Capítulo 26

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Paulo fora muito mais que um ombro amigo, um perfeito consolador. Ele ouvira todas as queixas da garota que mais amava sobre a traição do namorado dela, amparando-a de um jeito educado, respeitoso e dizendo palavras de conforto enquanto estavam sentados na recepção do orfanato. Desta vez, quem precisava de ajuda não eram as crianças sem famílias, mas uma mulher boa que não tivera seus sentimentos correspondidos.

Milena sentia-se perdida. Depositara todo amor num homem que não dava a mínima, apenas ganhara uma coleção de chifres na testa e um selo de otária. Parecia que o coração iria explodir de tanta mágoa. Estava grata pelo seu amigo participar daquele momento tão difícil.

Diogo merecia sofrer da mesma maneira, ser rejeitado e pisado como ela, entretanto, retirou esses pensamentos da mente, pois se desejasse isso, seria pior do que o ex.

Agora, como Milena tinha passado os últimos dias trancada no quarto, lamentando-se do infortúnio, uma gratidão surgiu, feliz por Paulo, seu admirador que nutria uma paixão secreta por ela. Reconheceu que era uma boa pessoa, mas não queria se envolver, no momento. Continuaria indo ao orfanato e cuidaria dos órfãos para esquecer toda aquela dor, entretanto, não estava tendo muita vontade de ir, pois um desânimo e uma angústia tomavam conta.

- Filha! - chamou Cornélia, interrompendo os devaneios dela. - Até quando ficará de luto por um cafajeste?

- Mãe, deixe-me quieta, por favor.

- De jeito nenhum - descordou e abriu as cortinas com brutalidade, vindo uma claridade abrupta naquela recinto, incomodando os olhos de Milena.

- Fala, sério! - reclamou.

- Sua fase de luto acabou. Não criei você para ficar remoendo um relacionamento fracassado. Aconteceu. Não há mais nada o que possa ser feito. O mundo continua.

- Eu o amava tanto.

- Falou bem, amava. Passado enterrado e jogado lixo. Vamos, levanta da cama. Não suporto vê-la assim.

- Eu sei. Me desculpe.

- Só desculpo se voltar a viver.

- Tá bom.

- Ótimo. Assim você poderá me ajudar em algo.

- Ajudar em quê?

- Daremos uma festa na mansão para os amigos de negócios do seu pai. Será um evento que abalará o quarteirão.

- Já deu preguiça, prefiro ficar aqui.

- Não, senhora. Desencosta o corpinho daí.

Milena levantou da cama relutante.

- Perfeito. Vai tomar um banho. Vamos até uma produtora de eventos, quero que tudo saia glamouroso.

- Tô indo.

- Te espero lá embaixo.

Cornélia sorriu e saiu do quarto toda vitoriosa.

Milena tomou banho, trazendo vida para o corpo dela que ficara encolhida na cama por alguns dias, concordando com todas as palavras de sua mãe. Precisava viver e não se esconder debaixo das cobertas. Diogo que se explodisse.

Após sair do chuveiro, colocou a sua melhor roupa e desceu as escadas da mansão, indo até a sala de estar onde Cornélia a aguardava.

- Pedi a Clotilde que fizesse um lanche pra você, não sei quanto tempo ficaremos fora.

- Tudo bem.

Na sala de jantar, a mesa já estava preparada com um copo de suco de melancia, pão com ricota e ervas, assim como uma maça bem vermelha. Ao ver aquela comida, a barriga de Milena roncou alto, devorando a refeição.

Pedaço de Mau CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora