir aqueles que o fizeram sofrer.
         
Samuel tirou a roupa, mergulhando-se num êxtase profundo com ela, saciando seus desejos mais vorazes e perigosos enquanto ela deliciava-se num puro delírio.

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