Capítulo 10

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                                Diogo

Deitado, dentro da minha barraca, eu não via a hora de colocar a aposta em ação. Aquela garota iria ver que ninguém poderia resistir ao bonitão aqui. Os holofotes, a fama, o prestígio e estar por cima de tudo sempre fora o norte que me guiara, principalmente, o dinheiro, muito mais que bem-vindo. Uma esposa que nunca pediria o divórcio e uma aliada inseparável.
         
A indignação de não ser notado e visto ainda ardia como fogo, jamais alguém havia me ignorado dessa forma e, jurei para mim mesmo, que seria a última vez. Todas as mulheres caíam no meu encanto, neste corpo irresistível construído a dose de muita musculação na academia, recebendo uma alimentação saudável e seguindo às recomendações do personal trainer sem questionar, para garantir um resultado perfeito.
         
Júlia cederia aos meu encantos, com certeza!
         
No dia seguinte, acordei cedo. Sentei em um dos banquinhos que ficava do lado de fora, tomando o café da manhã enquanto observava a barraca delas, esperando qualquer movimento. Castro, ao se juntar a mim, percebeu que eu não parava de ficar olhando.
         
- Você, realmente, não desistiu desta ideia maluca. - Ele falou.
         
- Bom dia pra você também, Castro – disse zoando. – Não esqueça que temos uma aposta.
         
- Se quiser, ainda dá tempo de parar.
         
- Vou até o final.
         
Ele suspirou.
         
- Pois bem, já que é assim... Farei um lanche, estou faminto – encerrando o assunto.
         
Júlia deu sinal de vida lá para às 10:00 da manhã, saindo da barraca e seguida pela sua amiga Gabrielle que já abria a caixa térmica para comer alguma coisa. Enquanto as duas se alimentavam, riam uma para outra, conversando algo que deveria ser bem engraçado.
         
Depois disso, resolveram dar uma volta. Entrei em ação logo em seguida, indo atrás delas. Ao me distanciar da minha barraca, virei-me para Castro e perguntei:
         
- Você vem?
         
Ele deu os ombros, seguindo-me.
         
Ficamos a uma boa distância para não sermos percebidos, andando de devagar e observando a minha presa vagarosamente como uma serpente aguardando o melhor momento para o bote.
         
Chegamos à cachoeira.
         
As duas se sentaram nas pedras para molhar os pés. Não quis ainda avançar. Permaneci por entre às árvores esperando a hora perfeita. Castro, enquanto isso, sentou no chão encostando as costas contra um tronco, entediado. Ele estava insatisfeito de ficar ali presenciando-me agir como um leão no meio da savana. Não liguei muito. O que importava era o prêmio que conquistaria.
         
Gabrielle levantou-se de repente, dizendo algumas palavras para a Júlia e retirou a sua roupa da parte de cima ficando apenas de sutiã. Logo em seguida, ela olhou novamente a amiga dando risada. Então, minha adorável garota a imitou também, despindo-se e ambas foram para às águas daquela cachoeira.
         
Esperei mais um pouco antes de agir. Precisava analisar a situação e, no momento certo, tomar a iniciativa.
         
Elas brincavam, felizes ali.
         
Um grupo que se divertia também naquele lugar, saltando de uma pedra para mergulhar na cachoeira, as convidou para que fizessem parte da brincadeira. Júlia e Gabrielle foram sem pensar duas vezes.
         
Percebi que Júlia estava agindo diferente da sua amiga. Enquanto Gabrielle se divertia adoidado se arremessando de uma pedra, a minha garota da aposta se comportava como não querendo se enturmar. Ela ficava na dela, olhando o povo brincar, rir e conversar, dirigindo poucos palavras aos outros. A oportunidade era perfeita, entrar na água e fazê-la se sentir mais vontade, angariando pontos e perfurando aquele coraçãozinho duro como uma rocha.
         
- Castro – o chamei.
         
- Oi – ele falou ainda entediado.
         
- Chegou a hora, vou entrar na água.
         
- Tudo bem - levantando-se do chão.
         
E eu ele fomos até a cachoeira. Tirei a camisa enquanto ele voltava a se sentar, mas desta vez, sobre a pedra da margem. Júlia olhou para mim ficando horrorizada ao ver-me, como resposta, sorri o mais perfeitamente possível adentrando naquela água maravilhosa.
         
A cada passo que eu andava o desconforto dela era enorme; não entendia o porquê desta reação, deixando-me mais intrigado, nenhuma mulher tinha agido dessa forma comigo.
         
- Olá, Júlia. Tudo bem? – perguntei o mais gentil possível.
         
Fiquei sem a resposta dela, encarando-me como se eu fosse um monstro.
         
-  A água está maravilhosa – continuei falando e ignorando o seu silêncio.
         
- Com licença, vou sair um pouco da cachoeira.
         
De jeito nenhum a permitiria sair dali, bloqueando a passagem dela de um modo educado.
         
- Para aonde vai? Fiz alguma coisa errada? – perguntei numa voz amigável.
         
- Não, nada. É que já estou a um certo tempo e gostaria de dar uma parada.
         
- Diogo! – Gabrielle exclamou empolgada.
         
A tiete doida aparecera. Como estava grato por ela surgir assim, de repente. Ficaria mais difícil Júlia querer fugir da minha presença.
         
- Se não é a minha fã adorável – a elogiei sorrindo.
         
- Você gostaria de participar com o pessoal daqui da nossa brincadeirinha?
         
Perfeito!  Júlia não poderia recusar, ficando mais presa ainda na minha teia que eu tecia cuidadosamente.
         
- Claro – respondi alegre.
         
- Ótimo – o tom de Gabrielle era de satisfação.
         
Júlia transmitia uma frustração que exalava nitidamente por cada parte do corpo dela, beirando numa irritação que, a cada instante, fazia-me questionar se, de fato, havia algo por trás de suas reações. Me perguntando se conseguiria conquistá-la, mas pelo jeito, teria que usar muita munição para perfurar aquela rocha.
         
Segui Gabrielle até o pessoal que se jogava na água daquela pedra tão alta curtindo aquele dia maravilhoso. Fui recepcionado com uma empolgação tão grande, ainda mais que algumas garotas reconheceram-me, ficando agitadas e exigindo a minha atenção. Era tão bom ser ovacionado, paparicado e visto. Não tinha preço.
         
Subi na pedra, preparando-me para o salto, pondo em prática as aulas de natação. Respirei fundo e pulei.
         
Aplausos e vivas reverberavam naquele lugar quando eu saí debaixo d'água.
         
Olhei para os lados e vi Júlia observando com desprezo. Comecei a ficar de mau-humor. Oh garota difícil!
         
Saltei mais de uma vez enquanto ela se mantinha distante, receosa de encarar àquela brincadeira e fazer parte do grupo, assim como, os pensamentos que estavam em outro lugar. Já sabia como poderia derretê-la bem devagar.
         
Aproximei-me dela.
         
- Júlia?
         
- O que foi? – falou grosseiramente, surpreendendo-me com tamanha agressividade que fiquei preocupado que ela me batesse.
         
- Calma. Por que está tão alarmada? – questionei.
         
- Nada... – tentando contornar a situação para disfarçar a fúria que sentia.
         
- Tem certeza? - sondei-a com cuidado.
         
- Sim.
         
- Perfeito!
         
Agarrei-a, puxando-a gentilmente em direção ao grupo.
         
- O que você está fazendo? – gritou tentando desvencilhar de mim.
         
Ah, Júlia! Eu vou te amansar que nem boi no pasto! Ah, se vou! Mostrarei o poder de um homem quando quer seduzir uma mulher. Seria o cara mais galante. Agora que sabia um pouco dela, só por observá-la, faria o papel de amigo incentivando-a se enturmar e ter um motivo para curtir esse momento tão magnífico.
         
- Pessoal! – chamei a atenção de todos. - A moça disse aqui que vai tentar!
         
A turma ficou toda alvoroçada aplaudindo.
         
Júlia, inutilmente, lutou para me impedir. Estávamos sobre a pedra.
         
- Você é idiota?! – esbravejou.
         
Minha resposta foi uma risada mais que gostosa.
         
- Qual é a graça?
         
- Do seu comportamento – respondi.
         
- Você não tem nada haver com isso – revidou.
         
- Realmente, não tenho. Porém, todo mundo está se divertindo enquanto você fica se isolando por medo, tem que aproveitar as oportunidades que a vida dá.
         
Joguei a semente. Eu precisava aparentar o bom moço, o cara que apenas quer ajudar.
         
Ela olhou para todos, receosa e, depois para a altura que se encontrava, ficando vulnerável, fazendo-a perder o equilibro e ela me agarrou fortemente e me encarou por alguns instantes. Nossos corpos colaram-se um no outro como naqueles filmes de romance.
          
- Pode me soltar, por favor? – perguntou ríspida.
          
- Relaxa, Júlia – falei liberando-a. – Não mordo, não. É só dar um salto e pronto.
          
- Não estou tão certa de fazer isso.
          
- Olhe para mim.
         
Ela me obedeceu.
         
- Desde que cheguei aqui, vi que você se fecha em si mesma. Uma pessoa que não tem a força necessária para encarar esse momento que, talvez, não haverá de novo.
         
Aquelas palavras fizeram-na refletir por alguns instantes e, em sequência, olhou para mim de um modo desafiador.
         
- Vou provar que as suas palavras são completamente incorretas.
         
Então saltou.
         
Uma enorme satisfação apoderou-se de mim. Mesmo que ela dissesse que as minhas palavras não eram as mais corretas, eu tinha pegado na ferida e estourado que nem uma espinha cheia de pus.
         
Quando ela emergiu da água, direcionou seu olhar de desprezo para mim, arrancando meu sorriso. Merda! O tiro saíra pela culatra. O objetivo era dizer suas fraquezas como um modo de encorajá-la e, não deixá-la mais furiosa do que já estava, ganhando pontos.
         
Que inferno! Essa garota era de onde? De Marte?! Do raio que o parta?! Nenhuma mulher do sexo feminino poderia ser tão dura e resistente como ela! Não era possível!
         
Júlia saiu da cachoeira e foi embora.
         
Isso não ficaria assim ou não me chamava Diogo Rodrigues Guimarães!

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